A movimentação do mercado durante a campanha eleitoral e o primeiro turno das eleições presidenciais de 2010 mostram que a incerteza eleitoral saiu definitivamente da pauta dos investidores. Lula e o mercado sempre viveram em paz. Desde sua posse em 2003, o Índice Bovespa subiu 520%. Nesse período, o índice S&P 500 em Nova York avançou 31,6%. Apesar disso, os vaivens eleitorais ainda provocam turbulências localizadas, especialmente nas ações de empresas estaduais. 

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O impacto político tem sido positivo. No caso da Cesp, empresa de energia elétrica de São Paulo, o segundo turno animou o mercado. Uma eventual eleição de José Serra poderia recolocar em pauta as discussões sobre a privatização da empresa, interrompidas em março de 2008 por causa da turbulência financeira. 

 

“Se o PSDB voltar ao governo, as ações da Cesp podem voltar aos níveis pré-crise”, diz André Cleto, sócio da consultoria financeira Beta Advisors. Em março de 2008, as ações da Cesp valiam R$ 46,80. No dia 7, quatro pregões após a eleição, elas estavam em R$ 27,50, alta de 5,7%. Um raciocínio semelhante vale para a Sabesp, empresa paulista de água e saneamento, cujas ações subiram 2,4%. Nesse período, o Índice Bovespa caiu 0,4%.

 

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As eleições estaduais também movimentaram o mercado. As ações de duas empresas de energia, a Copel, do Paraná, e a Cemig, de Minas Gerais, foram as que mais oscilaram. Em Minas, os investidores não se entusiasmaram com a perspectiva da eleição de Hélio Costa, do PMDB, no início da campanha. 

 

Com o crescimento do governista Antonio Anastasia nas pesquisas à medida que o pleito se aproximava, as cotações se estabilizaram. “O mercado gostou do governo Aécio Neves e vê Anastasia como um candidato de continuidade”, diz Rodrigo Menon, outro sócio da Beta.

 

No Paraná, a vitória do oposicionista Beto Richa também agradou. Nos dias seguintes à eleição, as ações da Copel subiram 7,8%. “Richa é um político mais liberal do que Requião, que usava as empresas paranaenses para fazer política social”, diz o analista William Castro Alves, da XP Investimentos.

 

As empresas de primeira linha têm oscilado por questões mais estruturais. As ações ordinárias da Petrobras recuaram 8,4% do início da campanha eleitoral até a quinta-feira 7, mas as causas foram, principalmente, técnicas. 

 

Entre elas a capitalização que inundou o mercado com US$ 120 bilhões em ações, o fato de a Petrobras não conseguir cumprir suas metas de produção em 2010 – pelo sexto ano consecutivo – e em razão de os bancos como o Itaú Unibanco e Barclays terem piorado suas recomendações. 

 

“Há diversas variáveis influenciando o preço das ações e o cenário político não é o mais importante”, diz Fausto Gouveia, economista da Legan Asset Management. Já no caso da Vale, cujas ações subiram 1,6% desde a eleição, há menos preocupação.  A única sombra que paira sobre o mercado em uma eventual vitória de Dilma Rousseff é se o governo vai continuar, como vem fazendo há tempos, tentando ampliar sua ingerência sobre a mineradora.

 

O efeito político sobre as  empresas privadas foi menos nítido. Bancos como Bradesco e Itaú Unibanco deverão ter bons resultados independentemente de quem tomar posse em 2011. 

 

Já empresas ligadas à construção civil, como a Gerdau, podem ter um crédito menos farto no caso da vitória de Serra. Mesmo assim, suas ações ainda estão em alta. “Vai demorar para que mudanças na orientação econômica afetem o resultado dessas empresas”, diz Cleto.