Esteio do governo Bolsonaro na seara econômica, o superministro Paulo Guedes está sentindo na pele que há uma distância enorme entre o campo teórico e a vida real. Ainda mais quando se trata do Brasil. Passados 135 dias desde sua posse, Guedes ainda não foi capaz de produzir um fato positivo na área que comanda. Pelo contrário: há cada vez mais notícias ruins se acumulando como uma nuvem negra sobre seu ministério, pronta para desabar em tempestade. Até o índice Bovespa, que ultrapassou a marca simbólica de 100 mil pontos em meados de março, perdeu fôlego e voltou para a casa dos 91 mil na semana passada, em parte devido à guerra comercial deflagrada por Donald Trump contra a China. Ainda que as oscilações da bolsa de valores dependam do cenário externo, é no ambiente doméstico que os indicadores econômicos frustram até os mais otimistas. O dólar já voltou a ser vendido acima de R$ 4,00, reflexo dos dados frustrantes da última semana.

Na quarta-feira 15, o Banco Central divulgou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) relativo a março, que recuou 0,28% na comparação com o mês anterior. Foi a terceira queda seguida. Em janeiro e fevereiro, o IBC-Br, que serve como uma prévia do PIB, havia caído respectivamente 0,98% e 0,11%. Na véspera, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) havia divulgado uma queda de 0,7% do setor de serviços em março frente a fevereiro. Na comparação com ano anterior, o resultado é negativo em 2,3%. No início do mês, dados do mesmo IBGE revelaram queda na atividade industrial em março: -1,3% em relação a fevereiro e preocupantes -6,1% na comparação com março de 2018. A desaceleração da economia deverá ser confirmada com a divulgação do PIB do primeiro trimestre, que sai dia 31. Crescer acima do 1% este ano já será formidável.

Diante de tantos sinais de insucesso na condução da política econômica, o ministro Guedes não foi capaz de acenar sequer com uma vaga esperança à Nação. Como um time de futebol que entra em campo favorito e perde a vontade de jogar assim que sofre o primeiro revés, Guedes não soube esconder o desânimo em sua fala durante uma audiência na Comissão Mista do Orçamento, terça-feira, no Congresso Nacional. Em vez de injetar confiança no mercado, suas palavras soaram como uma admissão de derrota. E jogou para o Legislativo a responsabilidade de reverter o placar: “Está nas mãos da Casa nos tirar do fundo do poço, com esse equacionamento fiscal”, afirmou o ministro, antes de revelar o tamanho do buraco nas contas públicas. “Estamos à beira de um abismo fiscal, precisamos de um crédito suplementar para pagar despesas correntes.”

Poderia parecer apenas alarmismo, mas a equipe de Guedes já havia calculado o tal “crédito suplementar”: o governo quer que o Congresso aprove um projeto de lei que permita tomar emprestado nada menos que R$ 248 bilhões para honrar compromissos como folha de pagamento, aposentadorias, plano Safra e Bolsa Família. Ou seja, mesmo com todos os cortes já anunciados pelo governo – incluindo os da Educação, que levaram estudantes a protestar em cidades de todo o País na quarta-feira 15 – não há dinheiro para o básico. E Guedes segue apostando todas as suas fichas na aprovação da reforma da Previdência. Que, agora, segundo ele, se tornou um “buraco negro fiscal” que ameaça engolir todo o Brasil. Guedes pode não ser capaz de evitar o colapso, mas ao menos está nos deixando de sobreaviso.

(Nota publicada na Edição 1121 da Revista Dinheiro)