A foto abaixo é emblemática. Pela primeira vez,  executivos de NET, Claro e Embratel participaram, juntos, de um evento público de cunho empresarial – o cada um na sua era uma marca registrada no Brasil do grupo mexicano América Móvil, controlador das três empresas, cujo faturamento somou R$ 7,3 bilhões no segundo trimestre deste ano. Mais que um simbolismo, a imagem marca a mudança de postura do grupo que tem como principal acionista o bilionário Carlos Slim. Nos últimos meses, os  executivos que dirigem as três companhias simplesmente sumiram do noticiário. 

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O trio da conexão: (da esq. para a dir.) Félix, da NET, Formoso, da Embratel, e Zenteno, da Claro,
comandam os destinos da mexicana América Móvil no Brasil. No período 2011/2012, elas receberão investimentos de R$ 10 bilhões

Na quarta-feira 5, José Antonio Félix, presidente da NET, Carlos Zenteno, presidente da Claro, e José Formoso, presidente da Embratel ( a trinca da foto acima), se reuniram, em São Paulo, para anunciar a venda de um pacote de serviços que inclui telefonia (fixa e celular), banda larga (fixa e móvel) e tevê por assinatura. Com isso, eles esperam ampliar a musculatura do grupo em um mercado no qual os espanhóis, controladores de Vivo, Telefônica e TVA, dão as cartas. Além disso, essa tacada serve para marcar o início da reação ao avanço dos italianos da TIM que, no final de julho, “roubaram” a segunda posição da Claro em telefonia celular, mercado liderado pela Vivo. “A Claro vive um excelente momento”, disse Zenteno. “Seremos cada vez mais agressivos no mercado brasileiro para fazer valer a força de uma empresa que atua em 18 países e conta com 230 milhões de clientes.”  

Na avaliação dos analistas, esse movimento indica também que a disputa no setor de telecomunicações deverá se intensificar ainda mais em 2012. Graças, em boa medida, à aprovação da mudança na legislação que permitiu às operadoras de telefonia atuar com serviços de tevê a cabo, além de acabar com os limites ao capital estrangeiro. O serviço 3 em 1, expressão cunhada no final na década de 1970 para indicar os aparelhos eletrônicos que reuniam rádio, gravador e toca-disco, deixa evidente que, na prática, as áreas estratégicas das companhias comandadas por Slim já atuam integradas por aqui. A expansão da rede de fibra óptica, por exemplo, está sendo tocada em conjunto pelos departamentos de engenharia. Essa divisão será estratégica na definição da compra ou aluguel de novos satélites. 

 

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Os projetos estão incluídos no plano de investimentos, orçado em R$ 10 bilhões para o período 2011/2012, que contempla as necessidades das três empresas. Apenas a NET terá direito a uma fatia de R$ 1,5 bilhão neste ano para aplicar na digitalização e expansão nas cidades onde já atua e na implantação de novas redes em Niterói (RJ), no Recife e em Salvador. Formoso, da Embratel, tentou jogar um balde de água fria nas especulações sobre a iminente fusão da NET, Embratel e Claro. “O novo serviço será apenas uma parceria como todas as outras que temos feito nos últimos anos”, afirmou. 

 

De fato, a empresa de telefonia de longa distância foi a primeira do grupo a explorar sinergias quando se uniu à NET para comercializar um pacote com telefone fixo (o NET Phone), banda larga e tevê por assinatura, em 2006. “A tendência nesse mercado, em escala global, é o empacotamento dos serviços”, afirma o consultor Renato Pasquini, analista sênior de telecomunicações da Frost & Sullivan. “Com ele é possível ampliar a taxa de retenção de clientes, além de aumentar o valor da fatura unitária.” 

 

Em um setor no qual as margens são apertadas, uma estrutura eficiente pode representar pontos importantes na capacidade de gerar receita operacional. Com Ebitda de 28% no segundo trimestre, a América Móvil aparece atrás da Telefônica, 37,2%, e da Oi, 35,8%, superando apenas a TIM, 26,8%. A trajetória de Slim no Brasil começou de forma discreta. Em 1998, ele integrou o grupo que disputou o leilão da Banda B de telefonia celular no Rio de Janeiro, comandado pela mineira Algar. A ATL levou a melhor. Agora, com uma estrutura mais robusta, o homem mais rico do mundo  é um sério candidato a se tornar um dos maiores competidores da área de telecomunicações, não só na América Latina como também no Brasil.