O senhor ao lado, com seu
discreto sorriso, é um homem de muita sorte. Em breve, ele saberá se ficou US$ 3,5 bilhões ou US$ 7 bilhões mais rico. Larry Silverstein, o maior investidor imobiliário do mercado americano, está prestes a receber uma das maiores indenizações da história. Tudo será decidido no dia 22 de julho pela Suprema Corte dos Estados Unidos, num processo judicial visto como uma das maiores ameaças à indústria global de seguros. Silverstein foi o homem que, três meses antes do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, arrendou as torres gêmeas do World Trade Center. Comprometeu-se a pagar US$ 3,25 bilhões durante 99 anos pelo direito de explorar a área. Com os ataques, o sinistro se materializou. A única dúvida que restou no processo é saber se Silverstein será indenizado por apenas um atentado,
como defendem as seguradoras, ou por dois, como argumenta o empresário. Sua tese é que as duas torres estavam seguradas e, como ambas vieram abaixo, as duas apólices devem ser honradas. ?Ninguém tem dúvida de que houve dois atentados distintos?, disse à DINHEIRO Gerald McKelvey, o porta-voz de Silverstein. ?Portanto, teremos US$ 7 bilhões.?

A indenização é apenas parte da bolada que Larry Silverstein, aos 71 anos, receberá. Ele, que é amigo íntimo do prefeito de Nova York, o empresário Michael Bloomberg, continuará tendo o direito de explorar a área até 2100. ?Os contratos de arrendamento ainda pertencem à Silverstein Properties?, reforça McKelvey. O projeto de reconstrução da área, orçado em US$ 10 bilhões pela administração Bloomberg, prevê a manutenção do espaço comercial naquele que voltará a ser o maior centro empresarial do mundo. Antes dos ataques, havia 430 companhias ocupando os 3,3 milhões de metros quadrados no WTC e empregando 40 mil pessoas. No novo projeto, haverá novos parques e um memorial dedicado às vítimas de 11 de setembro, mas a quantidade de escritórios será exatamente a mesma.

Para as seguradoras, o pagamento de US$ 7 bilhões à Silverstein Properties é apenas mais um entre uma série de pesadelos que o setor vem enfrentando desde o ataque às torres. No caso do WTC, a maior parte do dinheiro sairá dos cofres da empresa alemã Munich Re, uma das líderes globais em resseguros ? produto em que uma empresa faz apólices para cobrir riscos assumidos por outras seguradoras. ?O prejuízo global para o setor será da ordem de US$ 70 bilhões?, avaliou à DINHEIRO Aamer Islam, vice-presidente da Thornton Tomasetti Engineers, empresa de engenharia que trabalhou nos escombros dos prédios. Ele inclui na conta as indenizações que terão de ser pagas às empresas que alugavam escritórios na área e também às famílias das vítimas que morreram nos ataques. Islam conta que os valores de seguros para prédios considerados ?de alto risco?, vistos como potenciais alvos de novos atentados, aumentaram substancialmente após 11 de setembro. Além disso, seguros de prédios construídos em aço, onde o fogo tem poder de devastação maior do que em construções de concreto, tornaram-se mais caros. No WTC, feito em aço, as estruturas amoleceram sob o calor antes da queda.

A contabilidade das seguradoras aponta ainda uma série de outros prejuízos. Nas bolsas de valores mundiais, as cotações das ações do setor despencaram. Desde 11 de setembro de 2001 até hoje, o valor de mercado dessas companhias encolheu em US$ 53 bilhões. Todas elas, sem exceção, foram rebaixadas pelas agências internacionais de classificação de risco. ?No nosso caso, perdemos US$ 1,9 bilhão, sem incluir os gastos que ainda teremos com o World Trade Center, que só serão conhecidos após a decisão da Justiça americana?, explica Henrique Abreu de Oliveira, diretor técnico da Swiss Re do Brasil, resseguradora responsável por 22% dos seguros das torres gêmeas, logo atrás da Munich Re. Os gastos a que Oliveira se refere são de seguros de vida das pessoas que morreram no acidente ou dos negócios da região que tiveram que fechar as portas. No mesmo dia dos ataques, as ações da Swiss Re caíram 15%.

Diante de tantos prejuízos, o único que terá ganhos econômicos será mesmo Larry Silverstein. Antes que ele arrendasse as torres, o complexo pertencia e era explorado pelas autoridades portuárias das cidades de Nova York e New Jersey. Para explorar os aluguéis por 99 anos, a Silverstein Properties pagou US$ 616 milhões de entrada e comprometeu-se a desembolsar um valor fixo por ano durante o período de validade dos contratos. E agora o dinheiro da indenização, seja de US$ 3,5 bilhões ou US$ 7 bilhões, terá de ser pago de uma só vez. Será um empurrão e tanto para que ele possa expandir ainda mais os seus negócios, concentrados na região nordeste dos Estados Unidos, principalmente na cidade de Nova York, onde ele nasceu.

A Silverstein Properties, por meio de associações com a montadora General Motors, os bancos Goldman Sachs, Merrill Lynch e Bank of New York, além da General Electric e muitas outras grandes empresas, já administra 20 milhões de metros quadrados de escritórios. Mas nenhum negócio foi tão bom em toda a carreira de sucesso de Silverstein quanto o arrendamento das torres.