André Esteves, homem forte do BTG Pactual, já pode dizer que tem um banco de varejo para chamar de seu. Ao desembolsar R$ 3,7 bilhões pela compra do lote remanescente de ações do Banco Pan, do qual já possuía 50,8% do capital votante e 44,8% do capital total, a instituição que nasceu e renasceu como banco de investimentos consolida-se como um dos principais participantes do varejo bancário.

O negócio representa um novo divisor de águas na história do banco, criado em 1983, e que teve o ministro Paulo Guedes entre seus sócios fundadores. Durante mais de duas décadas, o então Pactual foi um dos agressivos bancos de investimento que ganhou muito dinheiro com a volatilidade dos ativos financeiros brasileiros nos tempos pré-estabilização. No início dos anos 2000, Esteves, que sucedera Fernandes, não resistiu aos apelos (e aos bilhões de francos) do suíço UBS e vendeu o controle do banco. Poucos anos depois, o UBS mudou de ideia, e revendeu o banco a Esteves, que acrescentou um BTG ao nome do Pactual. Esteves não confirma, mas a versão mais aceita na Faria Lima é que a sigla quer dizer “better than Goldman”, significando melhor que o Goldman (Sachs), ícone dos bancos de investimento.

Em 2010, cruzaram-se os destinos do BTG Pactual e do PanAmericano, problemático banco do apresentador de televisão Sílvio Santos. No ano anterior, a Caixa havia adquirido 35% do Panamericano por R$ 740 milhões. O acordo foi aprovado pelo Banco Central (BC) em julho de 2010 e, quatro meses depois, o Panamericano divulgou um rombo contábil. Inicialmente estimado em cerca de R$ 500 milhões, o buraco cresceria para R$ 4,3 bilhões devido a fraudes dos administradores. O problema era tão grande que ameaçou o império do apresentador, que teve de ser convencido pelo BC a abrir mão do banco. Em janeiro de 2011, o BTG Pactual, comprou a fatia de Silvio Santos no PanAmericano por R$ 450 milhões, numa operação financiada pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

VAREJO NA VEIA Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual, poderá ampliar as operações financeiras de massa. (Crédito:Silvia Zamboni)

Começou então a longa tarefa de sanear e modernizar o PanAmericano, rebatizado de Banco Pan. Inicialmente dedicado a financiar a venda das quinquilharias diversas oferecidas pelo Grupo Sílvio Santos por meio dos anacrônicos carnês, o Pan é hoje um banco digital completo que possui uma operação grande, estabelecida e lucrativa. No ano passado, o banco teve lucro líquido de R$ 655 milhões, alta de 27% ante o resultado de 2019. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) subiu de 11,4% para 12,8%.

Segundo a agência de classificação de risco Moody’s, a venda é boa tanto para o BTG Pactual quanto para a Caixa. A agência de rating nota que o banco estatal deve se beneficiar com uma melhor estrutura de capital e eficiência operacional. A venda permitiria à Caixa continuar a amortizar suas dívidas, que em dezembro de 2020 totalizavam R$ 31,8 bilhões. Desde 2019 a Caixa vem vendendo ativos não essenciais, como parte da Caixa Seguridade. Com a venda das ações, o banco estatal deve, finalmente, obter algum lucro por ter salvo o PanAmericano. O banco estatal pode embolsar cerca de R$ 1,6 bilhão.

CLASSE C Segundo a Moody’s, a operação também foi positiva para o BTG Pactual. O banco vai reforçar sua estratégia digital no varejo, melhorar seus resultados e reduzir a volatilidade dos lucros. Com o Pan, que deverá permanecer como uma empresa independente e com marca própria, o banco presidido por Roberto Sallouti consegue aumentar seus negócios na baixa renda de forma sustentável. No último trimestre do ano passado, o Pan originou R$ 10,2 bilhões em empréstimos, nas linhas do consignado, veículos e cartão. No início de 2020, o banco havia lançado uma conta digital, para fazer pagamentos. Algo que o próprio BTG havia feito em 2019. Com isso, o Pan mira em um objetivo perseguido por várias fintechs, que é fidelizar essa multidão de clientes com pouco dinheiro por meio de relacionamentos bancários. E o BTG obtém uma ferramenta para expandir sua atuação no crédito de varejo, mais rentável e sustentável no longo prazo do que as operações de tesouraria, gestão de ativos e banco de investimentos que sempre foram seu carro-chefe. O acordo ainda precisa de aprovações regulatórias e, por isso, BTG Pactual, Banco Pan e Caixa não comentam o assunto.