O Ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, colocou as cartas na mesa e preparou aquele que foi talvez o maior teste de sua gestão: o gigantesco projeto de leilões para destravar cerca de R$ 10 bilhões em investimentos. Em um contexto de piora da pandemia, com as empresas ressabiadas pela incerteza do cenário, Freitas incluiu 22 aeroportos, hoje operados pela Infraero, mais cinco terminais portuários e o primeiro trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, na Bahia, em um pacotão de concessões ao qual ele batizou curiosamente de “Infra Week”, numa alusão as semanas de moda da “Fashion Week”. E está se saindo bem. Ele alega que não “inventamos demanda”, que “o momento é bom para leilões” e seu faro tem dado certo. Vendeu bem as concessões. Não é a primeira vez. Logo no início da gestão Bolsonaro também mergulhou em uma operação semelhante. Arrebatou ótimos resultados e foi catapultado à condição de estrela ministerial. No momento, o nome de Freitas vem sendo avaliado até para uma vaga de “vice” na chapa do mandatário para 2022. Ele, por enquanto, diz não. Alega que as especulações abrem espaço para loteamento político na sua pasta. O foco do ministro no momento está nas concessões. Ele pretende contratar R$ 250 bilhões em investimentos até o final do mandato do presidente. Colocou a cifra como meta. Nesses últimos lances espera garantir mais de 200 mil empregos diretos e indiretos ao longo dos arrendamentos. Seus números são sempre grandiloquentes e destoam do baixo resultado médio dos demais parceiros da Esplanada dos Ministérios. Daí a condição de “queridinho” do Planalto. De um modo ou de outro, a movimentação de Freitas vem a calhar. No âmbito das empresas públicas as coisas não vão nada bem. As estatais já perderam cerca de R$ 97 bilhões em valor de mercado nos seus ativos, devido às turbulências políticas. Especialmente a Petrobras, o Banco do Brasil e a Eletrobras, devido ao intervencionismo escrachado do governo, amargaram um significativo recuo de valorização das ações. As reformas paradas, o quadro de avanço da Covid-19 e a queda nas expectativas dos investidores contribuíram para deteriorar ainda mais o quadro. O apetite estrangeiro por essas empresas diminuiu na exata dimensão dos avanços do mandatário sobre os planos de cada um delas. Na ponta do lápis, os arroubos intervencionistas de Bolsonaro custaram mais do que a mera queda de preço de ativos. Foram capazes de fazer evaporar as linhas de crédito e oportunidades de negócios internacionais. De certa maneira, tanto como no âmbito público, o investimento na área privada também vem caindo de maneira assombrosa. Um levantamento da Consultoria Economática, considerando o nível de recursos para melhoria ou expansão dentro de 221 empresas, apontou que, no conjunto, elas reduziram de R$ 338 bilhões, em 2011, para R$ 153 bilhões, no ano passado, o volume total de investimentos puros (aqueles bancados diretamente por elas). O que mais preocupa é o que a redução sinaliza. Afinal, o dinheiro deixado de empregar em modernização ou expansão representa falta de interesse em ampliar seu parque industrial ou ausência de capacidade de investimento – as duas coisas agravadas por uma demanda em queda acentuada. É preciso que o País recupere a crença no seu futuro e talvez o projeto do ministro Tarcísio seja um bom começo.

Carlos José Marques, diretor editorial