A venda da Eldorado Celulose, empresa de papel e celulose do grupo J&F dos irmãos Joesley e Wesley Batista, tem deixado muitos banqueiros de cabelo em pé. A companhia foi parar nas mãos da holandesa Paper Excellence por exagerados R$ 15 bilhões, dos quais R$ 8 bilhões são dívidas com bancos, como Banco do Brasil, Caixa e Bradesco. Até aí, não haveria motivos para pânico. Afinal, um conglomerado internacional topou assumir o passivo. Mas não é bem assim que o mercado tem acompanhado essa questão. Primeiro porque há o risco de o acordo de leniência do grupo J&F ser cancelado depois que surgiram as gravações de Joesley com o executivo Ricardo Saud. Segundo porque a Paper Excellence pertence à família indonésia Widjaja, a mesma que controla a Asian Pulp and Paper (APP), empresa que não tem uma boa reputação na Ásia.

De porta em porta

Executivos do mercado de celulose ouvidos pela coluna contam que os banqueiros brasileiros estão percorrendo os escritórios das grandes empresas do setor para saber mais sobre os novos compradores da Eldorado. O temor é o de que aconteça aqui o mesmo que ocorreu com a APP na Ásia. Durante a crise que tomou conta do continente asiático nos anos 2000, a empresa deu um calote de US$ 12 bilhões nos bancos credores. Até hoje a conta não foi paga. O receio de um calote por aqui é tão grande que o presidente de um dos grandes bancos credores falou recentemente com banqueiros japoneses, velhos conhecidos da APP, sobre o caso. Não ficou nada satisfeito com o que escutou.

(Nota publicada na Edição 1037 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Carlos Eduardo Valim)