Por causa de uma regulação ainda restritiva da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os participantes do mercado acionário local (bancos, gestoras e corretoras) sempre concentraram o ambiente de negócios em ativos domésticos, no chamado risco Brasil. Mas essa situação está mudando, e segundo a expectativa de Gilson Finkelstain, presidente da B3, em breve uma nova resolução da CVM talvez possa permitir o desenvolvimento do mercado de recibos de ações estrangeiras listadas no Brasil (BDRs) para o varejo. Atualmente, a compra e venda direta de BDRs só é permitida para o investidor qualificado, com mais de R$ 1 milhão em patrimônio financeiro, embora seja acessado indiretamente pelo varejo de alta renda por meio de carteiras de BDRs e de fundos de investimento no exterior. “Nosso trabalho é ampliar o rol de ativos à disposição do investidor e do mercado. A audiência pública da CVM sobre esse tema deve encerrar em 10 ou 11 de fevereiro. No caso das BDRs, nós não precisamos de grandes desenvolvimentos [em tecnologia], o segmento está pronto [desde 2010, quando a antiga BM&FBovespa listou os primeiros 10 BDRs]”, diz. Pela previsão de Juca Andrade, vice-presidente de produtos e clientes da B3, o número de BDRs listados deverá saltar de 300 para 500 ativos ao longo de 2020, incremento que será útil para os participantes do mercado sancionarem novas carteiras, ETFs (Exchange Traded Fund) e fundos de investimentos no exterior. “Primeiro com mais empresas americanas (índice S&P 500), e depois com mais papéis da Europa e da Ásia”, afirma.

Enquanto essa resolução não chega, o investidor do varejo alta renda alcança esses ativos por meio de fundos e de ETFs, carteiras listadas na bolsa. Para Carlos Takahashi, CEO da BlackRock no Brasil, se a resolução da CVM ajudar será possível também trazer mais ETFs para serem listados no País. “Triplicou o número de investidores de ETFs no Brasil em 2019, mas talvez não faça mais sentido ter mais ETFs do mesmo índice [Ibovespa ou S&P 500], mas sim, se precisa de traders e de mais gente no mercado em outros produtos. Nessa pauta, a diversificação internacional é a mais importante”, diz. A gestora americana BlackRock atua com os ETFs BOVA (Ibovespa) e o IVVB (iShares S&P 500).

No caso das gestoras dos principais bancos, a Safra Asset Management se destacou com seu fundo Safra BDR N1 FIC Ações, que registrou ganhos nominais de 34,67% nos últimos 12 meses, superando a performance de outras instituições tradicionais. “Temos a tecnologia mais moderna para fazer nosso cliente ganhar dinheiro”, diz Ricardo Negreiros, diretor da asset do Banco Safra. Sobre a estratégia utilizada para proporcionar mais ganhos, Negreiros contou que a equipe de gestores seleciona BDRs de setores em crescimento num fundo ativo. “Se o ciclo muda, nós mudamos a estratégia. Mas nesse cenário vamos continuar com ações de crescimento. Alguns riscos globais estão diminuindo desde o pré-acordo comercial entre China e EUA , e com a vitória dos conservadores no Reino Unido sobre o Brexit”, afirma.

Eleição Americana Para Will Landers, sócio e chefe de renda variável da BTG Pactual Asset Management, vale lembrar que 2020 será um ano de eleições presidenciais nos EUA, período em que a volatilidade em ações americanas tende a ser maior. “Volatilidade com algum tumulto. E mesmo com cenário de um pré-acordo do comércio (entre EUA e China), o presidente americano Donald Trump muda de posição pelo menos três vezes por semana”, diz. Na plataforma do BTG Pactual Digital, a instituição lista diversas carteiras de terceiros com BDRs ou referenciados no S&P 500 que tiveram desempenho próximo do índice BDRX (30,86% no ano) e também um fundo próprio, o BTG Pactual Absoluto Global EQ USD FIC FIA IE, que entregou retorno de 22,81% aos cotistas em 2019 até 16 de dezembro.

Na mesma linha de argumentação, Martin Iglesias, responsável pela gerência de produtos de investimentos do Itaú diz que vamos enfrentar alguma volatilidade vinda do mercado internacional por causa da eleição americana. “Mas vale diversificar um pouco em dólar, bolsa americana, ETF S&P 500, fundos BDRs, COEs e fundos de renda fixa ativo que atuam no mercado americano”, afirma.

Aos potenciais investidores que preferem se consultar com gerentes ou assessores de investimentos nos grandes bancos de varejo sobre aplicações em BDRs, vale citar que em 2019, o fundo Itaú Ações BDR N1 teve retorno de 33,24% até 16 de dezembro, seguido pelo Caixa Ações BDR N1 (com 33,11%), BB Ações Globais BDR1 (com 29,99%), e o Bradesco FIC FIA BDR N1 (com 18,32%) no período.

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