Em pouco mais de três anos, a Vinci Partners, do banqueiro carioca Gilberto Sayão, mostrou que não está no mercado a passeio. Criada em 2009, tornou-se administradora de um fundo de US$ 1,4 bilhão, investido em negócios como a locadora de veículos Unidas, o grupo de seguros Austral, a varejista Le Biscuit e a operação nacional da rede de lanchonetes Burger King. Na semana passada, Sayão deu sua mais nova tacada ao comprar 70% da catarinense Cecrisa, uma das maiores fabricantes nacionais de revestimentos cerâmicos. O setor, dominado pelo capital nacional e com muitas empresas familiares, é visto como complicado pelo mercado, à espera de investidores para deslanchar um processo de consolidação. 

 

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Sampaio, da Cecrisa: o atual CEO deve permanecer no comando. O antigo controlador,

João Paulo de Freitas, manterá sua cadeira no conselho da empresa.

 

A própria Cecrisa é, em parte, um retrato dessa área. Criada na cidade de Criciúma, no sul de Santa Catarina, pelo empresário Manoel Dilor de Freitas, em 1966, a empresa se tornou a líder do setor, até entrar em concordata no começo dos anos 1990. Recuperada pelo consultor Claudio Galeazzi, a Cecrisa voltou a crescer. Embora sem o mesmo brilho anterior, manteve-se entre as três maiores do setor, ao lado de suas conterrâneas Portobello e Eliane, com um faturamento próximo de R$ 750 milhões por ano. Hoje, ela é comandada pelo executivo Rogério Sampaio, que deve seguir no cargo de presidente. O antigo controlador, João Paulo de Freitas, permanecerá no conselho de administração. “É uma empresa com grande potencial, com marca e reputação firmadas, além de uma ótima gestão”, afirma um profissional que acompanhou as negociações. 

 

No entanto, a Cecrisa, que é dona da marca premium Portinari, também combina problemas operacionais. Em 2011, o resultado líquido consolidado apontou prejuízo de R$ 34 milhões, com uma dívida na casa dos R$ 500 milhões. Dos R$ 250 milhões pagos pela Vinci, R$ 200 milhões serão usados para quitar parte da pendência. “A cerâmica é uma indústria ainda dominada pelo capital nacional, com todas as idiossincrasias que isso gera”, diz Antonio Carlos Kieling, superintendente da Anfacer, a associação dos fabricantes. “E isso inclui dificuldades na gestão.” Trata-se de música para os ouvidos do pessoal da Vinci, que poderá desempenhar um papel importante na consolidação do setor. 

 

No início do ano, as concorrentes Eliane e Portobello já haviam dado mostras das dificuldades de se operar na área. Após anunciarem uma fusão que as transformaria na décima maior empresa do setor no mundo, voltaram atrás e desistiram do negócio. Motivo: os altos custos de operação e a baixa sinergia. Um desses altos custos é o preço do gás natural, responsável por um quarto do preço final da cerâmica. Por outro lado, há também potencial embutido no negócio. O Brasil é o segundo maior produtor e consumidor global de revestimentos. O mercado anual está na faixa de R$ 8 bilhões e tem crescido dois dígitos anualmente, pegando carona na expansão da construção civil e do segmento imobiliário. 

 

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