Consolida-se por esses dias a conta, dramática e insustentável, do populismo autoritário que dominou a Venezuela. Não bastaram as cenas de supermercados e farmácias sem produtos para entregar e filas homéricas de consumidores ávidos por bens essenciais. Não foram suficientes os protestos nas ruas e pedidos de socorro ao mundo para barrar essa marcha da insensatez. Contra a ditadura repugnante do Governo, que não consegue mais apoios nem anunciando congelamento de preços e aumento generoso de salário mínimo, só resta a intervenção de forças externas.

A diplomacia esgotou os argumentos. Empresas batem em retirada. Na semana passada foi a General Motors quem anunciou a saída daquele mercado. Quase não resta mais produção local e o que sobrou industrialmente, como a estatal do petróleo, está sendo usado para os fins nada republicanos do estafeta do caudilho Chávez, Nicolás Maduro. O povo percebeu que as promessas enganosas de seus líderes quebraram o País. A rotina é sofrida e asfixiante. Como tática abominável para prorrogar o regime impopular, Maduro quer reescrever a Constituição na marra.

Pretende convocar o que chama de forças do “estado comunitário” para a formação da Assembleia Constituinte. Leia-se ONGs e grupos sociais leais ao Governo, subvencionados por dinheiro do Estado. E nessa toada, o desfecho da situação venezuelana encerra muitas lições para os brasileiros. Provavelmente, seria um roteiro muito semelhante o que seguiríamos caso vingasse o plano continental do petista Lula que sucumbiu ante a queda da pupila Dilma, depois que ficou clara a débâcle de sua gestão econômica. Maduro engendra um golpe. Deseja, como definiu o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, uma lei máxima que valide seus ditames.

A ruptura social está por um fio. Maduro quer canalizar os recursos do petróleo e toda a riqueza que ainda resta por ali para um sistema de “conselhos comunitários” que assumiriam os papéis hoje desempenhados pela assembleia nacional, pelos governadores e pelos prefeitos. Será, caso levado adiante, uma espécie de dissolução de todas as forças contrárias a ele. Apoiadores, apaniguados, aliados e simpatizantes assumirão o controle dos recursos estatais para usar como bem entender, dando margem a um esquema de corrupção sem fim, como vingou por essas paragens.

Analistas são unânimes em apontar que a democracia já não mais existe naquela nação. Maduro tenta adiar eleições estaduais e quer, se possível, fazer o mesmo com as eleições presidenciais previstas para 2018, buscando a quase perpetuação no poder de seu partido. A Venezuela já se transformou num pária da região, banida do Mercosul por suas práticas, e agora coloca seu povo em estado de absoluta beligerância sem ter a quem recorrer.

(Nota publicada na Edição 1017 da Revista Dinheiro)