Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), anunciou o que todo o mercado financeiro mundial esperava na quarta-feira 15. Citando um movimento lento, mas consistente, de aquecimento da economia dos Estados Unidos, o Federal Open Market Committee (Fomc, o Copom dos gringos) votou, por unanimidade, pela elevação dos juros. A taxa referencial americana, sempre divulgada em intervalos, subiu de 0,5% a 0,75% ao ano para 0,75% a 1% ao ano. A reação dos mercados americanos foi um estrondoso silêncio. O índice Dow Jones, que tem apenas ações industriais, subiu 0,5%. Já o Índice Standard & Poor’s 500 avançou 0,8%. Por aqui, a reação foi bem mais forte: o Índice Bovespa fechou em alta de 2,4%, a maior em três semanas.

Para entender a indiferença de Wall Street é preciso retroceder no tempo. Mais especificamente, voltar uma década, quando a bolha do mercado imobiliário era apenas um assunto para discussões acadêmicas. Dez anos atrás, em março de 2007, os juros americanos oscilavam entre 4,5% e 5% ao ano. Quando a bolha estourou, a reação de Ben Bernanke, antecessor de Yellen, foi reduzir as taxas para perto de zero, de modo a aliviar a pressão sobre os bancos e impedir um colapso do sistema financeiro, como o que tinha aprofundado a crise dos anos 1930.

Fazendo contas: Operadores da Bolsa de Nova York: reação fraca à alta dos juros, que já era esperada pelo mercado
Fazendo contas: Operadores da Bolsa de Nova York: reação fraca à alta dos juros, que já era esperada pelo mercado (Crédito:Drew Angerer/Getty Images/AFP)

Essa situação de juros baixos, que se imaginava temporária, durou até o fim de 2015. O principal argumento de Bernanke para adiar indefinidamente a volta ao cenário pré-crise era que a inflação estava sob controle, oscilando ao redor da meta de 2% ao ano. Nesse cenário, qualquer tentativa precipitada de elevar os juros iria aumentar as prestações pagas pelos donos de imóveis financiados e as parcelas dos cartões de crédito. Diminuindo a renda e desestimulando o consumo, esse movimento estrangularia o ainda incerto crescimento da economia.

O homem do juro baixo: Ben Bernanke, presidente do Fed e antecessor de Yellen: juros perto de zero por uma década para salvar os bancos
O homem do juro baixo: Ben Bernanke, presidente do Fed e antecessor de Yellen: juros perto de zero por uma década para salvar os bancos (Crédito:Divulgação)

Coube a Yellen revisar, gradualmente, essa estratégia. Ela iniciou a elevação de juros em dezembro de 2015, e repetiu a dose 12 meses depois, em dezembro passado. O Fomc, que ao contrário do Copom, divulga o que vai fazer antecipadamente, mantém seus prognósticos de mais duas elevações de 0,25 ponto percentual ainda neste ano, mandando as taxas para algo entre 1,25% e 1,50% em dezembro. A reação foi fraca porque, ao comentar a decisão, Yellen apenas confirmou as percepções do mercado. “A mensagem simples, que importa, é que a economia está indo bem”, disse ela. “Estamos confiantes na solidez da economia e na sua capacidade de resistir a choques.”

Yellen também confirmou os prognósticos de que é preciso, sim, subir os juros, mas vamos com calma. Apesar de o Fed ser um órgão formalmente independente, e não apenas com autonomia operacional, como o Banco Central do Brasil, ele sofre pesadas influências políticas. No caso, as do presidente Donald Trump, que conquistou uma vaga na Casa Branca prometendo crescimento econômico rápido. A estratégia de Trump para o crescimento inclui estimular as exportações, cortar impostos das empresas, desregulamentar a economia e investir na infraestrutura. Essas políticas são expansionistas, mas muito provavelmente vão estimular a inflação, forçando o Fed a subir ainda mais os juros e frustrando suas expectativas.

DIN1010-investe4Por aqui, a alta dos juros tenderia a ser um mau negócio. Ao tornar, ainda que marginalmente, os investimentos em dólares mais atraentes, a decisão do Fed drena recursos dos mercados emergentes, o Brasil entre eles. Mesmo assim, ao tornar claro que vai seguir conforme o combinado, Yellen injetou uma dose de ânimo no mercado brasileiro. “Oos agentes estavam projetando de forma exagerada o movimento de elevação”, avalia Adeodato Netto, estrategista-chefe de mercado de capitais da empresa de análise Eleven Financial. “Eles não consideraram a postura de cautela do Fed frente ao cenário de incerteza elevada na economia.”

Embora à primeira vista o fortalecimento do dólar prejudique as ações por aqui, esse efeito negativo seria mais do que compensado pelo aquecimento da economia americana, que é, direta ou indiretamente, um grande consumidor de commodities. “Nesse cenário, as ações das empresas ligadas ao setor teriam alta de preços, o que favoreceria a elevação do patamar da bolsa de valores”, diz Netto. Não por acaso, Vale PNA e Gerdau PN registraram altas de 6,75% e 5,39% respectivamente no dia do anúncio, apesar da incerteza política com a lista dos envolvidos nas investigações da Lava Jato preparada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Até o fim do ano, a média dos prognóstico do mercado para o Índice Bovespa está ao redor de 77 mil pontos, uma alta potencial de pouco mais de 17%, o que permitiria driblar tanto a redução da Selic quanto a economia ainda em marcha lenta.