Um dos grandes desafios que qualquer empresa enfrenta nestes tempos em que a divulgação de boas práticas ESG (ambiental, social e de governança) é tão demandada por investidores e sociedade é fugir do greenwashing e incorporar as ações na estratégia organizacional. Em outras palavras, fugir do blá-blá-blá mercadológico e agir com transparência para comunicar resultados comprováveis. É trabalhoso, mas possível. A prova está nas últimas conquistas da AES Brasil. Sob direção da executiva Clarissa Sadock, a empresa acaba de se tornar a primeira e única da América Latina a receber a pontuação máxima em ESG no ranking do Morgan Stanley, um dos mais rigorosos do mercado. Ao alcançar a nota AAA, a AES também conseguiu o feito de entrar para o seleto grupo dos 7% das companhias com a maior pontuação do mundo, comprovando que faz o que fala.

A jornada para chegar ao topo não foi rápida e muito menos construída por publicitários. Foi uma decisão de longo prazo da empresa que resolveu olhar para dentro e começar o trabalho do básico: pela governança. “Nós já fazíamos diversas ações ESG, mas não organizávamos as informações da forma correta para o mercado ler e entender”, afirmou Clarissa à DINHEIRO. A partir do diagnóstico, a agenda foi incorporada na estratégia de negócio. Uma das medidas fundamentais foi trazer a discussão para a mesa do board e estabelecer os resultados como indicadores-chave de desempenho dos executivos. “No fim do dia, para engajar todo mundo é preciso estipular metas”, disse a executiva que tem 40% de sua avaliação conectados ao tema.

Outra medida listada por Clarissa como essencial para o reconhecimento internacional foi a migração das ações para o Novo Mercado, segmento de governança mais elevado da B3. Um processo finalizado em março que levou à mudança dos papéis, antes sob o nome AES Tietê, para o novo código AESB3. Para Rogério Santana, diretor de Relacionamento com empresas da B3, ao optar pelo Novo Mercado, “a companhia apresenta clara sinalização de que reconhece a importância do mercado de capitais e reforça compromissos com uma governança mais robusta, maior transparência e prestação de contas para seus acionistas”.

AÇÕES Esse salto de governança reconhece um trabalho que ganhou corpo com a decisão da companhia de sustentar seu crescimento em três pilares. O primeiro, energia renovável, estabelecendo que qualquer projeto de expansão deve se dar no segmento de energias limpas. Os outros dois são segurança, condição sine qua non para o negócio, e diversidade. Este, mais complexo. Ainda que no escritório a taxa de participação feminina seja equilibrada (49%), na alta liderança o porcentual é baixo (19%). Na operação a situação é mais crítica, com a participação de 99% de homens. Para tentar melhorar o índice, Clarissa e seu time determinaram que o Complexo Eólico Tucano, em construção na Bahia, será operado exclusivamente por mulheres. Estes e outros programas socioambientais consumiram R$ 14 milhões em investimentos em 2020.

Ao atingir a mais alta certificação em ESG no mundo, Clarissa olha para o futuro com a consciência de que ainda há muito a ser feito. “A demanda e o nível de exigência são crescentes”, disse. Com a governança ambiental e corporativa já avançadas, a preocupação agora é construir um sistema de gestão social. Para Andrea Santoro, coordenadora de Sustentabilidade e ESG da AES Brasil, “isso dará, a todas as áreas da companhia, as diretrizes adequadas de como se relacionar com as comunidades vizinhas às nossas unidades”. Assim, a empresa quer garantir que as práticas de direito humano sejam cumpridas com rigor e acompanhadas em todas as interações feitas pelos representantes da corporação com as pessoas. Outro desafio é ajudar clientes e outras empresas nesta jornada, afinal, nessa agenda ESG, a CEO tem clareza de que quanto mais vizinhos, melhor. “Queremos servir de exemplo e trazer mais companhias brasileiras para ser triple A”, afirmou. Quem ganha é a sociedade. E o planeta.