O plano parecia perfeito: a alemã ThyssenKrupp, grupo de € 39 bilhões de faturamento, construiu uma empresa para exportar aço aos EUA e abastecer o mercado automotivo local. Mas tudo deu errado. Depois de um investimento de € 5,2 bilhões para a sua construção, em 2006, no Rio de Janeiro, e uma série de problemas operacionais e de estouro de custos, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) acabou vendida, em fevereiro. Foram cerca de cinco anos de negociações, até que a argentina Ternium a arrematou por € 1,5 bilhão.

A CSA agora virou passado. A companhia germânica segue a vida sem a operação que era a sua maior divisão no Brasil. De um corpo de 11 mil empregados, sobraram 9 mil, e a receita anual caiu de € 2,3 bilhões (R$ 8,4 bilhões) para € 900 milhões (R$ 3,3 bilhões). O mais importante negócio voltou, então, a ser a divisão de elevadores e de esteiras rolantes, que sozinha emprega 3,8 mil pessoas e fatura R$ 1,3 bilhão no País. Trata-se de uma das mais tradicionais operações locais do conglomerado, que faz negócios por aqui desde 1837 e vendia máquinas a Dom Pedro II.

As outras três divisões presentes no País estão relacionadas a tecnologias industriais. Incluem a venda de componentes, como rolamentos industriais e sistemas para automóveis; de serviços industriais, para setores de mineração e cimenteiras; e, por fim, de serviços de materiais ferrosos ou baseados em carbono e plástico. Faz parte dessa última unidade uma fábrica que fornece peças para a Embraer. Ou seja, o potencial dos negócios está altamente dependente da atividade industrial brasileira e, no caso dos elevadores, dos projetos de construção.

“Estamos vendo uma retomada da construção no Brasil”, disse à DINHEIRO Andreas Schierenbeck, presidente do conselho executivo da ThyssenKrupp Elevator. A companhia disputa no Brasil com a suíça Atlas Schindler, a americana Otis e a coreana Hyundai Elevadores, que chegou em 2014. Se as obras de infraestrutura, como as estações de metrô que recebem esteiras rolantes da Thyssen, estão paradas depois de tantos escândalos políticos, há uma luz no fim do túnel na construção civil. Segundo dados do Secovi-SP, o sindicato da habitação de São Paulo, foram negociadas, em maio deste ano, 2.170 unidades residenciais novas, na capital paulista.

Dentro e fora: a divisão de elevadores, liderada por Schierenbeck, é a que traz mais receita para o grupo no Brasil, posição que cabia à CSA (foto) (Crédito:Tasso Marcelo)

Isso significa um crescimento de 79% em relação a abril e 105% em comparação com maio do ano passado. “O mercado já entendeu que a turbulência política não deve afetar o cenário econômico e a aprovação das reformas. Então, se espera um crescimento de 5% a 10% nas vendas e lançamentos imobiliários neste ano”, diz Flavio Amary, presidente do Secovi-SP. É uma boa notícia para o conglomerado alemão. Nos últimos dois anos, o grupo investiu R$ 450 milhões nos negócios brasileiros, desconsiderando a CSA. Desse valor, R$ 100 milhões foram direcionados para uma fábrica de tampas de cabeçotes para motores de automóveis, em Poços de Caldas (MG).

Foi criado ainda um centro de serviços no norte do País, para atender às mineradoras de Carajás, no Pará. “Era necessário para prestar manutenção em maquinário pesado das minas”, disse Giovanni Pozzoli, CEO do grupo no Brasil, em entrevista recente à DINHEIRO. Já a fábrica de elevadores em Guaíba (RS) duplicou a capacidade de produção. “Ela passou também a vender para o restante da América do Sul, para não ficar dependente só do Brasil”, afirmou Pozzoli. Por isso, tirar essa operação do Brasil não foi considerado.

“Desenvolvemos na região de Porto Alegre um conhecimento na construção de elevadores, e, além disso, o País acaba sendo um termômetro para esse mercado em toda a América Latina”, diz Schierenbeck. O Brasil representa cerca de metade dos negócios do setor de elevadores de toda a região. Poderá, no futuro, abrir mercado para um novo produto, que a empresa vende como a maior revolução do mundo dos elevadores em 165 anos. É um aparelho, lançado em junho na Alemanha, que funciona em trilhos.

Por não precisar de cabos, não tem limite de altura, e pode ser utilizado nos maiores arranha-céus. Para completar, se move também para os lados, num circuito circular, permitindo que várias cabines sejam utilizadas no mesmo poço, dando mais velocidade no embarque de pessoas. Com custo cinco vezes maior do que um elevador comum, ele exige 40% menos espaço de um prédio e promete cortar pela metade os custos de energia. A estratégia local está inteiramente alinhada com o plano mundial.

A bandeira do CEO global Heinrich Hiesinger, que assumiu em 2011, é a diversificação dos negócios. Ele liderou a saída do grupo da atuação na siderurgia, que enfrenta uma superoferta mundial de aço, depois que companhias chinesas entraram na disputa. Ele também promoveu a integração entre as diferentes operações da Thyssen. No Brasil, cada unidade tinha uma estrutura própria que respondia diretamente a executivos na matriz. Foi criado, então, em 2013, um cargo de CEO para o Brasil, que é ocupado agora por Pozzoli. E o escritório brasileiro responde pelas operações na América Latina. Mas, mesmo com essa atuação mais ampla, será fundamental uma ajuda da economia para os resultados serem positivos.