A paulistana Maria Eduarda Ricioli, 2 anos, de camisa rosa na foto ao lado, gosta de brincar de enfermeira, o que pode indicar a carreira que ela vai escolher no futuro. Qualquer que seja sua decisão, o pagamento dos estudos já está garantido. No início do ano, Paulo e Cláudia Ricioli, pais de Maria Eduarda, iniciaram uma previdência privada para a menina. No ano que vem eles vão fazer o mesmo para Fernanda, 11 anos, e para Júlia, nascida há um mês. “Nosso foco é a educação das meninas, poupamos para que elas tenham um patrimônio aos 18 anos”, diz Cláudia.

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Os Ricioli: investindo no futuro de Maria Eduarda (à esquerda); no ano que vem, será a vez de Fernanda (ao centro)

 

O exemplo de pais previdentes como Paulo e Cláudia vem sustentando uma contínua alta nas vendas de planos de previdência privada para clientes que estão muito longe de ganhar o primeiro salário, quanto mais de se aposentar. 

 

No primeiro semestre deste ano, a arrecadação dos planos de previdência para crianças  somou R$ 663,09 milhões, 3% do total do setor.A aproximação do Dia das Crianças é vista pelos bancos e seguradoras como uma oportunidade de negócios. 

 

“Esperamos vender 40 mil planos em outubro”, diz Alessandro Andrade, superintendente de previdência do Santander. As empresas têm lançado produtos específicos para os pequenos. É possível fazer uma previdência para os filhos a partir de R$ 25 por mês.

 

Os planos jovens são muito parecidos com os fundos de previdência tradicionais vendidos para os adultos. “Os extratos são ilustrados e coloridos, mas o objetivo é o mesmo, acumular dinheiro”, diz Robert Craddock, especialista em previdência da seguradora americana MetLife. 

 

A vantagem é que o resgate ainda está longe, o que permite fazer o dinheiro render por mais tempo. Quem começar a depositar R$ 100 por mês quando a criança nascer terá R$ 38 mil aos 18 anos, calculando juros nominais de 6% ao ano e antes de pagar os impostos. 

Se o valor subir para R$ 200, o saldo no último mês será de R$ 77 mil (observe o quadro ao lado). “Se os pais tiverem uma perda de poder econômico, a previdência vai garantir a formação dos filhos”, diz Luiz Claudio Friedheim, diretor da Mongeral Aegon.

 

É preciso, porém, ficar muito atento aos custos. Todos os planos de previdência privada cobram duas taxas. Uma delas é a de administração, que incide sobre todo o patrimônio e varia de 0,5% a 2% ao ano. 

 

Há também a taxa de carregamento, uma espécie de pedágio cobrado na aplicação ou no resgate, que varia de seguradora para seguradora, e que faz muita diferença na ponta do lápis. É comum que as empresas de previdência associem seguros aos planos. Por alguns reais a mais por mês é possível comprar uma proteção adicional que vai garantir a mesada em caso de morte dos pais. 

 

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Os especialistas também recomendam que as aplicações não sejam tão conservadoras. “O investidor pode escolher o percentual máximo para aplicações de renda variável, pois o jovem tem tempo para recuperar-se de perdas na bolsa”, diz Osvaldo Nascimento, diretor da Itaú Unibanco Seguros.

 

Outro detalhe importante é o regime tributário. É preciso optar entre o VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) e o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), que se diferenciam em relação à tributação. 

 

No caso do PGBL é possível deduzir o valor das contribuições da base de cálculo do Imposto de Renda, com limite de 12% da renda bruta anual. Esse benefício só compensa para quem tem rendimento tributado na fonte e declara o imposto de renda no formulário completo. 

 

Esses pormenores foram considerados pelo executivo Victor Maia. Seus filhos são sonhadores. Thomas Maia, 19 anos, quer ter dinheiro. Maria Antônia, 9, quer comprar o próprio cavalo quando fizer 18 anos. 

 

São sonhos, mas estão planejados. O pai  dos jovens investe em um plano de previdência privada para eles há dez anos. O objetivo é acumular até R$ 80 mil para cada um quando chegarem aos 20 anos. “Eles terão dinheiro para poder dar os primeiros passos”, diz o pai, executivo da área de resseguros.