Olá, pessoal! Tudo bem? No apagar das luzes de 2019, gostaria de escrever algumas linhas sobre 2020. Conforme tenho repetido em artigos e palestras, eu estou otimista com o futuro econômico do Brasil, embora jamais deixe de ressaltar que as turbulências políticas podem atrapalhar tudo. No meu último artigo aqui, na ISTOÉ Dinheiro, salientei que o Brasil já está crescendo o dobro do Pibinho de 1% registrado nos últimos anos. Vamos iniciar 2020 no ritmo de 2%, podendo chegar a uma expansão média de 2,5% no ano graças ao crédito mais farto e barato. Não se trata de nenhum crescimento chinês, mas é um alívio para os brasileiros que vivenciaram, nesta década, a maior recessão da história do País.

O grande motor da retomada econômica tem sido o consumo das famílias, enquanto o governo se esforça (felizmente) para cortar os seus gastos. O mercado de trabalho formal começa a dar sinais de recuperação, mas o drama social permanece para 11,9 milhões de desempregados e 4,7 milhões de desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego). Sem falar nos 26,6 milhões de subutilizados…

Com a retomada gradual do emprego, a renda dos trabalhadores tende a melhorar, mas, em 2020, o verdadeiro combustível aditivado para o motor da economia será o crédito. Por um lado, os bancos liberam mais empréstimos ao enxergar um horizonte promissor. O raciocínio é simples: se o mercado de trabalho está melhorando, o risco de calotes (inadimplência) diminui. Por outro lado, os consumidores ficam mais confiantes na manutenção dos seus empregos ou na conquista de uma nova vaga. Essa confiança se traduz na decisão de contrair um financiamento.

Conversei sobre esse tema com Nicola Tingas, um dos mais renomados especialistas em crédito do Brasil. Tingas, que é economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), ressalta a importância de a queda dos juros básicos (a Selic está no menor patamar da história: 4,5% ao ano) chegar até a ponta, atraindo consumidores e empresários de todos os portes. “A expansão da oferta de crédito tem sido bem mais robusta que outros indicadores de recuperação econômica, por conta do estímulo do Banco Central para a ampliação das condições de competição e oferta de crédito ampliada do Sistema Financeiro Nacional”, diz o economista-chefe da Acrefi.

Conforme enuncia o título deste artigo, 2020 será, sim, o ano do crédito. Aliás, o crédito já começou a brilhar em 2019 e foi um dos responsáveis pelo ótimo desempenho do comércio neste Natal. Deixei no ar a seguinte pergunta: isso é bom? Para que essa expansão acelerada do crédito seja realmente positiva e não se transforme numa bolha de inadimplência, é fundamental que o mercado de trabalho não pare de gerar emprego e renda. Caso contrário, o consumo financiado de hoje se transformará na dívida impagável de amanhã. Para que o ciclo econômico seja completo, sem bolhas, é fundamental que os investimentos acompanhem essa onda de consumo. Como bem nos ensina o economista Tingas, “recuperação cíclica é diferente de crescimento sustentável”. Se os políticos não atrapalharem, desta vez, a recuperação pode ser sustentável.