Fundado em Brasília em 1984 por Janete Vaz e Sandra Soares Costa, o Sabin é um dos cinco maiores do Brasil em medicina diagnóstica e, ao contrário dos líderes do setor, não partiu para a abertura de capital – o que continua não sendo o foco. A decisão não impactou a capacidade de crescimento por aquisição. Comandada por Lídia Abdalla, que entrou na empresa há 21 anos e desde 2014 é a CEO, a companhia quer fazer de 2020 o ano da integração das marcas que se somaram ao grupo.

DINHEIRO – O setor de saúde está no epicentro dos impactos trazidos pela pandemia. Como a senhora avalia esses 100 dias dentro do Grupo Sabin?
LÍDIA ABDALLA – Não posso deixar de dizer que o que vivemos é um momento de oportunidades. Toda crise traz oportunidades e o setor de saúde está no meio dessa. Então, cabe à empresa se posicionar, mostrar rapidez, ter velocidade nas decisões. Logo percebemos que deveríamos olhar ainda mais para a inovação. Fazer a leitura (dos cenários) e ser rápido nas estratégias.

Qual a maior dificuldade de um líder num momento como esse?
A cada manhã, eu acordo e penso que estou na linha de frente de toda a pandemia. Tanto para os colaboradores do Sabin quanto para nossos clientes e parceiros. Então, penso: “Preciso cuidar de todas essas pessoas.” Como garantir que vou cumprir meu propósito e nossa missão, que é cuidar das pessoas?

O que é mais difícil acompanhar: a mudança tecnológica ou a de comportamento das pessoas?
Sem dúvida, os hábitos das mudanças das pessoas. Já havia uma tendência de menos contato no atendimento, mais velocidade, uma interação muito mais digital. No atual momento, no entanto, isso tudo foi potencializado e as pessoas foram de fato obrigadas a buscar esses canais (digitais).

E dentro da empresa?
Aí, o trabalho é buscar a inovação o tempo todo, não apenas tecnológica. O decisivo é ter o mindset de fazer diferente todo dia. Ter, de fato, uma cultura que propicie o ambiente de inovação. Nosso drive thru para atendimento em Brasília, por exemplo, ficou pronto em dez dias. E isso não se dá apenas olhando tendência. É preciso agir.

Há dez anos, as fundadoras do Sabin depararam com um dilema clássico: crescer ou ser incorporado. E o grupo foi às compras. O apetite por aquisições vai continuar neste ano?
Nos últimos seis anos, realizamos 27 aquisições. Apenas no biênio 2018-2019, foram sete delas. Então, agora era hora de fazer a integração, arrumar a casa. Nosso Planejamento Estratégico para 2020 já estava orientado mais para trabalhar nisso. Não foi uma mudança provocada pela Covid-19. Claro que, se houver oportunidade, iremos avaliar. Mas não é o foco.

Quando a senhora diz olhar a integração é fazer com que a cultura de empresas tão distintas, que passam a fazer parte do grupo, estejam alinhadas.
Exatamente. Acreditamos que tudo acontece de dentro para fora. Falo do que é valor para o Sabin. A cada aquisição, conduzimos uma metodologia para acompanhar e fazer no nosso modelo. Nossa marca é o atendimento humanizado, de ambientes cuidados. Nossa missão é “oferecer serviços de saúde com excelência”. Então, temos desde treinamento e capacitação até conversas comigo. Há curvas de aprendizado, é claro, mas temos prazos, cronogramas, para essa assimilação da cultura. Esse é um ponto decisivo na nossa estratégia.

O faturamento anual do grupo ficou pouco acima do R$ 1 bilhão em 2019, alta de 15% sobre 2018, e a previsão de crescimento para este ano era na casa dos dois dígitos. Isso se mantém?
Estamos justamente em fase de revisão. Mas posso dizer que nossos investimentos serão mantidos. A previsão era de R$ 340 milhões a R$ 345 milhões no biênio 2019-2020, em investimentos. Apenas em 2020, serão R$ 32 milhões em inovação, projetos de P&D e novos canais. Isso continuará.

Normalmente, empresas maiores têm mais dificuldade em produzir a inovação dentro de casa. Como vocês lidam com o ecossistema de healthtechs?
Das duas formas. Temos tanto projetos internos quanto grupos nossos trazendo startups. Temos parcerias com empresas de Israel e cada vez mais olhamos para as soluções tecnológicas.

Os convênios respondem fortemente pelo share de receita. Em época de crise e alta do desemprego formal, essa linha oscila muito para baixo?
Não é a primeira crise pela qual passamos e não vai mudar muito, porque a pessoa que perde um convênio busca outro, mais em conta, mas não vai querer ficar sem.

O Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) aponta que a demanda por exames deve mais do que dobrar até 2030. Isso antes de um fenômeno como a pandemia. Essa expectativa se mantém?
Sim. O que acontece é que o portfólio vai migrar mais pra qualidade de vida e prevenção a doenças (no do tratamento). É uma tendência.