O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, afirmou nesta quinta-feira durante uma visita à Turquia, que o futuro do presidente sírio, Bashar al-Assad, “será decidido pelo povo sírio”, no primeiro posicionamento público do novo governo dos Estados Unidos a este respeito.

“O futuro do presidente Assad, a longo prazo, será decidido pelo povo sírio”, declarou Tillerson durante uma coletiva de imprensa em Ancara com seu colega turco Mevlüt Cavusoglu.

Rex Tillerson iniciou nesta quinta sua primeira visita a Turquia, que pretende estabelecer boas relações com o governo de Donald Trump apesar das persistentes divergências a respeito da Síria.

Até o presente momento, a administração Trump não havia dados sinais concretos sobre seu envolvimento nos esforços diplomáticos para resolver o conflito que devasta a Síria há seis anos e que já fez mais de 310.000 mortos.

A guerra também fez mais de 5 milhões de refugiados, segundo dados atualizados pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).

O número de refugiados fugindo da Síria acelerou no início do ano, atingindo 5.018.167 até 23 de março, de acordo com as estatísticas compiladas pelo Acnur.

Tillerson, a principal autoridade americana a viajar para a Turquia desde que Donald Trump chegou à Casa Branca em janeiro, se reuniu durante a manhã com o primeiro-ministro Binali Yildirim em Ancara, antes de um encontro com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

A oposição síria exige a saída de Assad, assim como o fez por muito tempo a administração de Barack Obama.

– Milícias da discórdia –

Autoridades dos dois países, aliados na Otan, afirmaram que Tillerson e seus interlocutores turcos abordaram, entre outros temas, a guerra da Síria, na qual tanto Ancara como Washington estão envolvidos.

Fontes do governo turco indicaram que Erdogan insistiu sobre a necessidade de cooperar “com atores convenientes e legítimos na luta contra o terrorismo”.

A Turquia denuncia com frequência o apoio dos Estados Unidos às milícias curdas YPG, que lutam contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria.

O governo turco considera estas forças curdas um grupo terrorista relacionado com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

O tema, que provocou tensões entre os dois países durante o governo do ex-presidente Barack Obama, continua sendo uma preocupação para a Turquia, que solicitou diversas vezes o fim da colaboração de Washington com as YPG.

Tillerson se esquivou de várias perguntas a este respeito. Elogiando a Turquia como “um parceiro chave” na luta contra o EI, ele afirmou que os dois países compartilham o mesmo objetivo: “vencer o EI”.

Ancara afirma querer trabalhar com seus aliados, mas sem os curdos, na reconquista de Raqa, capital do EI na Síria.

“Não é realista trabalhar com um grupo terrorista lutando contra um outro”, reclamou Cavusoglu.

A Turquia anunciou na quarta-feira à noite o fim de sua operação “Escudo de Eufrates” no norte da Síria, sem indicar se as tropas turcas vão se retirar ou não do país vizinho.

Como parte dessa operação, os rebeldes sírios apoiados pela Turquia retomaram das mãos dos extremistas islâmicos várias cidades, incluindo Jarablos, Al-Rai, Dabiq e, finalmente, Al-Bab, onde o exército turco sofreu pesadas perdas.

Mas a Turquia se absteve de lançar ataques contra cidades controladas pelas milícias curdas, dissuadida pelas alianças que estabeleceram com Washington e Moscou.

“A política turca em relação às milícias curdas está em um impasse. Suas mãos estão atadas por causa dessas alianças e seus esforços chocaram-se em um muro russo-americano-sírio”, disse à AFP o especialista Marc Pierini, professor visitante na Universidade Carnegie Europa.