Prever o futuro sempre coube ao campo da fé mais do que ao da ciência. Mas é inescapável falar dele. Afinal, como resumiu brilhantemente o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, “tanto quanto o passado o futuro influencia o presente”. Para compor um mosaico de previsões da tecnologia, da inovação e da cultura digital buscamos as predições de dez renomados estudos globais — das consultorias Accenture, EY, Gartner, KPMG, McKinsey e PwC, do instituto de pesquisas Nielsen, e das gigantes Cisco, Ericsson e IBM – e elegemos estas 20 tendências.

1 Sabores e aromas digitais
Nossos sentidos são, de certa forma, limitados no universo digital. E dos cinco, os mais ausentes são exatamente os que mais remetem ao prazer: olfato e paladar. Colocar na boca é como os bebês começam a dar sentido ao mundo. A nova fronteira digital trará cada vez mais avanços no campo de sabores e aromas.

“Seres humanos são os órgãos reprodutivos da tecnologia” Kevin Kelly, editor fundador da Wired (Crédito:Divulgação)

2 Overmobilidade
Atualmente, o tráfego de dados móveis cresce a taxas de 42% ao ano. Os usuários esperam e demandam conexões de alta performance em qualquer lugar, a qualquer hora, com qualquer dispositivo, tanto no 4G quanto no 5G – “Hello, Brasília”! Ao mesmo tempo dispositivos de IoT (Internet das Coisas, na sigla em inglês) se tornarão onipresentes no dia a dia.

3 I.A., seu novo colega
Sim, a Inteligência Artificial (IA) pode não pegar seu emprego (ainda), mas mudará sua carreira. Martin Fleming, autor de um relatório sobre o futuro do trabalho do MIT-IBM Watson, diz que IA é diferente de qualquer coisa que a precede, devido à capacidade de utilizar amplos conjuntos de dados não estruturados. Otimistas preveem que humanos ficarão com ocupações melhores e mais bem remuneradas. Pessimistas imaginam que haverá uma amarga transição, com eliminação de postos de trabalho.

4 Era pós-privacidade
Já estamos nos acostumando a uma era sem privacidade. Por esse motivo países começam a adotar leis de proteção do uso de dados – a LGPD brasileira, aliás, passa a vigorar em 2020. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que esperamos por mais proteção, sabemos que tecnologias como reconhecimento facial estarão por toda parte a nos expor cada vez mais.

5 Hiperautomação
Misture IA com Machine Learning e uma coleção de outras ferramentas e vá multiplicando. Hiperautomação é mais ou menos isso. Mas não apenas. Ela se estende por uma variedade de soluções. Pode analisar, projetar, medir, monitorar, avaliar… Um processo clássico no mundo industrial é o ciclo conhecido por PDCA (Plan, Do, Check, Action). A hiperautomação pode cuidar dele inteiro. E, embora não seja seu objetivo principal, pode ainda resultar na criação de gêmeos digitais (DTO, sigla em inglês para Data Transfer Object), permitindo que organizações visualizem previamente o desempenho e a geração de valor.

“Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia” Arthur C. Clark, autor (Crédito:Divulgação)

6 Computação quântica
Medir a distância da computação quântica para a computação convencional é como ir de Kombi ou num Fórmula 1. Pode chamar os dois de veículos, mas são bichos diferentes. Resumidamente, o primeiro ganho será de tempo. Mas não apenas. Ela permitirá sobreposições de problemas e entrega de soluções que ainda não são possíveis com a computação atual. É muito provável que o tema esteja na sala de aula em disciplinas não só do campo das ciências da computação, mas também da física à administração.

 

7 Humano ampliado
Usar a tecnologia para melhorar as experiências cognitivas e físicas de qualquer pessoa. Vale tanto para vestir quanto implantar no corpo. Elas se enquadram em quatro tipos: Ampliação Sensorial (audição, visão), Ampliação de Funções (exoesqueletos, próteses), Ampliação Cerebral (implantes para tratar convulsões) e Ampliação Genética (terapia de células e genes). O aumento dessas soluções multiplicará implicações culturais e éticas. Pode ser que pelo menos duas categorias profissionais sejam altamente requisitadas em pouco tempo: filósofos e antropólogos.

8 Ecotechs
Na medida em que o planeta está mais conectado e de certa forma vigiado as organizações (num primeiro momento as empresas, mas num segundo estágio cada indivíduo) serão desafiadas a aumentar sua performance sustentável. Tecnologias transformarão as métricas atuais e cada vez mais todos seremos julgados por nossas pegadas ambientais. Produtos e serviços explodirão. Prepare-se para uma onda de Ecotechs.

9 Inteligência gerada pelo cliente
Será o item mais importante para incremento de receita e rentabilidade no varejo, seja ele financeiro ou de qualquer outro segmento. Dados relacionados ao cliente costumavam ser colhidos de forma relativamente simples, a partir de pesquisas quantitativas e alguns resultados comportamentais. Avanços tecnológicos darão cada vez mais acesso a dados completos e complexos. Você se surpreenderá com a inteligência que pode brotar de seus consumidores.

10 Blockchain, é só o começo
Apesar de todo o hype em torno do blockchain, e muito dinheiro investido, foi só o começo. Sua maturidade pode ser comparada neste momento à mesma que a internet começou a ganhar com a criação da web nos anos 90. As criptomoedas, pai e mãe do blockchain, só tocaram a superfície. A tecnologia tem potencial para revolucionar quase todos os segmentos levando segurança e controles às etapas de qualquer operação.

