No começo do ano, usando a hashtag #desafiodosdezanos, as redes sociais mostraram fotos comparando pessoas e situações em 2009 e em 2019. A ideia era mostrar como as aparências mudaram. Porém, alguns gestores de fundos entraram, ainda que timidamente, na brincadeira. Quebrando a sisudez de suas redes sociais, eles aproveitaram a oportunidade para divulgar a rentabilidade dos seus fundos nesse período. Andre Gordon, gestor da casa independente GTI, foi um deles. Mesmo sem muita intimidade com o Twitter, ele alardeou os 655% de rentabilidade que o fundo Dimona Brasil FIA obteve em uma década. Quem houvesse investido R$ 10 mil em janeiro de 2009, agora poderia sacar R$ 75,5 mil. “Acho importante divulgar isso”, diz ele. “Além do bom desempenho, são poucos os fundos de ações que duram tanto tempo no Brasil.” O Dimona ficou em oitavo lugar entre os mais rentáveis no ranking feito pela DINHEIRO, que destacou os dez fundos que mais ganharam na última década, sem considerar sua volatilidade (observe o quadro abaixo). Todos são fundos de ações, com políticas de investimento parecidas: preferência por apostas de longo prazo, análise minuciosa das empresas e a diversificação do portfólio, para evitar a concentração em poucos ativos.

Sem estratégias mirabolantes, as cotas do ARX Long Term FIC valorizaram-se 1.070%. O fundo lidera o ranking. Observar as empresas com lupa vem de longa data. O fundo nasceu em 2008 e, originalmente, se dedicava às small caps, companhias que têm valor de mercado pequeno e potencial de expansão elevado. Hoje, o portfólio é híbrido. Investe em 15 empresas, entre elas a Hering, que deixou de ser uma small cap ao longo desse período. “Foi um dos ativos que mais contribuiu para alcançarmos essa rentabilidade”, diz Denise Pondé, do comitê de renda variável da gestora carioca ARX Investimentos. A ação da varejista avançou 1.800% no período. Outra bola certeira foi a compra de um lote de papéis da fabricante de rodas e componentes automotivos Iochpe há cerca de nove anos. O papel rendeu 345% na última década e permanece promissor. “Estamos analisando a entrada da Natura”, diz Ponde. Ela prefere companhias dos setores de varejo e de saúde, apoiada na crença de continuidade da recuperação da economia e na sustentabilidade da taxa de juros em baixos patamares.

Campo de energia eólica da Alupar: companhia é presença recorrente no portfólio dos fundos mais rentáveis por conta do seu alto potencial de crescimento

O segundo lugar da lista é ocupado pelo Brasil Capital FIC, cujas cotas valorizaram 994% nos últimos dez anos. “Chegamos até esse resultado escolhendo empresas de médio e grande porte, que não necessariamente estão no Índice Bovespa”, diz Andre Ribeiro, gestor do fundo. Uma de suas queridinhas é a Cosan, que faz parte do portfólio desde 2009 e tem potencial para entregar nos próximos três anos o maior retorno do fundo. “Estamos falando de um grupo que vai faturar quase R$ 70 bilhões em 2019”, diz Ribeiro.

A maior aposta de Ralph Rosemberg, gestor do Perfin Foresight FIA, que ocupa a quinta colocação do ranking com rentabilidade de 737% na última década, é a Alupar, grupo que atua nos segmentos de geração e transmissão de energia responde por 20% do seu investimento. “Além de ser previsível em relação à receita, pois o negócio de energia é regulado, a companhia deve entregar entre 2020 e 2021 o retorno de investimentos importantes que fez nos últimos anos, especialmente no setor de transmissão”, afirma Rosemberg, que tem como premissa dar preferência às companhias que combinem crescimento de lucro e distribuição de dividendos.

REDE SOCIAL A divulgação tímida do desempenho das gestoras nas redes sociais – só a GTI destacou o feito no espaço digital – é um primeiro passo para a criação de uma nova relação entre os gestores e os cotistas, especialmente com os clientes novos, que investem por meio das plataformas digitais de distribuição de produtos financeiros. Trata-se de um público que até agora tinha pouco acesso anterior a investimentos mais sofisticados, como os fundos de ações, mas que agora terá de aprender a lidar com a ansiedade inerente a esse mercado. “Precisamos criar a cultura do investimento de longo prazo no País”, diz Gordon. “Com a chegada das plataformas, o desafio aumenta”, diz. Ribeiro, da Brasil Capital, destaca que as pessoas geralmente olham o resultado anual dos fundos de ações, o que pode distorcer a avaliação. “Esse tipo de alocação de recursos carrega muita volatilidade, e por isso tem maior chance de propiciar melhores retornos no longo prazo”, diz.