A empresa paulistana de monitoramento e recuperação de veículos Carsystem é talvez uma das companhias mais barulhentas do Brasil. Essa fama se deve ao alarme que a fundadora do negócio, a santista Graça Costa, 60 anos, inventou, em 2001, para equipar os carros que contratam os seus serviços – e que diz, estrondosamente alto: “Atenção, atenção, este veículo está sendo roubado”. Muitas vezes, para desconforto de quem está por perto, diga-se. “É difícil encontrar algum paulistano que não reconheça a empresa por causa desse alarme”, diz José Melo, 47 anos, CEO da Carsystem.

“É o melhor tipo de propaganda que tem. É de graça e fixa na cabeça das pessoas.” Melo está animado para adotar o próximo passo da estratégia de crescimento na empresa – abrir dez franquias em cidades como Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Curitiba até o final de 2014. “O índice de roubo nesses locais está cada vez mais alto”, diz Melo. Essa estratégia, no entanto, é uma resposta ao crescimento baixo que a empresa teve nos últimos anos, comparado ao ritmo acelerado de 2003 a 2008, em que aumentou de tamanho quase 13 vezes.

A Carsystem faturava R$ 8 milhões e, em cinco anos, chegou a R$ 100 milhões. Entretanto, nos três anos seguintes, a velocidade diminuiu. Para 2014, a empresa espera faturar no máximo R$ 140 milhões – cerca de 12% acima do registrado no ano passado. A explicação para esse período menos acelerado está na estrutura da empresa. “A Carsystem tinha uma administração muito familiar e pouco profissional”, diz Melo. “A Graça teve uma ideia muito boa, mas foi difícil manter o crescimento quando o negócio começou a ganhar uma estrutura de empresa grande.”

A saída encontrada, a profissionalização da gestão, se mostrou acertada. Desde que Melo assumiu o comando, a Carsystem reencontrou o caminho do crescimento. Nada ainda, porém, comparado à época de ouro da companhia, em que as taxas de aumento das vendas chegavam a 50% ao ano. O mercado caiu? A febre passou? “O mercado, com certeza, não minguou”, diz Francisco Satkunas, diretor da consultoria SAE. Um termômetro que mede o potencial desse segmento é o crescimento da frota. Segundo o Departamento Estadual de Trânsito em São Paulo (Detran), há 7,6 milhões de automóveis, caminhões, motos e ônibus só na capital paulista.

“Ainda há bastante espaço para a Carsystem crescer em São Paulo”, diz Satkunas. “Ainda mais se considerarmos que, em média, apenas 25% dos carros da metrópole são segurados.” Para a Carsystem, no entanto, essa gigantesca frota não é motivo de empolgação. Segundo Melo, a empresa, que atualmente monitora 150 mil veículos em São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, busca um cliente com perfil bem específico: o dos sem-seguro de baixa renda. “Queremos atrair o cidadão da classe C que não pode pagar por uma apólice e que tampouco pode pagar por um veículo novo, caso seja roubado”, diz Melo.

Além de ampliar sua operação para outros mercados, a Carsystem terá o desafio de enfrentar concorrentes de peso, como a israelense Ituran, a americana LoJack e a brasileira Graber – e se diferenciar deles. “A fuga da Carsystem para cidades fora do eixo Rio-São Paulo indica que seus mercados principais podem estar saturados”, diz o consultor Satkunas. Não por acaso, para não ser apenas mais uma entre várias, a companhia busca oportunidades de negócio em locais nos quais a concorrência é menor, como as capitais do Sul e do Nordeste.

Em paralelo à expansão para o interior do País, a Carsystem lançará, no ano que vem, um sistema de rastreamento de pessoas e animais. A ideia é garantir a segurança de idosos com problemas de memória e dificuldade de locomoção, crianças e até cachorros. “Será uma espécie de relógio de pulso que ajudará a achar a pessoa ou o animal em casos de quedas, acidentes e até de sequestros”, diz Melo. A empresa também pretende utilizar seu banco de dados de roubos nas cidades para oferecer rotas mais seguras aos seus clientes. “Vamos passar a enviar SMS e e-mails com dicas de itinerários”, afirma.