11 Pessoas ‘líquidas’
Um dos efeitos mais fascinantes e cada vez mais evidentes da cultura digital é o que o estudo Fjord Trends 2020 Report, da Accenture, chama de Pessoas Líquidas. “Estamos todos começando a questionar o que significa ser cliente ou empregado”, diz o relatório. “O que está além do consumismo? Trabalho é simplesmente um meio de ganhar a vida?” Esses questionamentos não apontam para o fim do consumo, mas para sua transformação. Um exemplo: comedores de carne que diminuem sua ingestão para um ou dois dias da semana em nome de uma causa. Valerá o mesmo para as relações de trabalho. O conceito de sociedade líquida é inspirado em Zygmunt Bauman (1925-2017), mas sua prática só se torna amplamente viável num mundo digital e conectado.

12 Mundo pós-dinheiro
Nossa experiência com o dinheiro mudou. De entidade física, o dinheiro tem evoluído para ecossistemas invisíveis de troca de valor, abrindo uma série de oportunidades para produtos e serviços. A explosão de Fintechs nem é causa disso, é consequência mesmo.

13 E-Sports
Futebol e F1 darão lugar cada vez mais a eventos do e-sports, quando videogames ganham espaços de interação no mundo físico. O ano de 2019 marcou a virada – pela primeira vez, o segmento movimentou mais de US$ 1 bilhão (exatamente US$ 1,096 bi). O ano de 2020 marcará a consolidação, fazendo girar 1,340 bilhão, alta de 22,2%.

14 Soluções sistêmicas
Ela permeará todos os segmentos. E elevará a escala de valor de muitas indústrias. Um exemplo é a icônica marca de sapatos Dr. Martens, que aumentou os lucros em 70% ao introduzir uma linha vegana de calçados feitos de couro sintético. Na área da construção e da arquitetura, a Snøhetta desenvolveu o Powerhouse, um edifício em Trondhein (Noruega) que gera energia solar para a vizinhança, produzindo o dobro da energia que consome. Pensar o outro é uma das grandes tendências da cultura digital. E um mundo altamente conectado, em que mais de 4 bilhões de pessoas estão em redes sociais, propaga mais facilmente a relevância e a imagem de uma marca.

15 5G
Com velocidade de conexão multiplicada por 100 em relação a tecnologias atuais, o 5G não apenas acelera a transmissão de voz, vídeo e dados, mas deixará mais prático e viável um universo de outras tecnologias, como condução autônoma e uso da Realidade Virtual. Isso vai impactar em áreas tão distintas quanto à de saúde – cirurgias complexas a distância se tornarão cada vez mais comuns – quanto, por exemplo, o nascimento de cidades inteligentes realmente conectando serviços, espaços públicos e cidadãos.

16 Fim do tempo e do espaço
Até 2030 é provável que riam se alguém tentar explicar o que era um cartão de embarque, ou como as pessoas iam a um supermercado fazer as compras do mês ou a um banco sacar dinheiro. A tecnologia de ultramobilidade fará tudo ser diferente e muito do que temos desaparecer. Tudo estará ao alcance de algum dispositivo. No trabalho isso significará que soluções, quaisquer que sejam, independam de horário ou localização. Tempo e espaço serão destruídos, pelo menos da forma como o entendemos hoje. A capacidade de fornecer conectividade a componentes menores e mais baratos, em áreas cada vez mais remotas, continua a crescer. Na indústria de óleo e gás, estima-se que até 2025 todos os poços do Hemisfério Ocidental tenham acesso a celulares 4G a preços competitivos. A mudança será transversal – da medicina a uma sala de aula.

17 Internet das Coisas
Trata-se de uma grande nova rede formada por dispositivos (como um celular), veículos, edifícios e qualquer outro objeto equipados com soluções eletrônicas, software, sensores e conexões com a internet. Esse grande baralho interligado é a Internet das Coisas. De um simples emissor instalado num caminhão para a gestão de frota até o controle a distância de sua geladeira. Cada pessoa, de todas idades, comandará um arsenal de aparelhos inteligentes no dia a dia. Estima-se que em 2020 existirão, segundo dados da Cisco, 50 bilhões de dispositivos conectados à internet.

“Um dos únicos jeitos de sair de uma caixa apertada é inventar a saída” Jeff Bezos, fundador e CEO da Amazon (Crédito:Divulgação)

18 Oriente-se
Virá da Ásia toda inovação tecnológica. Assim como estará lá a maior concentração de classe média do planeta – entre 2010 e 2040 ela saltará 180% no continente. Além disso, nos próximos 30 anos cerca de 1,8 bilhão de pessoas se mudarão para áreas urbanas, boa parte no continente, criando as mais fascinantes oportunidades para todos os agentes econômicos. Não importa sua área de atuação. A Ásia será seu foco.

19 Tempo Real + Big Data
Misture uma massa considerável de dados (big data) com refinadas análises em tempo real. Essa equação permitirá a decisores corporativos otimizarem significativamente os processos em seus negócios. A companhia americana Navistar, por exemplo, produtora de veículos pesados, rastreia on-line mais de 180 mil caminhões. E sabe tudo sobre eles: onde e como são reabastecidos, qual o estilo de direção dos motoristas à frente dos veículos (que fazem parte da frota de terceiros), quais as mercadorias foram danificadas durante o transporte. Os dados são compartilhados com os clientes e ajudaram a reduzir o custo de manutenção em 80% por milha rodada. Empresas em quase todas as indústrias – do varejo ao planejamento urbano – alcançam resultados semelhantes.

20 A palavra: ecossistema
Essencialment ela significa que você não poderá controlar todas as variáveis, nem ter todos os recursos e nem pensar todas as respostas. Logo, abra as portas – e a mente. A solução, provavelmente, estará lá fora. No tal ecossistema.