Às vésperas do tão esperado 7 de Setembro, data que entrará para a história como o bicentenário da independência, grande parte do setor empresarial brasileiro prepara a toca do silêncio para as celebrações daquele que será lembrado como o Dia do Desperdício. Desperdício de oportunidade. Desperdiço de exemplo. Desperdiço de conduta. Desperdiço de moral. Desperdício de maturidade.

Comandantes dos principais conglomerados produtivos do País, muito bem formados desde o berço e cientes da insanidade que assombra a estabilidade democrática, têm empurrado para debaixo do tapete uma das maiores chances de suas vidas, a de tomar posição diante dos ataques sincronizados do acuado presidente Jair Bolsonaro e sua trupe golpista.

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Nos bastidores, quase sempre em off, peixes graúdos da economia se mostram incisivos nas críticas ao governo, nos ataques aos chiliques paranóicos do zero-zero – principalmente quando algum de seus filhos zero-alguma-coisa entra na mira da Justiça – e quando novos indicadores econômicos atestam a acelerada corrosão do ambiente de negócios. Notas de repúdio de entidades de peso, como Fiesp e Febraban, parecem cartinhas de amor de pré-adolescentes de quinta série.

A história mostra que a ausência de posição em momentos cruciais da política sempre custa caro para os que decidem por não tomar decisão. Não é novidade para ninguém que o Holocausto não teria prosperado na mesma velocidade sem o suporte da poderosa indústria alemã. A chamada Solução Final teve tecnologia de gigantes como Siemens e International Business Machines, a famosa IBM. Recebeu apoio e aplausos de Gustav Krupp, líder da Associação da Indústria Alemã do Reich e dono da siderúrgica que viria a se tornar a ThyssenKrupp. Contou com montadoras como Mercedes-Benz, Volkswagen e BMW, entre muitas outras.

Obviamente, essas empresas reconheceram o erro, pediram desculpas e se reconstruíram. Algumas alegaram ter sido obrigadas a servir ao autoritarismo nazista, outras admitiram que apenas ficaram do lado errado. A página virou, mas a história não poderá ser reescrita, apesar do esforço de presidentes que acham bonito imitar Donald Trump e criam suas versões alternativas dos fatos.

Guardadas as devidas proporções no paralelo entre períodos da história, o atual momento não se assemelha à Alemanha de Hitler, mas a relembra no comportamento de um grupo da economia. Aqueles mesmos CEOs, chairmans, acionistas ou donos puro-sangue que falam grosso em reuniões de Conselho, em entrevistas ao vivo na tevê e em teleconferências com analistas para divulgar resultados e aquisições, agora se apequenam frente ao maior de todos os perigos.

Por medo do confronto aberto, se calam. Por medo de perder aquele financiamento filé do BNDES, tentam passar despercebidos. Por medo de afastar uma potencial boquinha na Caixa ou no Banco do Brasil, homens viram meninos. Para a economia e para a democracia, é um triste desserviço quando grisalhos se isentam como crianças e, sob a falsa percepção de benefício aos negócios, transformam em parquinho a democracia brasileira.