A economia patinou em 2018. As projeções para uma recuperação há muito tempo esperada foram derrubadas em decorrência de fatores como a greve dos caminhoneiros, ocorrida em maio, e as indefinições políticas durante a corrida eleitoral. Segundo números da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, a greve dos caminhoneiros causou um impacto negativo de R$ 15,9 bilhões, aproximadamente 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Para a Liquigás, distribuidora de gás liquefeito de petróleo da Petrobras, a revolta dos caminhoneiros também foi um fator determinante. As vendas da companhia no período de paralisação recuaram 17% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Mas a empresa soube monitorar os impactos minuciosamente para mitigar os danos. Em uma sala de gestão de crise, as informações eram atualizadas em tempo real e as conversas com outras lideranças do grupo Petrobras foram constantes. “De certa forma, a greve dos caminhoneiros serviu como um teste para nós. Não queríamos ter passado por isso, mas foi um teste para demonstrar a capacidade de reagirmos a uma contingência de mercado totalmente inesperada e não programada”, diz Luiz Fernando Marinho Nunes, presidente da Liquigás. “Assim que terminou a greve, nós conseguimos recompor rapidamente toda a nossa cadeia de abastecimento”.

Embora tenha representado uma perda momentânea, a empresa não demorou a se recuperar e comemorou uma receita de R$ 4,8 bilhões, alta de 19,7% em relação ao ano anterior; e geração de caixa de R$ 273,4 milhões, 104,5% a mais que 2017. A resiliência vista diante das incertezas fez com que a empresa conquistasse o primeiro lugar no setor de Combustível, Óleo e Gás do anuário AS MELHORES DA DINHEIRO 2019. Muito disso também é fruto da gestão espartana de Ricardo Mendes de Paula, iniciada em 29 de maio de 2017. “Nós ficamos próximo a R$ 5 bilhões de faturamento, com um crescimento de quase 20%. Isso é um esforço de toda a companhia, pela atenção que ela tem à sua rede de revendedores e à atuação no mercado de granel”, diz Marinho Nunes, que sucedeu Mendes de Paula em maio deste ano. Para se ter noção da produtividade da empresa em 2018, o lucro líquido por empregado foi de R$ 47,7 mil, 148,5% acima do resultado de um ano antes. “Fomos premiado pelo esforço conjunto da equipe de vendas nesse período difícil”, afirma.

Engana-se, porém, quem pensa que a Liquigás só deu valor à sustentabilidade financeira em 2018. A companhia também se destacou em outras vertentes. Na categoria “Inovação e Qualidade”, por exemplo, a Liquigás superou a Raízen e confirmou a primeira posição. Para atingir isso, a companhia alocou R$ 5,4 milhões de recursos na área de Tecnologia da Informação (TI). O aporte foi destinado à atualização e ampliação da infraestrutura tecnológica e à adoção de soluções para atendimento aos requisitos de negócio e aos padrões de governança e de compliance.

Luiz Fernando Marinho Nunes / Empresa: Liquigás / Cargo: Presidente / Principal realização da gestão: investir em tecnologia e valorizar os funcionários para dobrar a rentabilidade da empresa em 2018 (Crédito:Divulgação)

Também houve a mudança do Datacenter da empresa para um novo local. “Existe um grande esforço em inovação que, muitas vezes, não é aparente para o consumidor. Um exemplo disso é que desenvolvemos métodos de gestão onde a Liquigás atua em parceria com os seus 5 mil revendedores para melhorar os processos e as bases de informações. Com essa eficiência, nós conseguimos garantir que o botijão chegue em tempo adequado e com preço justo”, afirma Marinho Nunes.

Além de ser referência nos quesitos já citados, a Liquigás também se destacou em outras categorias listadas pelo prêmio. Valorizar os funcionários é o mínimo que as empresas devem fazer, e a Liquigás entende bem disso. Não à toa, a empresa mandou bem e superou a concorrência de forma disparada no quesito Recursos Humanos. Com 74,10 pontos, a empresa obteve quase que o dobro da pontuação da segunda colocada Ruff. Há ações voltadas ao bem-estar de seus 3,1 mil funcionários. O Programa Saúde e Movimento, por exemplo, envolve o mapeamento de saúde de mais de 80% do quadro laboral.

O Mamãe Liquigás, por sua vez, é um projeto que monitora a saúde e a alimentação das gestantes da empresa. Há também Programa Preventivo de Saúde, campanhas de vacinação contra gripe, de hidratação e de incentivo ao aleitamento materno. A responsabilidade social também é primordial para a empresa. A Liquigás desenvolveu um trabalho para os funcionários que tinham dificuldades para ler. “Nós fizemos um programa de elevação do nível educacional de alguns funcionários. Foi uma ação liderada pelo Ricardo e que teve grande impacto. Algumas pessoas que não conseguiam usufruir do prazer da leitura, por conta de dificuldades funcionais, já estão fazendo até curso superior”, diz Marinho Nunes.

A empresa é tida como parte estratégica para o programa de desinvestimentos da Petrobras no curto prazo. Em fevereiro de 2018, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) reprovou a compra da Liquigás pelo Grupo Ultra, detentor da Ultragaz, em uma negociação estimada em R$ 2,8 bilhões. Isso aconteceu porque, com a transação, a Ultragaz passaria a deter 45% do mercado nacional de gás de cozinha, com uma penetração ainda maior em alguns estados. Hoje, o Grupo Ultra lidera esse mercado com 23,30% de participação de mercado. A Liquigás é a segunda colocada, com 21,22%. A Petrobras não desistiu e voltou ao mercado este ano para vender a empresa novamente.

Hoje, o consórcio liderado pela Itaúsa, o fundo do Oriente Médio Mubadala e um consórcio formado pela Supergasbras, concorrente da Liquigás que é controlada pela SHV Energy, são as empresas na corrida. Questionado acerca disso, Marinho Nunes desconversa: “Esse processo está em curso, de fato. Mas nós evitamos falar sobre isso, porque ele é, de fato, um processo conduzido pela Petrobras”, afirma. “A orientação é ‘vida que segue aqui na Liquigás’. Isso não vai impactar nossos programas, planos e ações.”