Olhe isto, mostra o chinês Yan Di. Uma aliança. “Estou amarrado ao Brasil. Por trás de todo gringo morando aqui existe uma brasileira maravilhosa”, disse o country manager da AliExpress logo no início do papo com a DINHEIRO. E sem filhos, focado 100% no trabalho. Há 20 anos no País, ele ficou 12 anos na Huawei, depois passou como CEO pela Baidu, que é o Google chinês, e após uma breve incursão em um negócio próprio de intercâmbio tecnológico entre Brasil e China foi para o comando do e-commerce chinês. Está há um ano e meio nessa jornada. Falando português, Yan gosta de números e de fazer comparações com seus concorrentes — na Black Friday eles cresceram 35% em relação a 2020, enquanto o mercado recuou 9%. Se precisar comparar com o planeta, Yan puxa a Alibaba, grupo ao qual pertence, e joga que as vendas em 2020 chegaram US$ 1,1 trilhão, praticamente o dobro da Amazon, com US$ 575 bilhões. No quesito logística de cross-border, a Ali está bem. O Oceano Atlântico pode se abrir em dois e a crise marítima se aprofundar que não afetará as compras dos brasileiros: ela tem cinco voos fretados semanais para cá e vai ativar um sexto.

Muitos confundem o tipo de negócio da Alibaba com a AliExpress?
Sim. A AliExpress, que é uma B2C, pertence ao Grupo Alibaba, uma B2B, que é considerado o maior player de e-commerce do mundo. A AliExpress coloca o vendedor diretamente em contato com o consumidor final. O produto não nos pertence. Criamos um marketplace cross-border para facilitar essa relação.

E como estão em relação à concorrência?
Segundo mapeamento de outubro deste ano da Conversion, agência brasileira de dados e informação, nosso marketplace, com 33,1%, está acima da Amazon, com 14,2% (em julho a AliExpress era líder no setor, mas foi ultrapassada em outubro pela singapurense Shopee). Em uma jornada de internacionalização de 12 anos, acumulamos cerca de 150 milhões de usuários pagantes. Não somos novatos aqui, não entramos no Brasil no ano passado. E por isso somos o xodó do povo brasileiro. Primeiro porque temos preços e 54% do público brasileiro diz que o maior fator na hora da compra é isso. Segundo a Price Survey, nosso preço é, em geral, 39,2% abaixo dos marketplaces nacionais.

Já vi produtos da Ali sendo vendidos em outros marketplaces…
Sim, sempre brinco que muita gente compra para revender em outros markeplaces brasileiros, não é um segredo. Eu os chamo de “nossos amiguinhos”. Eles gostam da Ali não só pelo preço, mas pela questão de variedade. Temos 8,7 milhões de vendedores mundialmente no AliExpress. A maioria é de chineses e fabricantes, oferecendo preço de fábrica. Como competir com eles? Você não consegue. E temos a vantagem do lançamento. Primeiro o produto é lançado na China, depois Estados Unidos, Europa e depois chega aqui. Quem gosta de lançamentos procura a gente.

Como cresceram durante a pandemia?
Foi algo muito claro. Até aquele consumidor com receio teve de se aventurar no on-line. O setor, como um todo, cresceu 41%. No nosso caso, foi mais explosivo. Hoje em dia, em sentido de usuários ativos por dia, já superamos Magazine Luiza e Americanas. E em algumas categorias tivemos dados mais impressionantes ainda, com 130% de crescimento. Webcam, por exemplo, crescemos 38 vezes. Realmente a pandemia mudou o comportamento do brasileiro.

