O uso da série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) no cálculo para as estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) do País é um erro, defendeu Roberto Olinto, diretor de Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo ele, a PMC é usada para uma avaliação crítica do consumo das famílias. A participação do comércio no cálculo do PIB é feita através de informações muito mais completas.

“O uso dessa série para projeções do Produto Interno Bruto é um erro, porque é venda, não é produção. A venda mais a variação de estoques define a produção. Ninguém me garante que em janeiro eu vendi meu estoque de dezembro. A produção não aumentou nada. Você pode estar vendendo e agregando valor porque você produziu. Você pode estar vendendo e não agregando valor porque vendeu estoque. Esse estoque agregou valor quando foi produzido no passado”, explicou Olinto.

Segundo ele, a participação do segmento do comércio que entra nas Contas Nacionais inclui o varejo, o atacado e mais a produção de autônomos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

As declarações de Olinto sucedem críticas recebidas pelo IBGE após uma mudança de metodologia nas pesquisas mensais de Comércio e Serviços, que mostraram dados mais positivos para o início de 2017 após a alteração nas ponderações.

“Não usamos nenhuma série com ajuste sazonal para calcular PIB. Essa série (da PMC) não afetará os dados do PIB do IBGE, ela não é usada”, declarou.

Revisões

A revisão nas vendas do comércio varejista em fevereiro ante janeiro, que passou de uma queda de 0,2% para redução de 1,6%, faz parte do ajuste sazonal a partir da entrada de novas informações em março, e não da mudança metodológica ocorrida no início do ano, afirmou Olinto.

O IBGE divulgou nesta quinta os dados da PMC referentes a março, que traz algumas revisões das taxas de meses anteriores, como ocorre em todas as divulgações. O resultado de janeiro ante dezembro de 2016 saiu de alta de 5,5% para avanço de 6,0%, enquanto o de dezembro ante novembro passou de -2,0% para -1,7%.

Após a revisão de grande magnitude provocada pela mudança das ponderações na divulgação anterior, Olinto esclareceu que a atual revisão tem razão distinta, apenas segue o modelo econométrico que dá o ajuste sazonal.

Segundo o diretor do IBGE, a conjuntura atual é de instabilidade nas vendas do varejo, como mostra a série que compara o resultado com o mesmo mês do ano anterior. O desempenho com ajuste sazonal seria ainda mais errático, com a base depreciada de dezembro impulsionando o resultado de janeiro, apontou ele.

“Em dezembro, o comércio afundou, o comércio não vendeu”, justificou. “O mês de janeiro é um mês em que as pessoas gastam. Esse janeiro teve fatores clássicos, recebimento de férias, 13º salário, havia a expectativa de liberação do FGTS, havia o mínimo de estabilidade da massa salarial, e a inflação caindo já aumenta a tendência ao consumo. Mas depois as pessoas voltam à vida normal”, completou.

As quedas registradas em fevereiro e março mostram que não há uma tendência de recuperação extraordinária, disse. Segundo ele, antes de dizer que o PIB brasileiro vai subir é preciso esperar as informações seguintes.

“Uma série com ajuste sazonal deve ser olhada como indicador de velocidade. O consumo naquele momento teve aceleração. Vai continuar? Precisa de outro ponto. Como dezembro tinha caído, você cresceu sobre dezembro, aumenta muito (o resultado de janeiro)”, explicou.

Apesar da aparente melhora no varejo após a mudança metodológica, a entrada das informações referentes a fevereiro e março confirmam que conjuntura é a mesma, defendeu Olinto.

“A série (da Pesquisa Mensal de Comércio) no momento está perfeitamente de acordo com os fundamentos da análise econômica de curto prazo”, declarou Olinto. “Não preciso fazer ajuste sazonal para ver que há instabilidade muito alta (nas vendas)”, acrescentou.