O empresário colombiano David Vélez lançou sua fintech em 2013. A princípio, ela oferecia apenas um cartão de crédito sem tarifas, destinado a um público jovem e descolado. Quando alguém lhe perguntava sobre seus planos, o cofundador do Nubank era enigmático – mas não muito. “Nossa empresa não tem ‘bank’ no nome por acaso”, dizia ele. Oito anos depois, a maior fintech brasileira pode ser considerada um banco. Além de contas correntes e cartões de crédito, ela vende seguros, concede empréstimos e realiza pagamentos via celular. No ano passado, adquiriu a plataforma de investimentos Easynvest, que possui 1,6 milhão de clientes e cerca de R$ 25 bilhões em ativos custodiados. Ao todo são 40 milhões de clientes.

Sua principal diferença com os bancões é que o Nubank ainda não chegou ao lucro. Em 2020, a fintech contabilizou perdas de R$ 230 milhões. Porém, isso não foi considerado um problema para o mais conservador e experiente dos investidores em atividade no mundo. Na terça-feira (8) o Nubank anunciou a conclusão de sua rodada de captação mais recente. De um total de US$ 750 milhões captados, US$ 500 milhões vieram da Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett. Desde janeiro foram obtidos US$ 1,15 bilhão, maior captação feita por uma startup na América Latina.

Além de trazer mais de R$ 2,5 bilhões ao caixa, o investimento da Berkshire avalia o Nubank em pouco mais de R$ 152 bilhões, o que o coloca na quinta posição em valor de mercado no sistema financeiro brasileiro e consagra seu modelo de negócios. Durante seus primeiros anos, os bancos digitais foram considerados uma aposta arriscada no sistema financeiro. A diferença com bancos tradicionais era a promessa de agilidade e os custos menores, que tornavam os produtos mais acessíveis. A grande questão era se esse modelo seria sustentável – ou seja, rentável – no mercado bancário brasileiro, concentrado e controlado. O lucro ainda não chegou, e deve demorar, pois a fase é de crescimento. Mas, ao atrair recursos de um investidor tão conservador, o Nubank mostra que os temores do dinheiro tradicional foram, parcialmente, dissipados.

Hora de vender as ações dos bancos tradicionais e investir no Nubank? Calma, até porque o capital da fintech é fechado e está nos planos de Vélez que isso continue assim. Segundo Álvaro Bandeira, economista-chefe do Modalmais, o jogo ainda está no começo. “O Nubank está em um momento importante, mas ele não é o único. Os grandes bancos estão fazendo movimentos parecidos e têm muitos recursos para investir”, disse ele.