As aguardadas negociações do Brexit começaram nesta segunda-feira, entre a União Europeia (UE) e um fragilizado governo britânico, com a intenção de conversas “construtivas” sobre a primeira saída, prevista para março de 2019, de um país em seis décadas de projeto europeu.

“Hoje iniciamos as negociações para a saída ordenada do Reino Unido da União Europeia”, afirmou o negociador europeu, o francês Michel Barnier, que recebeu com um aperto de mãos na sede da Comissão Europeia o ministro britânico David Davis.

Os dois expressaram o desejo de conversações “construtivas”, mas as primeiras palavras de ambos deram a entender que as prioridades são diferentes: a conta a pagar por Londres e os direitos dos cidadãos para Barnier; o futuro marco legal das relações para o britânico.

Davis falou sobre sua determinação a “construir uma forte e especial relação” entre ambos, em referência ao futuro marco legal, que poderia incluir um acordo de livre comércio, o que Londres deseja negociar de modo paralelo ao divórcio.

Mas Barnier anunciou que o objetivo dos 27 países da UE é enfrentar “as incertezas geradas pelo Brexit”, para “os cidadãos, os beneficiários das políticas da UE e nas fronteiras, especialmente a Irlanda”.

Mais de nove meses após o terremoto provocado pela vitória do Brexit no referendo, a primeira-ministra britânica, Theresa May, ativou em 29 de março a contagem regressiva de doi anos para a saída do bloco.

Os negociadores precisam trabalhar a partir de agora para que a saída do primeiro país do bloco, nascido dos escombros da Segunda Guerra Mundial, aconteça, com ou sem acordo.

A chefe de Governo da Alemanha, Angela Merkel, desejou um “bom acordo” para as duas partes, mas destacou que os 27 “formularão seus interesses de maneira muito clara e, com sorte, juntos”.

– Prioridades e calendário –

Apesar das divergências, os britânicos parecem ter aceitado a abordagem europeia, pois as negociações devem começar de acordo com a sequência definida pela UE.

O Reino Unido deseja discutir de modo paralelo ao divórcio o futuro das relações com seus ainda sócios, mas os europeus descartam falar sobre o pós-Brexit antes de avançar em suas prioridades no processo de separação.

A conta a ser paga por Londres pelos compromissos assumidos com os 27 países do bloco, que segundo estimativas pode chegar a 100 bilhões de euros, e os direitos de centenas de milhares de europeus no Reino Unido e vice-versa são consideradas as questões mais delicadas.

O primeiro dia de discussões será dedicado à organização prática das negociações.

“Espero que possamos identificar prioridades e um calendário”, disse Barnier.

O ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, um dos líderes do Brexit no referendo, expressou otimismo nesta segunda-feira.

“Acredito que todo o processo levará a uma resolução feliz, que pode ser alcançada com honra e benefício para ambas as partes”, disse Johnson, para quem “o mais importante é olhar para o futuro”.

Mas a incerteza persiste em Bruxelas, depois que a primeira-ministra britânica perdeu a maioria parlamentar em uma eleição antecipada convocada justamente para tentar reforçar sua posição nas negociações do Brexit.

May passou meses insistindo que nada mudaria sua intenção de reduzir a migração e que estava disposta a deixar o mercado único europeu, a união alfandegária e todas as instituições europeias, com o objetivo de controlar suas fronteiras.

Mas no dia 8 de junho, os eleitores britânicos acabaram com sua maioria absoluta no Parlamento, o futuro de May é incerto, a libra não se recuperou do susto com o referendo do ano passado, a inflação está em alta e a confiança dos consumidores em queda.

May, que em várias oportunidades afirmou que preferia “nenhum acordo a um acordo ruim” com a UE, terá a oportunidade de explicar seus planos em uma reunião do bloco prevista para o fim de semana em Bruxelas.