Uma lenda conta que a Caninha 51 tem esse nome porque seus produtores, supersticiosos daqueles que correm de gato preto, armazenavam a melhor aguardente da safra sempre no mesmo barril, o de número 51. Outra garante: 51 foi a quantidade de doses que um mendigo de Pirassununga (interior de São Paulo, berço do produto) conseguiu tomar num único dia ? 50 para ele e uma ?para o santo?. Tudo lorota. A 51 se chama 51 porque foi fundada em 1951. Simples assim. Simples como o eficiente slogan da marca ? ?Uma boa idéia? ? e a filosofia que caracteriza a trajetória de seu fabricante, a Companhia Müller de Bebidas. ?Estamos constantemente analisando o mercado. Se as pessoas demonstram que estão dispostas a consumir algo novo, corremos atrás?, resume Luís Augusto Müller, presidente e proprietário da empresa. Foi assim que dois meses atrás, depois de quatro anos sem novidades, o empresário resolveu dar uma complicada na vida e fincou os pés num ringue cada vez mais disputado, o de sodas alcoólicas. Lançou a 51 Ice, uma mistura de cachaça, água carbonatada e essências de frutas (tangerina, maracujá, lima e limão, por enquanto). Nomes estrangeiros já consolidados como Smirnoff Ice e Sub Zero não o assustam. ?Nossas pesquisas indicam que já temos 15% do novo segmento?, diz ele. Com o produto, Müller não quer apenas aumentar a sua participação num mercado estimado em R$ 70 milhões anuais. A 51 Ice nasceu com uma missão que de simples não tem nada: agregar valor à marca e liquidar o estigma que ronda a cachaça no Brasil. ?Uma pessoa pode se embebedar com uísque 12 anos, mas sempre vai ser taxada como ?cachaceiro?. Deveria ser ?uísqueiro??, reclama o empresário. ?Essa imagem negativa prejudica demais o nosso negócio.?

 

Müller defende a sua mina de ouro. A Caninha 51, cuja produção está com a sua família desde 1959, é a mais comercializada do País. Responde por 33% das vendas nacionais, que somam 1,3 bilhão de litros e US$ 600 milhões ao ano. É a filha mais velha e mais rentável da Müller, que faturou R$ 450 milhões em 2001 e deve crescer 8% este ano. A empresa tem duas fábricas (uma em Pirassununga e outra em Recife-PE), destila 300 milhões
de litros de pinga por ano e freqüenta prateleiras, gôndolas e balcões de 900 mil pontos-de-venda em todo o País. Além da 51, produz o conhaque Domus, terceiro colocado no ranking nacional,
o preparado em pó Caipirinha Mix, e as cachaças 29 e Terra Brazilis. A 51 Ice, artífice do reposicionamento da marca-mãe, chegou mostrando que a investida é para valer: rótulo importado da
França, slogan em inglês (?Good Idea?) e preço superior ao das concorrentes feitas à base de vodca. A garrafinha longneck custa
R$ 3,77 no varejo. A pioneira Smirnoff Ice sai por R$ 3,39. ?O objetivo é incutir no público jovem um novo conceito da marca
51?, explica Milton Bigi, 24 anos de Sadia e atual superintendente
de marketing da Müller. Quanto está custando essa mudança?
Cerca de R$ 36 milhões só em publicidade.

A tática da companhia desenrola-se num momento especial. ?O brasileiro perdeu a vergonha de tomar cachaça?, comemora Maria das Vitórias Cavalcanti, dona da marca Pitu e presidente do Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana. ?Ele viaja, vê que a caipirinha de pinga está na moda na Europa e passa a enxergar o produto nacional com outros olhos.? Some-se a isso o trabalho bem feito por pequenos alambiques mineiros e fluminenses, que agregaram valor à pinga envelhecida e hoje se dão ao luxo de cobrar R$ 100 por uma garrafa, e pronto: o mercado cresceu 10% este ano. ?Queremos que a cachaça seja reconhecida mundialmente como um produto brasileiro, como os mexicanos fizeram com a tequila. E a 51 Ice dá uma contribuição enorme para isso?, afirma Maria das Vitórias. É a concorrente que está dizendo.