São Paulo, 29 – O presidente da torrefadora italiana illycaffè, Andrea Illy, disse que a política de incentivo às melhores práticas agrícolas regenerativas é urgente e pode ser a melhor solução para garantir que o café consumido no mundo seja sustentável. A consideração foi feita em resposta à questão sobre a aprovação, pelo Parlamento Europeu, de uma proposta de lei que proíbe a comercialização nos países do bloco de produtos de áreas desmatadas em qualquer parte do mundo.

Andrea Illy observou que não conhece detalhes do projeto europeu, mas destacou que o aumento da produção mundial de café nas últimas décadas decorreu basicamente do aumento da produtividade. Ele citou o Brasil, maior produtor e exportador da commodity, cuja área ocupada com café, há muitos anos, tem se mantido estável em cerca de 2 milhões de hectares.

Defendeu ainda promover urgentemente a transição da agricultura convencional, de aplicação intensiva de agroquímicos, para uma atividade regenerativa, do solo e da vegetação. Ele reconheceu que os efeitos das mudanças climáticas tornaram a transformação ainda mais necessária. “Devemos pelo menos triplicar os investimentos na resiliência no cultivo do café. Os mais recentes dados disponíveis estimam US$ 350 milhões por ano em investimentos em sustentabilidade em todas as países produtores juntos, ou seja, precisaríamos de cerca de US$ 1 bilhão”, comentou.

“Para triplicar esse investimento, precisaremos de recursos financeiros extraordinários, que poderiam vir dos mercados financeiros, cada vez mais líquidos e interessados em sustentabilidade”, garantiu Illy. Segundo ele, agricultura regenerativa também permite que os produtores ofereçam serviços, dando acesso ao comércio de carbono, o que permitiria ao café e à indústria inserção e neutralização de emissões em sua cadeia de valor.

Com relação ao consumo de café no mundo, Andrea Illy avaliou que a alta inflação e o risco de recessão não devem prejudicar a demanda. “O café é produto bastante inelástico (a variação de preço não implica alteração de demanda), mas é preciso atenção no consumidor, que pode optar por cafés de qualidade inferior”, afirmou.

Illy disse que 2022 foi um ano desafiador para a empresa. De acordo com ele, os custos de produção, como energia, logística e o próprio preço do café, subiram acima da inflação, atingindo máxima histórica. As vendas, no entanto, compensaram e espera-se que 2022 termine “bem positivo”, afirmou.

O presidente da illycaffè comentou, ainda, que a atual queda dos preços internacionais do café arábica reflete em grande parte a “expectativa de boa colheita no Brasil em 2023” e que, com isso, os estoques globais devem aumentar.

Segundo ele, a cotação futura do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) a 150 centavos de dólar por libra-peso pode ser considerada “sustentável”. O contrato para março/23 fechou a segunda-feira a 162,85 centavos de dólar.