Quando a fabricante brasileira de cosméticos Niely foi vendida para a francesa L’Oréal, em 2014, muitos imaginavam que o fundador da maior empresa de produtos de beleza para pele e cabelo afro, Daniel Fonseca de Jesus, se tornaria um nome fora no cenário em pouco tempo. Com R$ 1 bilhão no bolso, porém, ele decidiu começar de novo, e investiu R$ 200 milhões para lançar sua nova marca, a Duty Cosméticos. Assim, Jesus voltou ao promissor mercado nacional da beleza – e tem conseguido multiplicar seus resultados.

Com atenção voltada aos cabelos das mulheres das classes C e D, a companhia, sob gestão da filha, Danielle de Jesus, comercializa produtos para coloração, além de xampus e condicionadores, e calcula faturar R$ 100 milhões em 2020. O foco inicial está nos pontos de venda de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “O Brasil tem dimensões continentais e um mercado consumidor enorme que busca novidade, qualidade e preço justo. Estamos expandindo e vamos levar a marca para todos os cantos do País. Com o nosso e-commerce, já entregamos de Norte a Sul”, diz a vice-presidente Danielle, em entrevista à DINHEIRO.

A herdeira e empresária tem se mostrado satisfeita com a resposta dos consumidores aos produtos da empresa, apesar do curto tempo nas prateleiras – a comercialização começou em outubro, um mês após a apresentação da marca ao setor. “Estamos muito felizes com a aceitação do mercado. Sabemos que o ramo de cosméticos é maduro, com grandes marcas consolidadas. Conseguimos abrir os principais clientes do mercado conforme nosso plano de distribuição para 2019. Também batemos nossa meta de vendas no e-commerce”, afirma ela, sem revelar números.

Para a vice-presidente, a experiência do pai no ramo e a aposta da Duty nas classes C e D da população são essenciais para o fortalecimento da marca no País. “Daniel de Jesus possui anos de experiência no mercado, chegando a conquistar marcas inéditas no setor de cosméticos com uma empresa nacional e familiar”, diz ela, destacando os maiores legados de seu pai, como o conhecimento da consumidora brasileira e, principalmente, relacionamento com a malha de clientes de perfumaria, distribuidores, atacado e varejo. “A aposta nas camadas C e D se dá por causa da realidade no nosso País, onde a grande maioria da população se encontra nessas classes. É uma forma de chegar a todo o Brasil levando produtos de qualidade e a preço justo.”

“Não descartamos a possibilidade de adquirir empresas do mercado” Danielle de Jesus, vice-presidente.

MERCADO O avanço da Duty no mercado brasileiro de cosméticos se dá em momento de transformações no ramo, que registrou crescimento real de apenas 0,69% em 2019. Para 2020, se estima avanço de 1,54%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal e Cosméticos (Abihpec). Aquisições ou fusões estão entre as estratégias traçadas pelas empresas para ampliar mercado e conquistar consumidores. A compra da Avon Products pela Natura &Co, no ano passado, aqueceu o setor, que já há alguns meses acompanha as negociações para comercialização da francesa Coty, dona de marcas como Monange, Risqué e Bozzano. A empresa prevê faturar entre US$ 8 bilhões (R$ 33 bilhões) e US$ 9 bilhões (R$ 37,1 bilhões) com as vendas da divisão de produtos profissionais para cabelo e unha, como Wella e Clairol, e da operação brasileira. Meta é reduzir dívida líquida de US$ 7,4 bilhões (R$ 30,5 bilhões), além de simplificar a estrutura.

NO MERCADO Produtos da Duty disputam a preferência das consumidoras das classes C e D no varejo de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais; e-commerce já opera em todo o País. (Crédito:DmitriMaruta)

O Grupo Boticário está entre os interessados no ativo da Coty, a exemplo do empresário Daniel de Jesus. Danielle, no entanto, não confirma a informação, mas admite futuras aquisições. “A Duty, no momento, está focada em desenvolver suas marcas próprias, mas tendo o objetivo de ser uma grande empresa de beleza. Porém, não descartamos a possibilidade de adquirir empresas do mercado”, afirma.

A empresa tem fortes aliados em busca da expansão. O empresário Jorge Paulo Lemann e os sócios Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira compraram participação na Duty Cosméticos ainda em 2019. Fatia adquirida e quantia desembolsada não foram reveladas pelas partes. “Temos contrato de confidencialidade com nossos sócios”, afirma a vice-presidente.