A japonesa Honda descobriu antes de todo mundo que o Brasil se tornaria um país sobre duas rodas. Uma das primeiras a fabricar motocicletas aqui ? sua planta em Manaus existe desde 1976 ?, a companhia começou o ano numa posição invejável. É líder disparada de mercado, com 86,1% de participação, responsável pela comercialização de 700 mil motos por ano e dona do veículo mais vendido desde 1976, a CG 125. Para dar conta de uma demanda que cresce acima de 20% ao ano, a planta de 125 mil m2 já opera em três turnos. Mas o parque industrial começa a dar sinais de esgotamento. A decisão, então, parece compulsória. Para continuar crescendo, é preciso aumentar a capacidade de produção. ?Em dois anos, vamos atingir a marca de 1 milhão de motos produzidas por ano?, revela Virgínia Ganatchian, gerente-geral de marketing da Honda no Brasil.

Na última semana, o presidente da empresa no Brasil, Koichi Kondo, veio com a solução: pretende abrir a segunda fábrica da montadora no País. Desta vez, quer ir além das motocicletas e montar também motores de popa e triciclos ? equipamentos que ainda não são montados por aqui.

A decisão vinha sendo mantida em sigilo. Mas os planos já estão bastante avançados. Dentro de 60 dias, deve ficar pronto um relatório encomendado por Kondo. O documento indicará, por exemplo, os custos de uma nova linha de produção ? a gigante japonesa não adianta nenhuma estimativa ?, a quantidade de mão-de-obra que será empregada ? calcula-se algo em torno de 3 mil funcionários ? e até a melhor localização para a fábrica. Aí, é uma questão de 18 meses, para que os primeiros modelos comecem a sair do forno. Seria óbvio construir sua segunda planta também em Manaus, certo? Mas ao que tudo indica, a opção pode ser outra. Além da dificuldade de logística, há a escassez de energia elétrica e a falta de mão-de-obra técnica na região. Existe ainda um problema adicional: os incentivos da Zona Franca de Manaus se esgotam em 2013, um tempo considerado pequeno para absorver os custos de uma nova fábrica. Os Estados de Goiás e Bahia também estão no páreo. ?Vários Estados têm grande potencial para a implantação de uma nova fábrica?, desconversa a gerente-geral de marketing. O governo da Amazonas, entretanto, já começou a fazer seu lobby. Prometeu novos benefícios fiscais e a criação de um cluster ? área que concentrará todos os fornecedores da fabricante de motocicletas.

A Honda acelerou forte no mercado de duas rodas. Mas não está sozinha. Sua principal concorrente, a Yamaha, acaba de multiplicar a capacidade de produção em sua fábrica, também instalada na Zona Franca. ?A unidade de pintura, nosso principal gargalo, já foi aumentada em 2002. Este ano, vamos realizar novos investimentos para chegar a 200 mil unidades?, conta Aurélio Maranha, gerente de vendas da Yamaha. Dona de 12,3% do mercado de motocicletas, a fabricante vai trabalhar também na popularização de acesso de seus produtos. Pretende aumentar a rede de revendedores de 100 para 330. Ainda este ano.

A corrida das montadoras coincide com a brilhante fase do setor de duas rodas no Brasil. Os números de 2002 impressionam. Em meio à maior crise automobilística nacional ? houve até quem ameaçasse fechar fábricas por aqui ?, a venda de motos virou uma coqueluche. E cresce numa média de 23% ao ano. O setor apostou suas fichas na popularização do produto. Lançou modelos mais baratos ? as motos 125 cilindradas, uma espécie de 1.0 sobre duas rodas ? e abriu linhas de consórcio. ?Hoje, 55% das vendas são via consórcio e 90% das vendas são de modelos até 200 cilindradas?, conta Franklin de Mello Neto, diretor executivo da Abraciclo, entidade que abriga as fabricantes nacionais deste setor. As nove empresas que atuam no Brasil venderam, em 2002, 860 mil motos. Outra boa notícia vem de fora. A partir do próximo mês, as motos produzidas no Brasil vão entrar no México, o segundo principal mercado para exportação, com alíquota zero. Assim, Honda, Yamaha e as demais fabricantes instaladas no Brasil vão cruzando as fronteiras.