Sempre lembro das palavras carinhosas de um querido amigo: César, você tem enorme capacidade de reinventar sua vida e sua carreira. Quando todos pensam que você já faz parte de certa paisagem, você reaparece no cenário seguinte.

De fato, ao longo da minha trajetória, mudei de carreira três vezes dentro da mesma empresa. Troquei a atuação, de diretor de Recursos Humanos para diretor de Planejamento Estratégico. Anos depois, iniciei carreira internacional e mudei de país, saindo do Brasil para trabalhar, primeiro em Portugal, e, logo depois, nos Estados Unidos.

Não foi por acaso. Mudança faz parte do meu DNA. A primeira grande virada na minha vida aconteceu quando eu tinha apenas 9 anos de idade. Morava com meus pais na Quinta dos Lázaros, bairro humilde de Salvador (BA). Eu era empinador de pipas de mão cheia e, por meio deste inocente divertimento, senti a primeira chama do empreendedorismo acender em minha alma, percebendo a oportunidade de criar um novo futuro para mim e minha família.

Cansado de ver todas as pipas serem feitas em apenas uma cor, resolvi inovar e produzi a primeira pipa colorida na Salvador dos anos 1960 – azul, vermelha, verde e amarela. O sucesso foi tão grande que os meninos da rua onde morava não se cansavam de tentar “cortar” e se apoderar da minha pipa. Concluí que se levasse outras pipas, além das que eu empinaria, poderia vendê-las aos vizinhos. Assim, ganhei meu primeiro dinheiro em 1961, antes de completar 10 anos de idade. Mas perdi a inocência, ou seja, deixei de ser um empinador de pipas e me transformei em um fabricante e vendedor de pipas. Cheguei a produzir e vender 250 pipas coloridas em algumas tardes.

Com a poupança advinda do negócio das pipas pude pagar, em 1963, um cursinho particular para concorrer ao exame de admissão para o Colégio de Aplicação, desejo acalentado havia certo tempo, mas distante devido às condições econômicas precárias da minha família. Consegui passar de primeira e ingressei num ambiente que marcou a minha vida. Os professores do Colégio de Aplicação vinham da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, onde o reitor, Edgard Santos, promovia reformas sem precedentes, gerando uma efervescência cultural inusitada em Salvador. O Movimento Tropicalista, Cinema Novo e várias manifestações no campo das artes são frutos desse momento peculiar, que me deu “régua e compasso” para compreender o mundo e querer transformá-lo.

Resolvi cursar Administração naquela universidade, época em que a profissão de administrador não era nem regulamentada. Ingressei em 1970. Dois anos mais tarde, eu andava pelo pátio da Faculdade de Administração, quando vi, por uma janela aberta, os professores reunidos numa sala. Eles ouviam uma palestra dada em inglês por um convidado. Não entendi metade do que ele dizia, mas fiquei impressionado com a forma como se comunicava e as reações da plateia. O professor José Osório Reis me explicou, depois, que era Igor Ansoff, reitor da Universidade Vanderbilt e criador do conceito de “Estratégia Empresarial”, algo incipiente na época. Achei aquelas ideias fantásticas e decidi que Ansoff seria meu mentor.

Porém, para fazer mestrado com aquele professor nos Estados Unidos eu precisava dominar o inglês. Então, decidi vender meu fusquinha, comprado naquele ano, em 60 prestações mensais. Com o dinheiro, viabilizei a ida para uma pequena cidade no interior do Colorado, estado norte-americano, onde fiquei três meses morando na casa de uma família participante de um programa de intercâmbio.

Hoje, percebo que troquei um carro, com o qual andava pela cidade, por um idioma, veículo que me levou para o mundo. É preciso perceber as portas abertas na nossa vida quando menos esperamos. No meu caso, mais do que uma porta, literalmente, se abriu a janela para um mundo novo.

Sempre acreditei nesses momentos mágicos e na possibilidade de criar não uma, mas diversas alternativas para renascer e viver diferentes roteiros. E aconteceu novamente em 2000, quando mudei de profissão. Tive coragem para deixar uma bem-sucedida e confortável carreira de executivo internacional e criar uma nova vida como consultor, palestrante e escritor. Assim, estou podendo ajudar diversas empresas a transformarem seus modelos de negócios.

Fiz isso também na minha vida familiar e afetiva. Também realizei esse movimento no meu mundo mais íntimo, promovendo mudanças radicais no estilo de vida para vencer o que parecia a progressão inexorável do diabetes tipo II, tipo de distúrbio que adquirimos em função de estresse, hábitos alimentares e sedentarismo impostos pela roda viva do mundo atual. Reinventei-me várias vezes, em diversos campos. Renasci!

Neste momento, inicio mais uma etapa, na certeza de que não será a última: ajudar o processo de reinvenção das empresas e a formar uma nova geração de líderes empresariais preparados para atender as exigências do presente e futuro do mundo corporativo. As velhas práticas de gestão não respondem mais aos desafios atuais. É preciso iniciar uma nova Era do Management.

O momento é propício para as empresas se reinventarem e virarem a página em direção a outro patamar, com maior chance de sucesso por maximizarem a inovação e o potencial dos líderes e gestores que nelas trabalham.

Como deixei claro na introdução do livro Você Merece uma Segunda Chance, publicado em 2018, receba esse relato pessoal como o estímulo que tanto faltava para iniciar sua reinvenção. É preciso se transformar para ser um agente da transformação que sua empresa necessita e o momento exige.

  • César Souza é o fundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia Empresarial, Desenvolvimento de Líderes e na estruturação de Innovation Hubs. Autor de “Seja o Líder que o Momento Exige”