Em dezembro de 2019, quando abriu o restaurante Président, na capital paulista, o chef Erick Jacquin tinha motivos para desconfiar do próprio sucesso. A falência, seis anos antes, de outra casa sob seu comando, La Brasserie, ainda o incomodava. Mas o novo e luxuoso espaço, com capacidade para 86 pessoas em dois pavimentos, ficou praticamente lotado todos os dias após a inauguração. Provar as receitas do francês que havia se tornado celebridade com o programa MasterChef Brasil, da Band, virou um programa concorrido. Após três meses, apareceu um cliente inesperado: a Covid-19, que provocou o fechamento de estabelecimentos mundo afora. A euforia virou preocupação. “De novo, não”, pensou Jacquin. Desta vez, não eram erros de administração que estavam em jogo. Orlando Leone, seu sócio e investidor com experiência no ramo de venda de motocicletas, estava cuidando das contas como Jacquin cuidava da cozinha. Para sobreviver, a dupla juntou as duas ao restaurante e partiu para o delivery. “Tivemos de aprender a fazer isso”, disse o chef à DINHEIRO.

Os pratos, até então servidos em louças e talheres refinados, foram parar em embalagens e utensílios de plástico e papel. Um virou motoboy. O chef entregou alguns pedidos. “Mas a exigência não mudou: o cliente estava comprando um prato do Jacquin ­— e a expectativa é grande”, afirmou. Deu certo. A ponto de o chef lançar Jojo Gastrô, exclusiva para delivery de comida francesa, no momento mais complicado do isolamento social.

Quase dois anos após o susto, Jacquin continua entusiasmado com o Président, com o Jojo Gastrô, com outros dois empreendimentos — o bistrô Ça-Va e o Buteco do Jacquin — e com inauguração, em breve, do Lvtetia, sua primeira investida na culinária italiana. Tudo embalado em uma grife que começou a ser desenhada com sua entrada no MasterChefe Brasil, em 2014, um ano após o fechamento do La Brasserie. Uma reviravolta na vida do chef de sotaque francês tão carregado que, talvez por isso mesmo, tenha conquistado o carinho do público brasileiro.

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STEAK BEEF A próxima empreitada da dupla é o italiano Lvtetia, com inauguração anunciada para dia 8 de dezembro. O imóvel fica na Rua da Consolação, 3.585, ao lado do Président, está sendo reformado há sete meses, com arquitetura de Adriano Mariutti. As receitas vêm sendo testadas à exaustão, já que a culinária italiana não é a marca do chef francês. Já está no forno o sexto ponto, de carnes, no estilo Steak Beef, previsto para 2022.Até aceitar o convite de Orlando Leone para abrir novamente um restaurante passaram-se três anos de conversas. O empresário, que era cliente do La Brasserie, virou amigo e agora é sócio de Jacquin. “Ele disse que havia pagado todas as dívidas. No dia seguinte procuramos ponto”, afirmou Leone. Até agora, a união do investidor com o chef tem se mostrado tão acertada quanto a combinação de camarões grelhados com emulsão de champagne e espinafre fresco, o prato mais caro do Président (R$ 230). Juntos, montaram o Grupo JL Gastronomia. Além do Président e do Jojo Gastrô, também está sob esse menu o Ça-Va — bistrô aberto em 2020 no bairro da Bela Vista, ponto que Jacquin conheceu no programa Pesadelo na Cozinha e foi adquirido pela dupla após a morte do dono — e o Buteco do Jacquin, inaugurado há dois meses, no número 2.996 da Avenida Faria Lima, onde funcionava o Octávio Café. No cardápio, petiscos como bolinho de feijoada, pastel, dadinho de tapioca, torresminho e até a tradicional batata-frita com maionese da casa (porção a R$ 18). No espaço, destaque para o chapéu de seis metros de altura, no centro do bar. Para Leo Teixeira, sócio-fundador da NaMesa Consultoria, Jacquin virou uma marca e montou um roteiro gastronômico diversificado e turístico. “Tem aproveitado bem a exposição na TV, em momento de retomada do setor.”

Turbinada por Band, Philco, Cornershop e Mon Petit Chéri ( linha de alimentos premium para pets), a grife Jacquin tem mais novidades para o ano que vem. O Ça -Va terá outros três endereços paulistanos. Uma loja de produtos para cozinha com o nome do chef venderá desde utensílios até dolma e chapéu. A produção de croissants está sendo pensada para venda em mercados. E Jacquin ainda aproveitará sua exposição nas redes sociais — 2,7 milhões de seguidores no Instagram e 1,9 milhão no YouTube — para vender um MasterClass com aulas de gastronomia. Negócios de uma marca com ‘tompero’ franco-brasileiro que tem rendido um bom caldo.