Diante de sinais claros de avanço da oposição e de queda acentuada de popularidade, o Planalto está se sustentando em uma última cartada que considera redentora: a da recuperação rápida, sólida e generalizada da economia, algo que, em parte, vem sendo verificado como fruto natural de uma recomposição após quedas acentuadas do PIB por conta da pandemia. Para Bolsonaro — às voltas com pressões da CPI, ameaças de novas ondas da Covid e repercussões negativas da montagem de um Orçamento Paralelo — indicadores positivos da economia soam como música. As previsões do mercado são as melhores possíveis e os resultados que saíram sobre o primeiro trimestre do ano, com crescimento de 1,2% em relação ao período anterior, são indutores de otimismo. O capitão aposta definitivamente no novo milagre econômico para encobrir os desarranjos que vem seguidamente fazendo – inclusive no campo social onde fez regredir os recursos de programas assistenciais. A ideia é de uma volta por cima. O mandatário está plenamente convencido de que o Auxílio Emergencial associado à volta de investimento do setor produtivo poderão lhe salvar da bancarrota política. Está nos planos, inclusive, uma boa engordada no Bolsa Família, que passaria para patamares de valor inéditos. Surpreendente mesmo é que a estratégia se limite a instrumentos superficiais, de cunho populista, sem nenhuma medida mais estruturante. O que incomoda especialmente as hostes econômicas do governo é a persistência e até aumento dos índices de desemprego no País – já no patamar insuportável de 14,5 milhões de trabalhadores na rua, muitos dos quais tendo perdido os postos durante a pandemia. Como recompor as vagas para essa força produtiva é o maior desafio. A inflação demorando a ceder e o aumento do risco de um racionamento de energia são fatores que contribuem contra o objetivo. Para gerar empregos é necessária produção. Essa necessita de energia (hoje escassa) e de demanda, que tem fugido devido à carestia dos preços. A catástrofe sanitária segue castigando as pessoas e o País, e a inglória tarefa de encontrar atividade no mundo real nesse momento parece não ter espaço na realidade. Os setores que mais empregam ainda parecem longe de qualquer desempenho digno de nota. Enquanto isso, outras alternativas que auxiliariam no processo de retomada e, por tabela, abririam o mercado a mais investimentos, ampliação de negócios e oportunidades de emprego parecem condenadas à gaveta. É o caso da Reforma Administrativa cujo destino parece agora definitivamente selado. Quem tornou público esse fim frustrante foi o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, que disse com todas as letras que Jair Bolsonaro não quer levar adiante a proposta, não estaria comprometido com ela. É algo que todo mundo sabia, desde o começo, mas dita pelo czar da Economia ganha ares de oficialidade. Apesar de publicamente seguir em campanha pela aprovação das tais reformas, o ministro percebe que elas não são palatáveis diante do plano do mandatário de concorrer à reeleição na corrida presidencial. Ajustes na máquina e até fiscais são opções naturalmente antipáticas para o grande público. Mudar as regras do funcionalismo nesse momento é algo que conspira contra as ambições do inquilino do Planalto. Importaria para o Brasil tais reformulações sugeridas há tempos? Claro que sim. Mas isso pesa pouco nas decisões do capitão.

Carlos José Marques, diretor editorial