Nesta quarta-feira (09), o governador de São Paulo, João Doria, disse que o estado vai oferecer a 4ª dose da vacina contra a Covid-19 para toda a população independentemente da recomendação do Ministério da Saúde. A medida já vem sendo cogitada por países como Chile e Israel.

De acordo com Doria, ainda não há uma previsão de quando a quarta dose será aplicada, mas afirmou que isso já está sendo discutido pelo Centro de Contingenciamento do Coronavírus. “Avançando na segunda dose, nós poderemos avançar na dose de reforço, a quarta dose, seguindo uma ordem de faixa etária”, anunciou.

Segundo Jean Gorinchteyn, secretário estadual da Saúde, o governo paulista ainda não definiu se toda a população do estado vai receber a quarta dose. No entanto, há um entendimento, dentro do governo, de que haverá necessidade de aplicação da vacina contra a Covid-19 todos os anos, assim como já é feito na campanha de vacinação contra a gripe Influenza.

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Desde dezembro, o estado vem aplicando a quarta dose em pacientes transplantados, renais crônicos ou em tratamento quimioterápico. Até o momento, 80% da população do estado já tomou duas doses de vacina contra a Covid-19. Das pessoas que ainda não tomaram a segunda dose, metade é de pessoas entre 12 e 29 anos de idade. Já a terceira dose foi aplicada em cerca de um terço da população do estado.

Especialistas acreditam que a aplicação de mais uma dose de reforço é importante para alguns grupos, como profissionais da saúde, idosos e imunossuprimidos. Porém, para a população geral, o esquema vacinal anual pode ser mais eficaz.

Para Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, infectologista membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), a quarta dose tem se mostrado importante em situações muito pontuais no processo de aumentar a quantidade de anticorpos. “Ampliar isso para uma política pública é um questionamento já que não sabemos se há uma grande vantagem”, completa.

O infectologista acredita que será necessário criar estratégias para a imunização contra o coronavírus, com vacinas atualizadas para as novas variantes do vírus e com outras modalidades como o uso intranasal, que pode fazer com que os vacinados não transmitam o vírus.
“Pensar em uma quarta dose como política pública generalizada nesse momento é um pouco precipitado diante da perspectiva dos avanços da própria vacina, acho que a quarta dose é uma política muito mais restrita a esses grupos de maior vulnerabilidade. Por outro lado, se houver disponibilidade de vacina pode ser feito, mas esse é outro aspecto que precisa ser considerado”, diz Araújo.

De acordo com Ana Helena Germoglio, infectologista do Hospital de Brasília, ainda é necessário evidências científicas mais robustas para a aplicação da quarta dose em toda a população. Outro ponto é a distribuição entre os estados que ainda não acontece de maneira igualitária.

“Se olharmos somente para o Brasil, ainda há regiões com difícil acesso à vacina e seria interessante ajudar esses locais a completarem o esquema vacinal. Neste momento, não faz sentido um único local ter a quarta dose enquanto outros locais não conseguiram nem a segunda ou terceira ainda”, explica Ana.

Além disso, a especialista ressalta a necessidade de estudos mais completos sobre a aplicação da quarta dose. Ana destaca que os primeiros estudos estão sendo realizados agora, principalmente em Israel, e essa percepção só poderá ser confirmada quando o perfil dos pacientes internados nas Unidades Intensivas de Tratamento (UTI) mudar. Atualmente, a maioria dos pacientes internados são os não vacinados ou os que não completaram o esquema vacinal. Se isso mudar, pode ser comprovada a necessidade da dose adicional de reforço.