Passa do limite do aceitável a rinha infantil que o presidente Bolsonaro abriu com governadores estaduais, em sistemáticas provocações nos últimos dias — que foram desde a acusação de que os respectivos Estados eram responsáveis pelo alto preço dos combustíveis até a retirada compulsória da maioria deles do conselho de desenvolvimento da Amazônia (agora comandado pelo vice-presidente, general Mourão). Exatamente até onde o mandatário quer ir com essa queda de braço com as unidades da Federação é uma incógnita. Mas o objetivo por trás do movimento não poderia ser outro que não o de cunho eleitoreiro. Bolsonaro deseja minar a influencia desses políticos nos colégios locais, que devem escolher vereadores e prefeitos para novo mandato. Enquanto a guerra segue, os estados afundam em crise financeira, beirando a falência. Um estudo da Tendências Consultoria apontou que só a metade deles deve fechar 2020 com PIB acima do nível pré-crise e que a situação fiscal da maioria é calamitosa. Disso já se sabia. O que não está em evidência é como o Executivo pretende agir diante dessa realidade. E, necessariamente, ele terá de intervir. A retomada da economia e o plano de um crescimento sustentável no médio e longo prazo passam de maneira inevitável pela saúde financeira de cada região. Não há como imaginar a União carregando essa fatura sozinha. Daí o estranhamento sobre a política belicosa do mandatário. Enquanto ele mergulha nessa troca de acusações e retaliações, o problema se agrava. Muitos governadores alegam que as despesas com pessoal já são quase impagáveis, até porque a arrecadação segue baixa diante da reação tímida do mercado. Está tudo conectado em um ciclo perverso que provoca, inclusive, corte de investimentos públicos. Nesse contexto, a perspectiva de o governo federal refluir em uma proposta de reforma administrativa é ainda mais preocupante. O presidente nunca foi mesmo adepto de ideias radicais nesse sentido. Ao contrário. Manifesta hesitação quando o tema é principalmente o corte de privilégios de servidores. Teme retaliações desse forte grupo de eleitores. Não há por parte de Bolsonaro predisposição, no momento, a embarcar em causas de interesse republicano. Ele está, antes de tudo, movendo sua gestão de olho na reeleição, que passou a ser questão de honra. O problema é que sem o avanço econômico o projeto fica comprometido e, como já dito acima, os estados têm papel relevante nesse sentido. Apenas 12 deles e o Distrito Federal estão em condições, por assim dizer, saudáveis do ponto de vista de variação do PIB. A maioria, como São Paulo, hoje controlada pela oposição.