Marcado pelas datas sazonais – como Black Friday, Natal, Ano Novo, férias, início do verão –, que fazem com que a roda da economia gire com mais agilidade, o segundo semestre pode apresentar boas oportunidades de negócio, principalmente para quem está começando a empreender agora.

No entanto, o que o novo empresário precisa saber é que, neste primeiro momento, é necessária atenção redobrada para não cometer erros simples, mas que podem ser fatais para a sobrevivência do seu negócio.

De acordo com o último levantamento do Sebrae, aqueles que se encaixam como Microempreendedor Individual (MEI) têm a maior taxa de “mortalidade”, entre os Pequenos Negócios: 29% fecham após 5 anos de atividade. 

Em relação ao setor, os empreendedores do comércio são os que mais fecham as portas: 30,2% encerram atividades em 5 anos.

Analisamos algumas áreas consideradas nevrálgicas para o bom funcionamento do empreendimento e separamos falhas comuns em cada uma delas, mas que não devem ser cometidas por quem pretende prosperar.

1. Não ter estratégia de marketing 

O problema: “É muito comum, ao iniciar um negócio, sobretudo digital, que um dos ímpetos do empreendedor seja sair falando sobre tudo [nas redes sociais] e publicando conteúdo sem ter feito uma análise de concorrentes e definido uma estratégia de presença digital de marca”, avalia Isabela Duarte Pimentel, sócio-fundadora da Comunicação Integrada.

A solução: Ela explica que, antes de postar, é necessário definir os objetivos de conteúdos, quais canais serão utilizados para dialogar com o público e como se relacionar com esses clientes. 

O diferencial: Não é necessário estar em redes sociais que seu público não está, ainda mais se você não tiver uma boa equipe para cuidar dessa área no início. “Nada pior do que enviar uma dúvida sobre um produto em um canal e a empresa te deixar sozinho”.

“Fazer um trabalho de comunicação e marketing digital sem um estudo do seu consumidor e dos canais  adequados vai levar a perda de tempo, verba e energia”, completa.

2. Esperar resultado imediato de influenciadores digitais 

O Problema: Usar influenciadores digitais para divulgar um produto pode dar muito certo, mas também pode dar errado se não houver planejamento e alinhamento de expectativas. Principalmente porque ainda é um desafio para marcas conseguirem acompanhar os resultados obtidos das parcerias.

A solução: “Uma das soluções é criar cupons de desconto para que o influenciador digital divulgue na mídia. Assim, toda vez que uma compra for finalizada utilizando esse vale, você saberá que foi a partir da ação do marketing de influência”, sugere Luiz Piovesana, CMO da Nuvemshop.

O diferencial: Para evitar frustrações, também é importante estudar o influenciador antes, ver se ele conversa com o seu público e analisar dados de mídia kit, que apontam o alcance desse influenciador e adequar a campanha ao que essa pessoa oferece: fidelidade, engajamento, construção de marca, etc.

3. Ignorar críticas do cliente

O problema: Não adianta ter um posicionamento impecável nas redes sociais e ganhar engajamento em posts na internet se o atendimento ao cliente está pecando. O “Customer Centric” é uma prática adotada pelas empresas, que coloca toda sua estratégia focada no potencial comprador. 

A solução: Por isso, não ignore as reclamações, se coloque no lugar do cliente, entenda as críticas como um canal para aperfeiçoar o atendimento, porque a experiência do cliente é um dos principais fatores para o sucesso de um negócio.

O diferencial: Pimentel defende a “regra de ouro dos 3T”. “Tempo certo: atender as demandas do cliente sem que ele perca interesse; Transparência: quando um produto estiver fora de estoque ou a empresa errar, saber pedir desculpas e apresentar uma forma de sanar o problema; e tom de voz: saber estar de forma consistente no canal certo e falar a mesma ‘língua’ do cliente”.

4. Perder o controle do fluxo de caixa

O Problema: Se vender é o mais importante para qualquer empreendimento, a segunda tarefa mais importante é gerenciar o fluxo de caixa, afirma o professor de Contabilidade da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Tiago Slavov. “Gerenciar o fluxo de caixa é um fator de sobrevivência de qualquer organização”.

A solução: Para os especialistas, o fluxo de caixa pode ser entendido como o caminho que o dinheiro percorre na empresa, como ele entra na “conta” e como ele sai dela. “Controlar os recursos que já foram movimentados é a primeira parte da gestão do fluxo de caixa. É necessário um controle rigoroso de tudo o que foi gasto e tudo o que foi ganho. Nenhum real deve entrar ou sair do negócio sem que o empreendedor tenha registro e conhecimento de sua origem ou destino”, recomenda Slavov.  

O diferencial: Leandro dos Santos Maciel, professor de finanças da FEA-USP, explica que, além disso, é fundamental o gerenciamento dos fluxos no sentido de evitar problemas de pagamentos, implicando em atraso. “Uma vez que a empresa, para fazer frente a essas saídas, pode necessitar se financiar e, caso tal financiamento não se encontre disponível, a manutenção das atividades operacionais põe-se em risco”.  

5. Não negociar

O problema: Um erro comum dos empreendedores é a contratação de serviços e outras despesas sem negociar, seja prazos ou valores. Os dois professores afirmam que a gestão do fluxo de caixa também influencia na hora de saber o que é possível e necessário barganhar.

A solução: “Em muitos casos, a antecipação de pagamentos consiste em uma ferramenta de redução de custos, por exemplo: a oferta de um prazo menor de pagamento a fornecedores pode ser acompanhada de uma solicitação de desconto”, orienta Maciel.

O diferencial: Slavov complementa incluindo outras dicas que podem diminuir os gastos do empreendedor: aquisição de máquinas ou instalações para reduzir custos de locação; terceirização de atividades; mudança de regime tributário para pagar menos impostos; ampliação do mix de produtos (ganho de escopo); ampliação do volume de venda (ganho de escala); compartilhamento de logística com outras empresas; ajuste de mão de obra ociosa (aumento da eficiência); e alteração do design de produtos ou embalagens, entre outros.

Saber o custo exato de um produto também pode ajudar a baratear alguns custos. Isso inclui saber se existem impostos recuperáveis, fretes adicionados, descontos por volume, entre outros.

“Em um salão de beleza que o profissional cobra R$ 50 pelo corte, mas é oferecido ao cliente diversos mimos (café especial, biscoitos, uma sandália etc.), pode ser que tirar esses mimos (reduzir o custo) não afetará a qualidade percebida do serviço pelo cliente (aumentando assim, a margem de lucro do produto)”, exemplifica o professor da FECAP.

“Por outro lado”, continua ele, “é possível até aumentar o custo se isso permitir agregar valor ao produto (e, portanto, ao preço). Uma montadora, por exemplo, tem ganhos maiores e carros com maiores custos, pois cobra um preço maior por isso”.