Ex-ministro do Planejamento do governo Sarney, um dos sócios do banco Inter American Express, filiado ao PMDB e um dos pais do Plano Cruzado. O dono desse currículo, João Sayad, 55 anos, parece não ter nada a ver com o PT. Mas foi o nome dele que inaugurou, na quinta-feira passada, a composição do secretariado da futura prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. E chegou com honras dedicadas pelo partido a poucos homens públicos. Ocupará uma das pastas mais importantes do governo municipal, batizada como Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico. Uma sala já está reservada para Sayad na recém-inaugurada sede do governo de transição, numa ampla e elegante casa da Avenida Brasil, endereço nobre na capital paulista. E não precisou esperar até 1º de janeiro, dia da posse, para assumir sua cadeira ao lado de Marta. Na sexta-feira passada, viajou com ela para os Estados Unidos. Na agenda, vários encontros com representantes do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial (Bird). ?Minha grande tarefa é conseguir recursos para viabilizar os projetos da Prefeitura?, antecipa Sayad.

 

Não será missão das mais fáceis. O cofre da Prefeitura reserva surpresas negativas ao futuro secretário. A dívida acumulada chega a R$ 18 bilhões, contra um orçamento de aproximados R$ 7,5 bilhões. ?Será um rabo de foguete?, avalia o ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega. Além do peso inegável dos números, a Prefeitura se debate contra a regra da Lei de Responsabilidade Fiscal que limita a capacidade de endividamento dos governos municipais. Sayad diz ainda não ter respostas a esse impasse. ?Sei que não podemos nos endividar até o próximo jubileu, mas qualquer análise ainda é prematura?, afirma. ?Eu acabei de ser indicado, nem ganhei o meu primeiro salário. Tenho que conhecer os números da Prefeitura para definir o plano de trabalho?, acrescenta. Ele dá algumas pistas: vai renegociar contratos e melhorar o sistema de arrecadação.

Também deverá impor arrocho nos gastos públicos, uma das principais características de Sayad durante sua gestão como secretário da Fazenda de São Paulo. Manteve-se no posto de 1983 a março de 1985. Em seguida, assumiu o Ministério do Planejamento. Foi um dos autores do Plano Cruzado, programa econômico heterodoxo que congelou preços. O fracasso levou ao desabastecimento e à volta da inflação. Desfeitos os encantos do plano, tiveram início os conflitos com o então ministro da Fazenda, Dilson Funaro. Saiu do governo, em 1987, enfraquecido.

O período que passou em Brasília, porém, deu a Sayad a possibilidade de aproximar-se do agora presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar da intimidade que desfruta com o presidente, o futuro secretário tornou-se um crítico mordaz do neoliberalismo e da política da equipe econômica. A oposição ao governo não o intimida: ?Serei um bom interlocutor nas negociações que comandar em nome da Prefeitura?, garante.

Nos últimos 13 anos, Sayad dedicou-se à vida privada. Montou em 1988 uma consultoria, que virou corretora até se transformar no Banco SRL, em sociedade com dois de seus ex-auxiliares no governo. Em 1997, associou-se ao American Express Bank, nascendo o Banco Inter American Express, que detém hoje um patrimônio de mais de R$ 120 milhões e um total de ativos reais de R$ 900 milhões. Embora formalmente ocupe a presidência do banco, Sayad hoje não participa mais do dia-a-dia da instituição. Já licenciado do Inter American Express, Sayad, casado com Cosette Alves, ex-proprietária do Mappin, confessa estar animado com a volta à vida pública. ?O que foi decisivo para aceitar o convite? O fato de ser paulistano, até bairrista com a minha cidade. Quero o melhor para ela?, explica o ex-ministro, banqueiro e futuro secretário