Em Brasília, nos gabinetes parlamentares e mesmo nos corredores das sedes de campanha dos presidenciáveis, que vão às urnas dentro de pouco mais de dois meses, começa a ser discutido, finalmente, o que será da economia brasileira a partir do ano que vem. Cenários diversos e questionamentos de toda ordem pululam das conversas. O impacto da PEC Kamikaze figura como a grande dúvida. Muitos dizem que ela condena o Estado a praticamente contar com recursos parcos para qualquer investimento essencial de um novo governo — seja ele qual for. O tamanho do ritmo inflacionário e do custo com a dívida, via juros altos, na casa dos dois dígitos, também irão contar como variantes importantes. A preocupação de fundo é quanto ao tamanho do crescimento do PIB possível de alcançar nesse quadro. E até mesmo sobre o risco recessivo, que também paira no ar em virtude, basicamente, dos informes que vêm de fora aventando as chances de crises nos EUA e na Europa. No conjunto, as propostas econômicas que estão sendo desenhadas passam por expectativas conservadoras, até modestas, de baixo desempenho em um mercado que tem o consumidor retraído e com baixo poder de compra. Técnicos e assessores dos candidatos — especialmente daqueles que postulam o lugar de Bolsonaro — temem que o estrago nas contas seja pior do que aparenta e, por isso, evitam falar em retomada consistente. Para eles, uma das prioridades será a da reconstrução das relações externas, desprezadas na atual gestão — o que levou o Brasil ao triste status de pária do mundo. É pelo comércio exterior que economistas graduados acreditam existir uma porta de saída que drible a apatia de recursos públicos, uma realidade após a pororoca de benefícios eleitoreiros lançados nos últimos meses. No Planalto a preocupação com o assunto é praticamente nula. O tema nem entra em pauta. Já nos gabinetes do Ministério da Economia passou a ocorrer, de uns dias para cá, um certo clima de euforia motivado pelo desempenho surpreendente da arrecadação de impostos, que alcançou R$ 1,1 trilhão já no primeiro semestre — melhor resultado desde 1995. Ninguém realmente esperava tamanho volume, que correspondeu a uma alta de 11% sobre o mesmo período de 2021, já descontada a carestia. A perspectiva de outro lote dessa envergadura pode mudar por completo os cálculos sobre a folga orçamentária da União mais adiante. O ministro Guedes comemorou e usou os números para mostrar como a banca estava errada no recorrente pessimismo. Bem verdade que apenas um desempenho tributário alvissareiro não é o suficiente para falar em retomada estrutural. Mas, como diz o ministro, o resultado demonstrou a capacidade do Estado para superar os problemas mais agudos gerados pela pandemia. No seu entender, passada a guerra na Ucrânia e a Covid, o Brasil terá tudo para decolar. Em um cenário global de escassez de alimentos, a condição privilegiada do País, de celeiro do mundo, vai ajudar na aceleração de negócios e resultados, aponta Guedes. No aspecto das inversões externas auxiliarem no desafogo da economia por aqui, tanto a turma do atual governo como a dos postulantes à vaga do capitão concordam com o diagnóstico. Estão sobrando ativos internacionais, sem maiores oportunidades de lucro, e o capital — diante do risco, que é generalizado na praça — tende a se dirigir para onde rende mais.

Carlos José Marques
Diretor editorial