Em público, o banqueiro Fernão Botelho Bracher nunca perdia a calma nem elevava a voz. Só mostrava uma leve alteração ao discutir a internacionalização do sistema financeiro brasileiro. “O custo de capital para os bancos brasileiros é muito superior ao dos internacionais o que torna a concorrência desigual”, dizia ele.

O viés nacionalista não impediu Bracher, falecido na segunda-feira 11 aos 83 anos, de criar o principal banco de investimentos independente do Brasil em parceria com sócios austríacos do Creditanstalt. Nascido em 1935, ele se formou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 1957, onde foi colega do ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira. Após se formar e estender seus estudos pela universidade alemã de Heidelberg, Bracher começou a trabalhar no Banco da Bahia em 1961.

Ficaria por lá até 1973, quando assumiu a diretoria de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC). Sua primeira passagem pelo setor público duraria até 1979, quando foi para a seguradora Atlântica Boa Vista ao lado de Antonio Beltran Martinez. Em agosto de 1985, por indicação do amigo Bresser Pereira, voltou ao BC como presidente, cargo que ocupou até fevereiro de 1987. “Saí porque queria aumentar os juros para conter a inflação, mas não deixaram”, diria ele anos depois.

Ao deixar o BC, ele e o ex-colega Martinez fundaram o banco BBA, com uma injeção de US$ 10 milhões do Creditanstalt e outros US$ 10 milhões emprestados pelos austríacos. O banco começou em uma sala acanhada da rua Líbero Badaró, no centro velho de São Paulo, mas os vínculos internacionais, os contatos dos sócios e a adoção de métodos modernos de gestão logo transformariam o BBA no líder entre os bancos de investimento nacionais.

Em 2002, o BBA foi adquirido pelo Itaú, que queria fundir o banco de Bracher à sua divisão de atacado. Ele e Roberto Setubal, então presidente do Itaú, negociaram por quase um ano e meio para definir a forma do novo negócio. A importância de Fernão Bracher para o sistema foi tão grande que, à frente do Itaú BBA ficou seu filho Candido que, 15 anos depois, presidiria o Itaú Unibanco. Na melhor tradição dos bons banqueiros.