Em abril, quando duas das maiores construtoras do País decidiram ficar de fora do leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, o governo agiu: mobilizou Eletrobras, fundos de pensão e meia dúzia de construtoras para montar um segundo consórcio. 

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Leilão de Belo Monte: espaço reservado pelo governo para as grandes construtoras

Queria garantir a concorrência e a redução do preço inicial. Sob este ponto de vista, o leilão foi um sucesso. O consórcio Norte Energia ofereceu um deságio de 6%, e os responsáveis pelo grupo garantiram que era possível concluir a obra dentro do orçamento de R$ 19 bilhões – apesar das desconfianças do mercado. Quatro meses depois, o discurso é outro. “É uma obra muito grande. Tem lugar para todo mundo”, disse à DINHEIRO a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra. Mas, afinal, existe ou não concorrência no Brasil? A julgar pela movimentação empresarial nos meses seguintes ao leilão, a resposta parece ser não.

 

Isso ficará evidente na próxima quinta-feira 26, quando os 18 sócios da Norte Energia assinarão o contrato de concessão da obra. As construtoras terão em mãos um contrato de obras civis de R$ 14,5 bilhões. 

 

A lista das empresas responsáveis pela obra reúne não apenas as que venceram o leilão, lideradas pela Queiroz Galvão. Inclui também a construtora que perdeu, a Andrade Gutierrez, e as que nem entraram na disputa, Camargo Corrêa e Odebrecht, alegando que o preço mínimo fixado pelo governo era insuficiente para pagar o investimento – as três grandes ficarão com 50% do bolo. 

 

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Erenice Guerra: “É uma obra muito grande e tem espaço para todo mundo. Só que será feita no nosso preço”

 

No discurso da ministra Erenice Guerra, as empresas é que se dobraram à pressão do governo, aceitando o preço imposto. Mas não é este o sentimento no mercado. “Todo mundo ganhou e o contribuinte brasileiro perdeu”, disse à DINHEIRO o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. 

 

“É exatamente o modelo que existia no regime militar. A estatal corre o risco, o setor privado fica com o lucro e o contribuinte paga a conta”, afirmou. Entre as empresas vencedoras, a disposição também é de compartilhar. “É hora de deixar as vaidades de lado. Todo mundo vai ter seu espaço”, diz Dario Galvão, dono da Galvão Engenharia, que fazia parte do grupo vencedor. Para o diretor de engenharia da Eletrobras, Valter Cardeal, o conhecimento do setor elétrico garante às grandes empreiteiras um lugar cativo na obra. Mas a questão que fica é outra: por que se fez um leilão?