O rojão veio em alto e bom som. O volume foi amplificado ainda mais por um artigo na edição dominical do jornal The New York Times, dia 24. O inventor da World Wide Web, Tim Berners-Lee, considerado o pai da internet como a conhecemos, deixou a latência de lado e conclamou indivíduos, empresas e governos a promover ações concretas contra a manipulação política, a invasão de privacidade, fake news e outras forças que ameaçam a segurança da vida on-line. “Estamos em um ponto de inflexão. A forma como reagimos a esse abuso determinará se a Web fará jus a seu potencial como uma força global para o bem ou se vai nos levar a uma distopia digital”, diz no artigo do Times.

O PAI DA CRIANÇA O britânico Tim Berners-Lee (foto ao alto), inventor da internet como se conhece hoje, conseguiu assinaturas de 150 organizações e milhares de indivíduos para tentar salvar a rede dos abusos que ameaçam a liberdade

Abuso. Distopia digital. O pai da criança falando da filha de 30 anos. É preciso ouvir.

O plano, chamado Contract for the Web (Contrato para a Web, contractfortheweb.org), foi montado durante mais de um ano com apoio de 80 organizações. Basicamente está desenhado sobre nove linhas de ação, três para cada grupo – pessoas, companhias e governos. Publicado pelo britânico Berners-Lee no site da sua Fundação World Wide Web (webfoundation.org), o documento vem assinado por mais de 150 organizações, entre elas Google, Facebook, Twitter e Microsoft, além de grupos de defesa de direitos digitais, governos (Alemanha e França) e milhares de pessoas.

Pode-se dizer que o manifesto tem algo de utopia, ou pelo menos de otimismo. Ele pede, por exemplo, que indivíduos se comprometam a criar conteúdos ricos e relevantes a fim de fazer da web um lugar valioso. E que construam fortes comunidades on-line em que todos se sintam seguros e acolhidos. Assinou, ajoelhou – essa é a meta.

No contrato, há cláusulas que cobram de governos acesso e privacidade para quem quer se conectar à internet. E disponibilização aos cidadãos de seus dados pessoais e o gerenciamento deles.

As demandas direcionadas às empresas avançam um pouco em relação às que vêm sendo endereçadas às big tech nos últimos tempos – em resumo, respeito à liberdade e aos direitos individuais. Entre outros princípios, o manifesto pede que companhias desenvolvam serviços de internet para pessoas com deficiência e para quem fala línguas pouco comuns. Claro, estão lá petições conhecidas sobre privacidade, transparência, e contra o risco de espalhar desinformação e de afetar o bem-estar do usuário.

As empresas que assinaram o manifesto devem estar comprometidas em promover melhorias na direção apontada pelo documento. Mas a julgar por um relatório publicado na quinta-feira 21 pela Anistia Internacional, os signatários Google e Facebook têm culpa no cartório. O documento, Surveillance Giants (Gigantes da Vigilância), acusa com todas as letras o modelo de negócios das duas gigantes tech de ameaçar os direitos humanos.