Em agosto de 2008, a Polícia Federal deflagrou a operação Negócio da China e prendeu diversos empresários, acusados de importação fraudulenta. Um deles foi Luigi Fernando Milone, fundador da Casa&Vídeo, uma das redes varejistas mais famosas do Rio de Janeiro. A partir daquele momento, a sobrevivência da empresa foi colocada em xeque. É que a ação resultou no bloqueio das contas bancárias, alijando-a de um de seus principais motores: as vendas a crédito, que representavam 80% da operação. Para não fechar as portas, o empresário buscou a recuperação judicial e se desfez de parte do negócio ficando apenas com as lojas localizadas nos Estados de Espírito Santo e Minas Gerais. 

 

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A tarefa de reerguer a operação fluminense ficou com Fábio Carvalho, 33 anos, que se tornou um dos donos ao lado de um grupo de credores. Procurado por DINHEIRO, Carvalho não quis falar. Nos últimos meses, a rede se transformou em alvo da cobiça. Toda semana, o presidente da companhia recebe visitas de interessados em compra ou associação. Carvalho não confirma as especulações. 

 

Contudo, interlocutores do empresário dizem que a lista inclui empresas do porte de Lojas Americanas e fundos de private equity brasileiros e estrangeiros. O valor estimado pelo mercado é de R$ 900 milhões. 

 

Entre a quase falência e a situação atual, a Casa&Vídeo passou por uma completa reformulação (leia quadro). A lista de medidas amargas incluiu a redução dos pontos de venda, a demissão de funcionários e mudanças na política de financiamento. Os números, até aqui, mostram que elas estão surtindo efeito. 

 

A expectativa é fechar o ano com receita de R$ 1,3 bilhão, 30% acima do apurado em 2009. “O principal problema da empresa era sua gestão”, diz à DINHEIRO Marcelo Gomes, presidente da filial da Alvarez&Marsal, consultoria americana responsável pela reestruturação da rede. Procurado pela reportagem, Milone, o ex-dono da empresa, não retornou as ligações. 

 

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Enquanto decide com quem ou se, realmente, vai “subir ao altar”, Carvalho começa a desenhar o futuro da companhia. Para este ano, está prevista a inauguração de mais três pontos de venda. 

 

Os recursos foram obtidos com uma operação de lançamento de R$ 40 milhões em debêntures, feita pelo banco BTG Pactual. Mas por que a Casa&Vídeo é tão cobiçada? É que desde sua fundação, em 1988, ela focou suas atenções na classe C. Para isso, abasteceu-se na China de bugigangas com forte apelo tecnológico, como telefones sem fio e joguinhos eletrônicos, além de produtos de cama, mesa e banho. Tudo vendido em suaves prestações que hoje começam em R$ 19,99. 

 

Com 64 lojas situadas nas principais áreas de comércio popular da região metropolitana do Rio, a empresa desfruta de uma posição privilegiada. “A rede funciona como uma alavanca para quem pretende ampliar sua presença ou entrar no mercado carioca”, diz Claudio Felisoni de Ângelo, coordenador-geral do Programa de Varejo da Fundação Instituto de Administração da USP. 

 

“Quem levar a Casa&Vídeo vai herdar uma marca com forte ligação com os cariocas e com um valioso cadastro de clientes”, afirma Luis Dix, professor de marketing da Universidade Anhembi Morumbi e especialista em consumo popular.

 

Carvalho, o controlador da Casa&Vídeo, sabe disso. Tanto que assumiu o negócio quando fazia parte da equipe que reorganizava suas contas. Para isso, injetou R$ 20 milhões e convenceu alguns dos credores, basicamente fornecedores, a converter parte das dívidas em ações. 

 

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Carvalho, presidente: enquanto não define se vende o negócio, a empresa

planeja inaugurar três novos pontos de venda até o fim do ano

 

A maior fatia do débito de R$ 400 milhões, no entanto, foi renegociada e será quitada em dez anos, com três anos de carência. Isso permitiu que fosse criada uma nova razão social, a Casa&Vídeo Rio de Janeiro. 

 

Apesar de a operação da Polícia Federal ter colocado a rede em apuros, Gomes, da Alvarez&Marsal, destaca que a rede varejista há muito convivia com sérios problemas. “A companhia estava inchada a tal ponto que chegou a possuir até mesmo uma agência de propaganda interna”, diz. 

 

As mudanças resultaram em uma economia de R$ 100 milhões nos custos fixos anuais. A família Milone ainda mantém, de certa forma, um pé no negócio. Recebe royalties pela cessão da marca e controla as oito lojas da “velha” Casa&Vídeo, situadas no Espírito Santo e em Minas Gerais.