Se o Brasil fosse uma pessoa, ele precisaria de suporte psicológico para tratar a compulsão por se enfiar em crises que envolvem o chefe da República. Desde 2014 entramos em um looping de tensões e problemas evitáveis com presidentes, e, de alguma forma, nos acostumamos a viver no caos. Mas isso precisa parar. Nós, brasileiros, precisamos entender que merecemos e podemos ter algo melhor e quando isso acontecer, a economia melhora, a saúde melhora e o País avança. Para comprovar minha teoria vou usar aqui os cinco sinais de um relacionamento tóxico, que foi elencado pela psicóloga norte-americana e autora de três livros sobre o assunto, Ginnie Love Thompson.

  • Ele nunca assume a responsabilidade

O presidente Bolsonaro possui uma imensa dificuldade em aceitar a culpa de alguns problemas que são inerentes às decisões tomadas no cargo. A mais recente é a alta constante no preço dos combustíveis para o consumidor. A decisão de como nivelar os preços cabe ao presidente da República. Ele pode, como fazia a Dilma, segurar o valor de modo artificial (que traz enormes problemas para a empresa e para a economia) ou deixar que os preços do barril de petróleo sejam equiparados com a oferta mundial (o que torna o litro na bomba mais volátil). Essa decisão cabe ao presidente da República porque a Petrobrás, apesar do capital misto, é de controle do governo federal. Mas Bolsonaro não assume isso. Segundo ele, o problema da alta do combustível é dos governadores. Vale lembrar que o Tesouro Direto informa que, nos últimos 37 meses, nenhum governador mexeu na alíquota do ICMS, a última mudança consistente foi antes da eleição de Bolsonaro.

  • O Brasil deixou de cuidar de si

Quando envolvido em um relacionamento tóxico, a parte abusada costuma se sentir tão pressionada psicologicamente que deixa de olhar para si. Ela deixa de conseguir entender seus problemas que antecedem o relacionamento tóxico, e como eles se agravaram. No caso do Brasil, a economia brasileira tem arrastado problemas crônicos que antecedem Bolsonaro, mas que deixamos de olhar de forma pragmática. A desigualdade social, os problemas tributários, o tamanho do Estado são exemplos claros de problemas que não foram causados por Bolsonaro, mas que serão impossíveis de serem resolvidos se não abandonarmos essa relação.

  • Quando contrariado, ele ignora

Nem sempre uma briga significa que o relacionamento é tóxico.  O sinal de alerta precisa ser ligado quando o abusador usa o silêncio como punição. Aos jornalistas, Bolsonaro implementou o silêncio como tônica de comunicação mesmo que isso custe, além de muita frustração dos que estão trabalhando, um silêncio generalizado para todos os brasileiros. Por hábito, o abusador não toca em assuntos que o incomodam, mas faz questão de falar sobre seus feitos com os amigos e apoiadores.

  • O Brasil se sente exausto

Um sintoma clássico de um relacionamento tóxico é a vítima se sentir constantemente estupefata.  O motivo é que a energia mental para tentar evitar o desgaste, o medo constante de fazer algo que vá desencadear uma reação ainda pior, a constante tensão pelo próximo problema são fatores que exigem da vítima esforço mental exaustivo.

  • Ele é passivo agressivo nas “críticas construtivas”

Entender os problemas do Brasil e criticar erros de percurso é um ponto importante de crescimento, mas dentro de um relacionamento tóxico o abusador usa a crítica para baixar a auto estima, e não para apontar alternativas. Essa é uma tática de manipulação clássica, usada inclusive na literatura romana como técnica de controle de cidades inteiras. Quando Bolsonaro afirma que, se mudar de caminho político, o Brasil está perdido ele passa a mensagem de que qualquer alternativa é errada e pelas constantes críticas, o Brasil se divide entre os que tendem a acreditar que ele está certo e os que estão cansados (e com medo) do que ele pode fazer.

Se tudo isso não basta para comprovar a toxicidade desse relacionamento, no próximo artigo mostrarei outras cinco provas. Aguarde, será neste domingo (22).