O egípcio Naguib Sawiris tem comportamentos incomuns para um bilionário. Ex-presidente do conselho do grupo egípcio Orascom e com um patrimônio pessoal de US$ 5,8 bilhões (R$ 21 bilhões), Sawiris fez o que os grandes investidores não costumam fazer: contar sua estratégia. Em uma entrevista à Bloomberg no início de maio, ele disse com todas as letras que investiu metade de sua fortuna em ouro. “As pessoas tendem a comprar ouro em momentos de crise e há dezenas de crises ocorrendo”, disse ele. “Veja a situação no Oriente Médio, por exemplo, e o senhor Trump não está ajudando.”

Na entrevista, que não afetou os preços do ouro, Sawiris disse esperar que os mercados de ações desabem nos próximos meses. Em sua avaliação, isso vai elevar a demanda pela commodity. Em suas projeções, a onça-troy do metal, (31,1 gramas) hoje cotada a US$ 1.293 (R$ 4.758), pode chegar a valer US$ 1.800 (R$ 6.624) antes do fim do ano. Para surfar nessa alta de 39%, Sawiris disse estar comprando tanto o metal diretamente, quanto investindo em ações de minas de ouro mundo afora. O bilionário é o segundo homem mais rico do Egito.

Só perde para Nassif, seu irmão mais moço, que o sucedeu à frente do conselho da empresa e possui um patrimônio de US$ 6,1 bilhões. Ambos são filhos do patriarca Onsi, que fundou o grupo Orascon como uma empreiteira em 1950 para se aproveitar da onda nacionalista egípcia liderada por Gamal Nasser. Nos últimos 15 anos, a companhia, que faturou US$ 3,6 bilhões, foi além das obras e investiu em bancos e telefonia. No fim de 2016, Sawiris fez uma oferta de US$ 1,25 bilhão pelo controle da brasileira empresa de telefonia Oi, que está em recuperação judicial. Mas as negociações não avançaram. Considerado o enfant terrible da família, Sawiris apostou, há dez anos, cerca de meio bilhão de dólares na criação da Koryolink, primeira empresa de telefonia da Coreia do Norte. Se as negociações de paz entre Kim Jong-un e Donald Trump prosperarem, Sawiris pode ganhar muito dinheiro com sua aposta arriscada.

Os especialistas em investimentos não concordam com a estratégia de Sawiris. Segundo Barry Ritholtz, diretor da empresa de análise americana Cognitive Dissonance, há duas falhas no raciocínio do bilionário. A primeira é que ele está prevendo que os mercados de ações estão supervalorizados e vão apresentar uma queda drástica. A segunda é que essa queda vai levar os investidores a buscar refúgio no ouro. “Não há nada que indique uma relação entre esses dois movimentos”, diz ele. Ritholtz também avalia que colocar metade de seu patrimônio em um investimento especulativo, como o ouro, também não é prudente. “Concentrações oferecem tanto grandes ganhos quanto grandes perdas em potencial”, diz ele.