A tendência começou no Vale do Silício, o centro tecnológico dos Estados Unidos. Empresas como Google, Apple, Facebook, entre outras, passaram a incorporar em seus escritórios uma série de diversões. Em vez de elevadores entre os andares, há escorregadores. Para relaxar durante a jornada, em muitas dessas empresas os funcionários contam com jogos eletrônicos, salas de meditação e até um cantinho para tirar uma soneca. Mas é isso que os funcionários esperam encontrar no ambiente de trabalho? A resposta é: depende. As empresas certificadas pelo Top Employers possuem políticas diversas em relação a isso.

A maioria entende que é preciso humanizar o escritório, deixando o ambiente mais descontraído. Porém, é fundamental respeitar a cultura da companhia e o perfil dos funcionários. “Nada contra quem tem escritórios ‘divertidos’, mas, no nosso entendimento, isso é superficial”, afirma Sergio Piza, diretor de gente e gestão da Klabin. “O importante é ter políticas que facilitem o convívio das pessoas dentro da empresa.” Nesse quesito, as empresas certificadas preferem adotar políticas que aumentem o envolvimento emocional dos empregados.

O SAS, empresa que desenvolve sistemas de inteligência, encontrou um aliado de peso para melhorar o clima no escritório: os filhos dos funcionários. Anualmente, a companhia premia essas crianças e adolescentes, ente seis e 17 anos, com o pagamento de dois meses de mensalidade escolar, desde que elas mantenham a média oito em todas as disciplinas do ano letivo. O prêmio é entregue sempre pelo presidente do SAS na América Latina, cargo atualmente ocupado por Conrado Leister.

Respeito: segundo Tatiana Vailati, gerente da Boehringer Ingelheim, não há como inovar quando se é mal tratado dentro da empresa
Respeito: segundo Tatiana Vailati, gerente da Boehringer Ingelheim, não há como inovar quando se é mal tratado dentro da empresa (Crédito:Julio Vilela)

Trata-se de uma maneira de motivar o profissional a manter um contato constante com a família. “Pela natureza do nosso serviço, que é oferecer inteligência aos nossos clientes, precisamos garantir que nossos colaboradores consigam equilibrar a vida pessoal e o trabalho”, afirma Tato Athanase, gerente de RH da companhia. Em vez de fazer o pessoal se divertir no escritório, a empresa incentiva um enfoque maior na vida fora do expediente. Melhorar o ambiente de trabalho, muitas vezes, é mais simples do que parece.

“Essa questão se resume a duas palavras: respeito e empatia”, afirma Tatiana Vailati, gerente de desenvolvimento organizacional da farmacêutica Boehringer Ingelheim. “Somos uma empresa focada em inovação. Não há como inovar quando você se sente mal tratado.” A executiva ressalta que a Boehringer é uma empresa familiar, de capital fechado. Isso significa que a companhia possui valores enraizados, que são disseminados por toda a organização. “Dificilmente, alguém que não se enquadra em nosso modo de ser consegue ter longevidade”, diz Vailati.

Definir os valores da corporação é uma questão fundamental para manter o bom ambiente de trabalho. Nesse quesito, a média brasileira está abaixo da mundial. Segundo os dados do Top Employers, 62% das empresas certificadas no País definem formalmente uma proposição de valores aos funcionários e apenas 38% medem o impacto dessa proposta. Globalmente, esses porcentuais são de 81% e 59%, respectivamente. Recentemente, a farmacêutica AkzoNobel revisitou essa questão. O objetivo foi dar mais clareza ao propósito da companhia, que é criar produtos que tornem a vida das pessoas mais agradável. Ao reforçar esse posicionamento, a empresa facilita a criação de vínculos entre funcionários e a corporação.

“Muito do que se criou em termos de escritórios divertidos não é o estilo de uma empresa química de quase 300 anos de idade”, afirma Heder Frigo, presidente da AkzoNobel Brasil. “Aqui nós tornamos o ambiente leve com proximidade, abertura e transparência. Temos o nosso estilo e gostamos muito dele.” Nesse sentido, em termos de organização dos espaços, a companhia adota um ambiente aberto, que favoreça a comunicação entre os colaboradores. As empresas brasileiras também não são muito afeitas a eventos. Na média global, por exemplo, 89% das companhias certificadas costumam organizar eventos esportivos e 75% planejam eventos sociais para os funcionários. No Brasil, esses porcentuais são de 69% e 38%, respectivamente.

Por outro lado, 100% das organizações certificadas no País oferecem sistemas corporativos de chat ou mensagem instantânea, o que é condizente com a predileção do brasileiro, um dos povos que mais utilizam as redes sociais, pelos meios eletrônicos de comunicação. Talvez por esse motivo, também, a conversa seja uma das ferramentas mais utilizadas pelos departamentos de RH para entender as demandas dos funcionários e tornar o ambiente mais acolhedor e humano. “Às vezes é só uma questão de ouvir”, afirma Francisco Farias, diretor de RH da AkzoNobel. “Coisas simples podem ter um impacto muito maior na vida das pessoas.”

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