Você está andando pela rua e, de repente, recebe uma notificação no celular, informando que o café à sua frente serve uma torta de chocolate deliciosa. Ou fica sabendo que a loja do outro lado da rua está com uma excelente promoção. Pode, até mesmo, conhecer a história da colonização daquele bairro ou curtir, no seu smartphone, uma galeria de fotos de uma exposição de arte em cartaz no museu da esquina. Tudo isso já é realidade. Pelo menos, em Curitiba, que reivindica o título de “primeira cidade interativa do mundo”. Graças ao projeto MCities (o “M” vem de “mobilidade”), a capital paranaense oferece aos seus moradores e visitantes experiências únicas – como as citadas acima. “A ideia é que a cidade dialogue com as pessoas, criando interatividade e proporcionando prazer”, diz o empresário Paulo Hansted, 50 anos, criador da startup.

Especialista em comunicação e em tecnologia, ele idealizou o conceito de cidade interativa a partir de suas experiências e viagens pelo mundo. Com mais de 20 países no currículo de turista, Hansted costumava observar como cidades do exterior se conectavam às pessoas. Em Zurique, na Suíça, por exemplo, ele visitou um parque no qual havia uma placa com QR Code que exibia fotos, vídeos e informações do lugar. Já em Atlanta e em Memphis, ambas nos Estados Unidos, mapas e placas de ferro fundido contam, respectivamente, a história da Guerra de Secessão e da Guerra Civil, com destaque para a luta dos negros, liderados por Martin Luther King – um dos pontos do roteiro é a visita à casa do pastor e ativista. “Era tudo muito interessante. Mas eu sempre sentia que a interatividade com o público poderia ser muito maior”, lembra o empresário. “E isso só seria possível por meio da tecnologia”. Assim, surgiu a ideia das cidades interativas, aquelas que conversam com o povo.

Para tirar o projeto do papel, ele reuniu referências que amealhou em 5 anos de pesquisas e viagens pelo planeta e começou a conversar com comerciantes, empresários e com o Poder Público de várias cidades do Brasil. Todos se mostravam empolgados. Depois de incontáveis reuniões, Hansted, que é paulista e mora em Curitiba há 17 anos, decidiu implantar seu plano na capital paranaense. “É uma das cidades mais modernas e antenadas do Brasil”, diz ele, que colocou R$ 2 milhões no desenvolvimento e aplicação da startup. O plano é recuperar o investimento, com sobras, ainda este ano: a meta de faturamento do MCities para 2019 é de R$ 6 milhões. E o negócio deve continuar crescendo. Hansted já tem conversas adiantadas com investidores e comerciantes de diversas cidades do Brasil e do exterior. Na lista, estão Brasília, Florianópolis, Recife, Salvador e São Paulo, além de Cidade do México, Londres e Montreal. “O objetivo é, no prazo de 3 anos, estarmos em todas as capitais brasileiras e em todos os continentes”.

Atrativo: turista captura QR Code com dicas de serviço (Crédito:Divulgação)

INTERATIVIDADE Até o final de fevereiro, o MCities já tinha 4 milhões de interações, somando todas as plataformas: aplicativo, site, redes sociais e ações em espaços públicos e privados, como os QR Codes dispostos em vitrines de estabelecimentos comerciais e públicos. “Ao fotografar o QR Code, a pessoa recebe informações ou dicas sobre aquela loja, rua, serviço”, explica Hansted. Para os comerciantes e para a Prefeitura, a ação tem sido exitosa. Presidente da Agência Curitiba – responsável pela área de Tecnologia da cidade –, Cris Alessi ressalta a relevância do MCities para os objetivos da gestão do município. “Queremos ser a cidade mais inteligente e interativa do mundo. Por isso, entramos como apoiadores nesse projeto”, afirma. Na iniciativa privada, o sentimento é o mesmo. Gerente de Marketing da Aliança Francesa, Dayana Belmont destaca o sucesso de um evento que realizou com inserções no MCities. “Muita gente nos dizia que curtiu a novidade”, conta. Nascida na França, Dayana, que conhece grande parte da Europa, destaca o ineditismo do negócio. “Nunca vi nada parecido com as ideias implantadas pelo MCities”.

O empresário Admar Daldin faz coro. Dono de um café e de um bar, ele percebeu um aumento de 20% na clientela, como retorno a uma ação que fez na startup. “As pessoas interagem com a cidade e se divertem”, diz Daldin. Diversão, aliás, é um dos pontos fundamentais do projeto. Segundo Hansted, o objetivo principal do MCities é fazer com que a população curta a cidade, de uma maneira leve, com serviço e entretenimento”. “Queremos usar a tecnologia para levar as pessoas a sair de suas casas, transformando informações em experiências sensoriais, emocionais”, destaca. E, para isso, uma boa conversa entre cidade e cidadão faz toda a diferença.


Curitiba sediará maior evento de cidades inteligentes do Brasil

Como prova de sua vocação tecnológica e consolidando sua marca de cidade mais inteligente – e, agora, interativa – do Brasil, Curitiba sediará, pelo segundo ano consecutivo, o maior evento do setor do País. Na quinta-feira 21 e sexta-feira 22, a capital paranaense receberá a Smart City Expo, feira que reunirá investidores, empresas, startups, acadêmicos, ONGs e gestores públicos. O evento deve receber mais de 6 mil pessoas – de 80 cidades brasileiras e 25 estrangeiras – e terá 80 palestrantes de diversos países. Organizada pelo iCities e pela Prefeitura de Curitiba, a feira segue o conceito da Smart City Expo World, maior evento do mundo sobre cidades inteligentes, realizado anualmente em Barcelona, na Espanha. “Esse tipo de evento é fundamental para alcançarmos nosso objetivo de ser a cidade mais interativa, inteligente e conectada do mundo”, diz Cris Alessi, presidente da Agência Curitiba, órgão ligado à Prefeitura.