Mais uma vez, a S&P Global Inc. foi convidada a participar da publicação AS MELHORES DA DINHEIRO, desta vez para a elaboração da edição de 2020. Certamente nunca um anuário foi elaborado em um ambiente tão desafiador. A pandemia tornou necessário adotar medidas de distanciamento social que não apenas afetaram os resultados das empresas, como também forçaram muitas companhias a alterar seu modo de trabalhar e de produzir, um movimento cujas consequências ainda não foram totalmente percebidas.

O exemplo mais perceptível é o home office. O que começou por uma necessidade médica foi, aos poucos, sendo percebido como uma vantagem para as empresas. Além de reduzir a necessidade de espaço, as medidas de isolamento social foram um incentivo robusto à popularização das ferramentas tecnológicas. E não tardou para que os gestores percebessem que o incremento no uso desses recursos eleva a produtividade. Por isso, quando as atividades presenciais retornarem, poucas serão as empresas que voltarão à maneira anterior de operar e de produzir.

E com relação aos números? Uma análise dos resultados dos exercícios de 2017, 2018 e 2019, com dados obtidos a partir do Market Intelligence Desktop, serviço da S&P Global Inc. mostra uma tendência clara de melhora dos resultados corporativos ao longo dos últimos três anos.

Começando pelo faturamento. Considerando-se os dados de 4.492 empresas brasileiras, o faturamento acumulado de 2019 foi de R$ 5,46 trilhões, crescimento de 11,1% em relação aos R$ 4,92 trilhões faturados em 2018. No ano anterior, o desempenho havia sido ainda mais positivo. O faturamento de 2018 havia crescido 16,7% em relação aos R$ 4,21 trilhões de 2017, após a profunda recessão do biênio 2015/2016.

O faturamento é um indicador importante, mas não é o único. Qualquer gestor sabe que é possível ampliar as vendas sacrificando as margens. Mas não foi isso o que ocorreu. Em 2019, a geração de caixa dessas empresas foi de R$ 934,6 bilhões, crescimento de 9,83% em relação a 2018. E, no ano anterior, a melhora dos resultados havia sido ainda mais acentuada, com crescimento de 23,3% na geração de caixa, aqui medida pelo Ebitda.

Os balanços patrimoniais também mostram que as empresas optaram pelo crescimento. Em 2019, os ativos totais agregados das companhias brasileiras cujos dados estão no Market Intelligence Desktop cresceram para R$ 21,78 trilhões, um avanço de quase 15% em relação aos R$ 18,94 trilhões de 2018. Esse crescimento de ativos ocorreu sem um aumento significativo da alavancagem. Ao contrário, o passivo total das empresas estava em R$ 17,3 trilhões no fim de 2019, um avanço de 5,9% em relação a 2018. Como o crescimento dos ativos foi, em termos agregados, superior ao avanço dos passivos, a conclusão é que os empresários e sócios decidiram cacifar suas empresas. E isso pode ser demonstrado pelo crescimento do patrimônio líquido agregado. Ao todo, o patrimônio líquido das empresas encerrou 2019 em R$ 4,48 trilhões, alta de 11,2% em relação a 2018.

Essas conclusões são relativas. Não foram consideradas diferenças setoriais nem foram expurgados resultados muito diferentes dos habituais devido a eventos não recorrentes. Não foi esse, porém, o escopo desta breve análise. O que se buscou demonstrar aqui é que 2019 manteve uma trajetória de recuperação e retomada das atividades e dos resultados das empresas. Esse processo será afetado pela pandemia. Mas, quando nos debruçarmos sobre os números referentes a 2020 e a 2021, perceberemos que o desempenho deste ano desafiador foi um evento não recorrente. E que a retomada que as empresas brasileiras iniciaram em 2018 ainda não chegou a seu fim.