Nada no desenho estratégico que Mate Pencz e Florian Hagenbuch (à dir na foto) fazem ao pensar seus negócios passa sem que um verbo meio malvisto em muitos círculos corporativos esteja à frente de tudo. Sonhar. A dupla que é coCEO e cofundadora da plataforma de imóveis Loft, lançada há apenas três anos, recebeu em 2021 a maior rodada de investimentos entre startups brasileiras e colocou no caixa mais de meio bilhão de dólares, coisa de R$ 3 bilhões. Outros US$ 300 milhões já haviam chegado em rodadas anteriores. O que fazer com essa dinheirama? Investir no sonho. Deles. Da Loft. E de quem compõe o ecossistema em que atuam — da família compradora às imobiliárias. Há um diferencial decisivo no setor de imóveis. “A casa, o apartamento, é a compra mais importante da vida de uma pessoa”, disse Mate Pencz. Seu amigo Hagenbuch, concorda. E completa: “Por isso o relacionamento precisa ser sempre humanizado”.

A dupla, eleita Empreendores do Ano da DINHEIRO em Habitação, sabe que tornar digital e personalizado o ciclo completo da experiência de compra de um imóvel é dos maiores desafios da Loft. E para alcançar esse objetivo, há duas batalhas claras. A primeira é construir a marca mais relevante quando alguém pensar em comprar o apartamento. A segunda é mudar tudo o que se entende por comprar um imóvel. Algo equivalente a uma montadora que produz e vende carros por 100 anos e agora precisa pensar em ser uma companhia de tecnologia & serviços. Disruptivo é a palavra. No caso deles cabe. Porque o que a dupla busca mesmo é ser disruptiva e desconstruir o segmento em que atuam.

A mais recente novidade foi atrair imobiliárias para o ecossistema. Duas empresas tradicionais de São Paulo, a Mirantte e a Zimmermann, começaram em dezembro a listar seus imóveis na plataforma. Elas poderão igualmente ampliar o próprio portfólio. Um share sobre as vendas vai remunerar a operação. Como acontece com qualquer negociante que transaciona via Amazon, Magazine Luiza ou Mercado Livre. É um jogo de ganha-ganha. As imobiliárias, porque a Loft empregará todo seu arsenal de tecnologia e presença digital para alavancar as vendas e trabalhar o pós-venda. Digitei Mirantte no Google. Já apareceu um anúncio da Loft encabeçando a busca. O mesmo aconteceu com a Zimmermann.

Igualmente se fortalece a Loft, que vai ampliar seu portfólio de endereços disponíveis — a expectativa é saltar dos atuais 40 mil para 100 mil. Mate Pencz aposta nesse tipo de modelagem. “Acreditamos que pode existir um case de sucesso em que todos do ecossistema ganhem.” O foco em 2022 será investir nessas parcerias. No limite, quem ganha mesmo é o tal do usuário, o cara que vai investir na compra da casa própria.

Para alavancar a estratégia com imobiliárias de todo o País a Loft acaba de contratar para o cargo de vice-presidente de Relações Institucionais Jardel Cardoso, ex-CEO da CredPago, empresa que curou uma das maiores dores de quem busca um imóvel para alugar: a fiança. O desconfiado mercado brasileiro construiu, com ou sem argumentos e com ou sem preconceitos, a figura quase indefectível do fiador. Nessas os consumidores honestos — a maioria, vale frisar — sofriam por encontrar um apartamento e não fechar o negócio porque o dono só aceitava um tipo de fiança, ou de fiador. A CredPago tem uma extensa lista de imobiliárias parceiras e faz a análise do locador em menos de 1 minuto. Aprovado, libera um contrato por e-mail. O dono do imóvel tem a garantia de receber e segue o jogo.

Para revolucionar um segmento que sempre andou no campo da alta burocracia e, por que não, da desconfiança, o uso intensivo de tecnologia gera soluções inteligentes. É esse o arsenal que a Loft quer dominar. Exemplo é a recente compra do portal 123i, dono do maior conjunto de dados do mercado imobiliário nacional. Para Pencz, trata-se de “uma tradicional fonte de consultas do mercado, tanto em termos de precificação quanto, principalmente, de informações sobre os condomínios.” Com serviços que vão do imóvel ao crédito, a Loft começa a dar ao setor uma cara como nunca teve.

Mate Pencz e Florian Hagenbuch são daqueles empreendedores genuínos. O primeiro é húngaro. O segundo, alemão. Estão na casa dos 30 anos. Estudaram juntos nos Estados Unidos e depois de um trabalho em comum num banco de investimentos decidiram aportar no Brasil e empreender — Hagenbuch havia morado aqui na infância. A primeira startup da dupla, fundada em 2012, foi a Printi, na área de impressão digital. Recebeu aportes milionários e teve a venda concluída em 2019, ano seguinte ao nascimento da Loft. Agora, com a plataforma de imóveis, eles querem elevar o segmento a um patamar sem igual, usando para isso tecnologia intensiva. O setor deles é chamado de proptech. Talvez seja mais adequado chamar de dreamtech.

LEIA MAIS SOBRE O ESPECIAL EMPREENDEDORES DO ANO 2021: