A pandemia escancarou a desigualdade social no Brasil. Os trabalhadores das classes mais altas tiveram a opção do home office enquanto os que estão nas camadas mais baixas se viram obrigados a encarar o transporte público para se deslocar. Mas parte deles optou pelo uso de aplicativos de mobilidade, movimento constatado pela 99, por meio da pesquisa Como as Periferias se Reconectam com a Cidade. A empresa pertencente ao grupo chinês Didi Chuxing viu crescer a demanda nas classes C e D e aposta no potencial dos moradores de áreas periféricas, nos 1,6 mil municípios atendidos pela companhia, para se tornar o maior app de mobilidade e conveniência do País. “Não podemos atingir esse objetivo sem incluir as classes C e D”, afirmou à DINHEIRO Livia Pozzi, diretora de operações da 99. “Quando a gente pensa na pirâmide brasileira, obviamente teremos de entrar mais pesado neste segmento.”

99 torna nacional função em que motoristas mulheres têm corridas apenas com passageiras

O estudo realizado pela 99 em seis capitais (Belo Horizonte, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo) mostrou que 95% dos entrevistados fazem uso recorrente do aplicativo e 55% aumentaram a frequência durante a pandemia. Além disso, 4% utilizaram pela primeira vez o meio de transporte. A pesquisa identificou ainda que 20% das pessoas que moram nas periferias não puderam realizar o isolamento e cerca de 32% o fizeram apenas pelo período de um a três meses. “É um público que não podemos ignorar, que tinha uma necessidade de mobilidade segura para manter o sustento e continuar se locomovendo pela cidade”, disse a executiva.

O incremento de passageiros das classes C e D ajudou a 99 no processo de retomada das corridas, após queda de 60% na demanda nas primeiras semanas da quarentena, entre meados de março e abril. A recuperação foi gradual e atingiu 100% em setembro. No intervalo, a empresa adotou estratégias que garantiram a viabilidade econômica do negócio, rendimento aos 750 mil motoristas e aos entregadores, além de segurança a todos os envolvidos na operação. São 1 mil colaboradores e 20 milhões de clientes ativos pelo País. Foram investidos, apenas no segundo semestre, R$ 157 milhões em produtos, sendo R$ 90 milhões em novidades. “Trouxemos coisas que não estavam no nosso roadmap para o ano.”

CORRIDA ACIRRADA Diversificação de serviços faz fatia da 99 crescer no mercado brasileiro. Para o futuro, empresa prevê mais lançamentos. (Crédito:Divulgação)

Entre as iniciativas implementadas pela empresa, estão o 99Pay, a carteira digital que visa beneficiar, segundo Livia, 40 milhões de brasileiros que não têm o acesso devido às soluções bancárias, além de reduzir o risco de contaminação pelo coronavírus. “Ao menos 70% das nossas corridas no Brasil hoje são pagas em dinheiro. O 99Pay é uma forma de reduzir o uso de cédulas, de tirar a moeda de circulação”, afirmou. O serviço já tem 500 mil usuários e oferece vantagens, como descontos nas corridas e no 99Food (plataforma de entrega de refeições). Ele se junta a serviços como o 99Entrega (que permite ao usuário receber ou enviar objetos pessoais), e o 99Poupa (disponível em momentos de baixa demanda, em que oferece corridas até 30% mais baratas). Também foi implantada a chamada de corrida via WhatsApp. “Ele já faz parte da rotina de mais de 120 milhões de brasileiros. Funciona muito bem em local de baixa conectividade também. Vai ao encontro das nossas expansões”, afirmou a executiva.

EM CRESCIMENTO As estratégias adotadas pela 99 nos últimos anos parecem surtir resultado. A cada ano, o aplicativo de mobilidade ganha participação no mercado brasileiro. Pesquisa sobre o comércio móvel nacional realizada em agosto de 2020 com 1.567 internautas pelo site Panorama Mobile Time, com a Opinion Box, mostra que a empresa chinesa encurtou a distância para a líder Uber. Em agosto de 2019, a 99 detinha 22% da preferência, contra 73% da concorrente. As demais, 5%. Agora, a asiática soma 24%, frente a 69% da Uber e 7% das outras.

Apesar do crescimento no mercado brasileiro, a 99 revela preocupação em relação aos aspectos econômicos e sociais decorrentes da pandemia que, segundo Livia, não permitem uma visão de longo prazo. As perspectivas de aumento da inflação e dos juros, o desemprego em alta, o crescimento dos casos de contaminação e o ritmo de vacinação dificultam um planejamento preciso. “São vários fatores. Assim, planejamos um horizonte de tempo mais curto.”

Apesar disso, Livia afirmou que os principais desafios da 99 estão relacionados a se posicionar e se consolidar como uma opção para as classes C e D. “Isso envolve não só a demanda, mas como a gente ter um produto que caiba no bolso das pessoas e, ao mesmo tempo, equilibrar a equação de manter uma renda para os nossos motoristas”, disse. A companhia também mira expandir o 99Pay a toda operação (agora, atende a nove municípios) e torná-lo a terceira maior carteira digital do País, além de ampliar o serviço do 99Food, atualmente em 18 cidades. “A nossa proposta gera um ciclo virtuoso que vai trazer uma vida mais fácil. Mais transporte, acesso às cidades e às diferentes classes sociais.” Aparentemente, o caminho da 99 para os próximos anos está traçado.