A indústria aeronáutica se reúne a partir desta segunda-feira no salão de Farnborough, com clima de otimismo reforçado pelos anúncios comerciais da Airbus e Boeing, refletindo a boa saúde do setor, apesar do Brexit.

A concorrência habitual entre as duas gigantes do setor para conquistar o máximo de contratos marcou o tom da abertura do evento, em uma região perto de Londres, mas os profissionais também estavam atentos à política, a menos de nove meses da data prevista para o Reino Unido deixar a União Europeia (UE).

A primeira-ministra britânica, Theresa May, participou da abertura do salão e lembrou que o Reino Unido pretende ser “um dos melhores países para as empresas aeronáuticas e um líder mundial em inovação” no setor aéreo, apesar da incerteza pela aparição de novas barreiras comerciais depois do Brexit.

May também anunciou a construção de um novo avião de combate, por meio de um projeto conjunto entre os grupos britânicos BAE e Rolls Royce, o italiano Leonardo e o fabricante europeu de mísseis MBDA. O projeto vai exigir investimentos de 2 bilhões de libras.

Além disso, May se reuniu com o presidente da Airbus, Tom Enders. Ele tinha alertado em várias ocasiões sobre os riscos de um “Brexit duro” para o gigante europeu da aviação, forçando-o até mesmo a suspender seus investimentos no Reino Unido, onde fabrica as asas dos aviões.

Nas primeiras horas do salão de Farnborough, o grupo americano Boeing anunciou uma encomenda de 14 aviões do modelo 777 para a companhia de transportes DHL por 4,7 bilhões de dólares.

A Airbus, sua concorrente europeia, respondeu tornando pública a encomenda de 27 aviões A350 da chinesa Sichuan Airlines e a taiwanesa Starlux.

As duas grandes fabricantes também informaram sobre importantes operações nos modelos de media distância, com a venda de 30 Boeings 737 MAX para o grupo Jackson Square Aviation (por 3,5 bilhões de dólares) e 50 A320 (por 5,5 bilhões).

Já a fabricante brasileira Embraer recebeu uma encomenda de 25 jatos E175 de 70 assentos da americana United Airlines, avaliados em 1,1 bilhão de dólares a preço de catálogo, para começar a entregar no segundo trimestre de 2019, informou o grupo em um comunicado sobre este contrato assinado em Farnborough.

– Guerra comercial –

Esses anúncios refletem a boa saúde da indústria aérea, cujo faturamento dobrará nos próximos 20 anos.

“Continuamos a ver o crescimento do mercado aéreo de uma maneira muito importante”, disse o presidente da Boeing, Dennis Muilenburg, neste domingo, que disse que “eles reavaliaram suas previsões para os próximos 20 anos”.

Em suas previsões divulgadas na semana passada, a Airbus prevê que serão necessárias 37.390 novas aeronaves no valor de 5,8 trilhões de dólares nos próximos 20 anos.

A Airbus estima que em 2037 haverá uma frota mundial de 48.000 aeronaves, após um crescimento anual do tráfego aéreo de 4,4%.

A Boeing publicará suas previsões detalhadas na terça-feira, no segundo dia do salão de Farnborough.

A Airbus e a Boeing saem mais fortes de sua rivalidade e seu domínio de mercado aumentou graças às suas alianças com concorrentes menores – com a canadense Bombardier e com a brasileira Embraer, respectivamente.

Anunciada em outubro, a importante aliança entre a Airbus e a Bombardier entrou em vigor no início de julho. Esses dois grupos esperam vender “pelo menos 3.000 aeronaves” nos próximos anos, o que representaria 50% do mercado.

A Boeing anunciou um acordo com a Embraer, que entrará em vigor em 2019, para assumir todas as atividades civis desse fabricante brasileiro, em troca de 3,8 bilhões de dólares.

Apesar das boas perspectivas, a patronal do setor aéreo expressou suas dúvidas sobre a incerteza do Brexit e a ameaça de uma guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.

“O setor aeronáutico se beneficia do comércio mundial, do comércio livre e aberto”, afirmou o presidente da Boeing.