E com a entrada de vendedores brasileiros no mercado local na AliExpress, o que mudou?
Se você é um vendedor brasileiro, você acaba vendendo em todos os marketplaces. Existem interfaces em que você consegue, com um clique, subir produtos para todos os principais players. Quando abrimos as portas, recentemente, os brasileiros se empolgaram. Praticamos a menor taxa de comissão do mercado. Cobramos entre 5% até 8%. Muitos estão praticando uma comissão excessiva, entre 16% e 18%, e tem até 30%. Como alguém tem a coragem de cobrar isso? Boa parte desses empreendedores é de pequeno ou médio porte. Você cobra 16% e é a margem dele, é a lucratividade dele. E praticamos o prazo mais reduzido para liberar pagamento: sete dias após o recebimento confirmado da mercadoria. Muitos praticam 15 dias.

O Live Commerce veio como uma modernização daqueles antigos canais de TV com programação de venda de produtos 24 horas?
Quem inventou o Live Commerce mundialmente foi a Alibaba, na China. Trouxemos a modalidade para o Brasil e estamos sendo copiados. A taxa de conversão é muito acima do modo convencional de e-commerce. Oferecemos isso e o Social Commerce também. Nessas duas modalidades poderíamos criar um impacto gigantesco. Em 2020, dez dos maiores live streamers da China faturaram mais que todo o e-commerce brasileiro somado. Dez pessoas venderam mais que o Brasil inteiro, acredita? Nos dois primeiros dias do 11.11 (Dia do Solteiro e vendas on-line criado na China) deste ano, que começou em 21 de outubro, dois live streamers chineses venderam mercadorias que somaram R$ 16 bilhões. Duas pessoas! E em 2020, o live commerce como um todo na China chegou ao patamar de US$ 157 bilhões. Dentro do nosso grupo AliBaba, lives já criaram 1,7 milhão de empregos. E é algo muito democrático, pois todo mundo consegue fazer, todo mundo tem um celular, e pode vender qualquer serviço ou produto. Na China, um top live streamer vendeu 288 apartamentos em sete minutos. Você conhece alguém que consiga fazer isso?

O que falta para brasileiros venderem para o resto do mundo na Ali?
Com o dólar no patamar em que está, seria um ótimo negócio. Imagina o sucesso que o Brasil faria com a quantidade de categorias que tem. Como a moda, em que a maioria dos produtos é fabricada aqui, com design e ótima qualidade. Já está em nossos planos.

E o atendimento ao usuário da AliExpress, que sempre foi algo questionável?
Hoje já temos uma equipe que fala português, um serviço humanizado. Antes, um algoritmo falava com o consumidor. E implementamos nossa política de devolução local. Se comprou algo e não gostou, no lugar de devolver para a China, você devolve para um endereço nacional parceiro.

Como foram no 11.11 e na Black Friday?
São dois períodos inseparáveis. Oferecemos produtos com descontos de 30% e incentivamos o usuário a fazer qualquer comparação. Não é aquele famoso 50% do dobro. Praticamente 1 milhão de fabricantes entraram nesse festival de 11.11, até marcas famosas como Xiaomi. E também pela primeira vez tivemos vendedores brasileiros. Para a data, ativamos nove megacentros de triagem na China, totalmente automatizados. Movimentamos 80 voos semanais para o mundo inteiro. Mundialmente faturamos US$ 84 bilhões. Esse valor é praticamente cinco vezes maior do que o faturamento de e-commerce brasileiro do ano inteiro. E é um número nove vezes maior que a Black Friday nos Estados Unidos.

E no Brasil, quais foram os números?
As vendas brasileiras ao longo de 11.11 cresceram 72% em número de compradores, comparadas às de 2020. Vendedores locais registraram aumento de 600% ao longo do festival. Quanto à Black Friday, oferecemos descontos como em nosso 11.11 e crescemos 30% em vendas. Mas gosto de comparar isso aos números do setor. O e-comerce brasileiro, no geral, só cresceu 5% durante o período todo da Black Friday. O nosso número foi de 30%, seis vezes maior que o patamar do mercado. Temos uma grande visão: até 2036 gostaríamos de servir a 2 bilhões de usuários finais no mundo, criando 100 milhões de oportunidades de emprego e ajudar 10 milhões de empresas de pequeno e médio porte.